Google Stadia: tecnologia ao céu, catálogo por terra

Jogar produções massivas sem a obrigatoriedade de possuir hardware condizente é uma proposta aliciante, tal como é a conveniência das sessões entre dispositivos através do Stadia. Contudo, a plataforma da Google chega com um catálogo frágil e deixa várias perguntas por responder.

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Phil Harrison, vice-presidente da Google, na apresentação do Stadia em São Francisco, Março 2019 Stephen Lam/Reuters

A cena dos videojogos está repleta de novidades. Além das obras chegadas depois de produções colossais, a Sony e a Microsoft estão apostadas em adornar os ecrãs com a PlayStation 5 e a Xbox Series, respectivamente. A Google pretende o oposto, ou seja, proporcionar experiências de entretenimento interactivo com o menor hardware possível graças à plataforma Stadia, que está disponível em Portugal desde o dia 7 de Dezembro — mais de um ano após ter chegado aos primeiros mercados.

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A cena dos videojogos está repleta de novidades. Além das obras chegadas depois de produções colossais, a Sony e a Microsoft estão apostadas em adornar os ecrãs com a PlayStation 5 e a Xbox Series, respectivamente. A Google pretende o oposto, ou seja, proporcionar experiências de entretenimento interactivo com o menor hardware possível graças à plataforma Stadia, que está disponível em Portugal desde o dia 7 de Dezembro — mais de um ano após ter chegado aos primeiros mercados.

O intuito do produto tem tanto de simples como de fascinante. Sem a necessidade de comprar hardware dedicado, é possível jogar diversos títulos nos telemóveis, computadores e tablets compatíveis. Não há transferências de ficheiros e respectivas instalações e o processamento computacional é realizado nos servidores da Google. Basta iniciar sessão com a conta do Gmail e uma ligação de internet estável — 10 mbps é a velocidade mínima.

Nos computadores, o Stadia exige o Chrome como browser e nos dispositivos móveis é preciso descarregar a aplicação, tudo assente em processos simplificados. Além da opção gratuita que garante uma obra grátis por mês (neste momento estão disponíveis Destiny 2 e Super Bomberman R Online)há a subscrição Stadia Pro por 9,99 euros mensais e um catálogo de onde é possível comprar títulos avulso. Antes da tecnologia robusta, falemos de um catálogo frágil.

Stadia Pró(ximo de ser Pro)

O catálogo da versão paga não é propriamente forte. Há videojogos que marcaram o mercado, sim, mas há meses ou anos. Além do já mencionado Destiny 2, também Sniper Elite 4, Hitman 2 e Hitman — The Complete First Season conseguem proporcionar bons momentos. E há “indies” obrigatórios, como Superhot, Dead by Daylight, Into the Breach, Celeste, SteamWorld Heist e SteamWorld Dig (1 e 2). E recentemente foi adicionada a Breakthrough Edition de PlayerUnknown's Battlegrounds.

Ainda que encontremos destaques por experimentar, conseguimos descobrir obras merecedoras de pagamento a médio prazo? Neste momento, provavelmente não. Porém, a justificação pode ser técnica: os membros Stadia Pro têm benesses como ofertas especiais e funcionalidades exclusivas; a resolução 4K é um exclusivo dos utilizadores Pro; e o suporte para HDR e som Surround 5.1 também precisa de uma subscrição activa.

Bazar digital e tradicional

Alguns dos grandes nomes actuais não estão no Stadia Pro, mas numa loja digital assente nos moldes tradicionais da indústria. Cyberpunk 2077 está disponível no Stadia por 59,99 euros. Immortals Fenyx Rising também, desde que sejam pagos 69,99 euros. Assassin's Creed Valhalla pode ser nosso por 69,99 euros e o acesso antecipado de Baldur’s Gate 3 é uma compra de 59,99 euros. Watch Dogs: Legion (69,99 euros), Red Dead Redemption 2 (59,99 euros) e Star Wars Jedi: Fallen Order (69,99 euros) são outros títulos de renome que marcam presença.

A primeira compra tem um desconto de 10 euros, mas torna-se evidente que, no geral, são os preços aplicados noutras frentes digitais. Há aliciantes para a aquisição de jogos no Stadia em detrimento das versões publicadas na Epic Games Store ou no Steam, por exemplo. Não há espaço ocupado em disco e não é preciso lidar com actualizações. É uma solução para quem não tiver hardware dedicado, mas há inequívocos entraves.

O Google Stadia chega ao mercado quando as restantes plataformas já estão instaladas. Haverá invariavelmente atrito na hora de começar uma biblioteca digital na proposta da Google, mesmo que alguns títulos suportem a funcionalidade “cross-play”, é pedido aos jogadores que acumularam anos na PlayStation, na Xbox ou no PC, por exemplo, que comecem praticamente do zero. Para muitos, os videojogos são tidos como avenidas de confraternização social e aceder a uma lista de amigos vazia não será uma visão fácil de digerir.

