White Stripes: os últimos dos clássicos

A viagem proporcionada por Greatest Hits é especialmente reveladora: modernos e anacrónicos, primitivos e arrojados, clássicos a subverter o classicismo rock’n’roll.

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Os últimos de uma linhagem de clássicos Pieter M van Hattem

A dualidade em que se fundaram os White Stripes, essa que modelou toda a música e o imaginário que projectaram, esteve presente desde o início. Let’s shake hands, o primeiro single, editado em 1998, é uma canção crua e zangada, garage-rock reduzido a riff distorcido e ritmo primitivo. Uma fúria feita dança rock’n’roll feliz, libertadora, mas uma fúria em que se pede, candidamente, “let’s shake hands”. Os White Stripes, a banda do guitarrista e faz-tudo Jack White, músico virtuoso, e da baterista e não-é-preciso-nada-mais Meg White, música certamente não virtuosa (e não precisávamos que fosse), construíram-se num curioso jogo de contrastes: o preto, vermelho e branco como cores exclusivas da sua iconografia; os arcaísmos de linguagem, tão prezados por Jack White, que dedicou Elephant, o álbum da explosão de popularidade, em 2003, à “morte da ‘sweetheart’”, mas que eram utilizados em música que representava uma renovada vitalidade e um irreprimível sentido de presente; as formas clássicas do blues e do rock’n’roll como fundamento de toda a música, mas contrapostos pela forma como, uma vez após outra, os White se dedicavam a subverter essa base, quer na estranheza da composição (a lullaby assombrada por pesadelos noise rock de The nurse; a tétrica opereta pós-punk de I think I smell a rat), quer na manipulação das fontes sonoras (à medida que a discografia avançou, guitarras começaram a soar a baixo distorcido ou a teclados sibilantes, enquanto teclados faziam as vezes de guitarras ruidosas).

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A dualidade em que se fundaram os White Stripes, essa que modelou toda a música e o imaginário que projectaram, esteve presente desde o início. Let’s shake hands, o primeiro single, editado em 1998, é uma canção crua e zangada, garage-rock reduzido a riff distorcido e ritmo primitivo. Uma fúria feita dança rock’n’roll feliz, libertadora, mas uma fúria em que se pede, candidamente, “let’s shake hands”. Os White Stripes, a banda do guitarrista e faz-tudo Jack White, músico virtuoso, e da baterista e não-é-preciso-nada-mais Meg White, música certamente não virtuosa (e não precisávamos que fosse), construíram-se num curioso jogo de contrastes: o preto, vermelho e branco como cores exclusivas da sua iconografia; os arcaísmos de linguagem, tão prezados por Jack White, que dedicou Elephant, o álbum da explosão de popularidade, em 2003, à “morte da ‘sweetheart’”, mas que eram utilizados em música que representava uma renovada vitalidade e um irreprimível sentido de presente; as formas clássicas do blues e do rock’n’roll como fundamento de toda a música, mas contrapostos pela forma como, uma vez após outra, os White se dedicavam a subverter essa base, quer na estranheza da composição (a lullaby assombrada por pesadelos noise rock de The nurse; a tétrica opereta pós-punk de I think I smell a rat), quer na manipulação das fontes sonoras (à medida que a discografia avançou, guitarras começaram a soar a baixo distorcido ou a teclados sibilantes, enquanto teclados faziam as vezes de guitarras ruidosas).