São incontáveis os videojogos de renome que ainda não chegaram ao Stadia. E outros têm preços desmedidos. Quem, exactamente, é que vai comprar Borderlands 3, obra que chegou ao mercado há mais de um ano, por 59,99 euros? Neste momento, a Epic Games Store e o Steam têm o jogo da Gearbox Software disponível por 19,79 euros (graças a 67% de desconto). Ou quem é que vai achar os 69,99 euros pedidos por F1 2020 uma boa proposta? Ou os 39,99 euros pedidos por GRID?

Jogar a quilómetros e quilómetros de distância

Testado com uma ligação por cabo com aproximadamente 700 mbps de download e 210 mbps de upload, o Google Stadia teve uma performance assinalável. Condições ideais, é verdade, mas o arranque dos jogos é rápido, mesmo o de colossos como Destiny 2. E durante as sessões de jogo não se verificaram quebras assinaláveis na framerate nem cortes na ligação aos servidores. É aqui que está verdadeiramente o teste ao que o Stadia pode fazer pelos videojogos.

A comodidade está também na forma como rapidamente e sem falhas foi possível começar a jogar, por exemplo, Monster Jam Steel Titans (um jogo que pouco tem de recomendável) no Chrome e continuar no telemóvel. Outra das obras testadas, GYLT, (produzida pela casa espanhola Tequila Works e publicado em exclusivo no Stadia) também funcionou sem um único deslize. Na imersão do jogo, a performance é suficientemente boa para que nos esqueçamos que estamos a jogar um título que está a ser executado noutro sítio que não a nossa máquina.

Podemos conectar um comando compatível — PlayStation ou Xbox, por exemplo — para experimentar as obras, algo imprescindível se se tratar de um telemóvel. Sem um comando ligado, o jogo exibe uma representação digital dos botões, mas é pouco mais do que funcional, mesmo num dispositivo com um generoso ecrã de 6,67 polegadas, onde o Stadia foi testado. Os botões digitais, ainda que possam ter contornos pouco delineados, não estorvam o que se passa na área de jogo. É uma solução que exige um período de habituação e que dificilmente substituirá um comando físico, onde a disposição destes botões é natural e intuitiva.

No telemóvel a performance também foi consistente, mesmo numa ligação wi-fi (aproximadamente 300 mbps de download e 200 mbps de upload). Aliás, testemunhar alguns colossos com uma boa fidelidade gráfica a correrem num hardware que também faz chamadas merece ser contemplado. Invariavelmente, este encantamento é parcialmente dissipado após algumas horas, quando o tamanho e a qualidade do ecrã não têm argumentos para competir com um televisor 4K.

Sem qualquer surpresa, este tipo de comunicação contínua entre dispositivos e servidores consome muitos dados. Na aplicação é afirmado que o tráfego pode chegar aos 12.6 GB por hora numa resolução 1080p. E há a opção para desactivar o consumo de dados quando não existir ligação a uma rede Wi-Fi. Jogar Stadia em 4G não é recomendável com a maioria dos tarifários que vigoram em Portugal.

Um conceito à espera do teste do tempo

A Google pode ser um dos rostos mais visíveis desta evolução dos videojogos, mas não é a única. A Sony tem o PlayStation Now e a Microsoft propõe o Cloud Gaming com o Xbox Game Pass. É muito provável que os videojogos — ou uma parte — passe pela computação e pela transmissão através da nuvem. Se o Stadia ganhar tracção é expectável que as restantes gigantes tecnológicas joguem os trunfos das infra-estruturas que estão continuamente a ser trabalhadas.

É inegável a comodidade do Stadia, tal como é aliciante a proposta de aceder a obras tecnicamente exigentes sem ter que pagar pelo hardware. Mas faltam jogos e razões que o edifiquem ao lado da Microsoft, Nintendo e Sony, ao lado da solidez que anos e anos de experiência carimbam o PC. E sobre o estado do Stadia em Portugal, o serviço foi oficialmente lançado, mas o comando próprio e o Chromecast Ultra (permite jogar em qualquer televisão) não podem ser comprados na loja oficial.

Nos meus testes, a ligação funcionou bastante bem, mas a Internet é volátil. Estar completamente dependente de uma transmissão é estar exposto a soluços técnicos. A Google também falha, como ficou evidente recentemente quando, entre outros, Gmail, Google Drive e YouTube estiveram inacessíveis durante vários minutos. A Google precisa de convencer a comunidade de que este é o bilhete para um comboio em direcção ao futuro — e neste momento essa estação não parece estar totalmente construída.

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