Gastar menos em eleições é bom, mas pode não ser mais democrático
Cada voto conquistado [por Marcelo Rebelo de Sousa em 2016] custou-lhe apenas sete cêntimos. Dez anos antes, Cavaco Silva tinha gasto 1,16 euros por cada eleitor conquistado.
Em ano de pandemia, é bom saber que as presidenciais de 2021 deverão ficar para a história como as menos dispendiosas de sempre. Em geral, todos candidatos perceberam que vivemos tempos atípicos em que menos é mais. Menos contactos e proximidade física é mais protecção, menos brindes é mais segurança e menos viagens é mais uma garantia de que não se dá boleia ao vírus. Até menos conversa pode significar (mas não necessariamente) que a qualidade do discurso é melhor, mais reflectida e ponderada.
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Em ano de pandemia, é bom saber que as presidenciais de 2021 deverão ficar para a história como as menos dispendiosas de sempre. Em geral, todos candidatos perceberam que vivemos tempos atípicos em que menos é mais. Menos contactos e proximidade física é mais protecção, menos brindes é mais segurança e menos viagens é mais uma garantia de que não se dá boleia ao vírus. Até menos conversa pode significar (mas não necessariamente) que a qualidade do discurso é melhor, mais reflectida e ponderada.
Só um dos candidatos às eleições de 2016 gastou mais — e já nem sequer me estou a referir a previsões — do que o total dos seis candidatos de 2020 que já revelaram os seus orçamentos de campanha. Vitorino Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, Tiago Mayan Gonçalves, Ana Gomes, André Ventura e João Ferreira tencionam investir pouco mais de 740 mil euros nas suas campanhas. Há cinco anos, só Sampaio da Nóvoa gastou mais de 924 mil euros, logo seguido de Marisa Matias (601 mil) e de Edgar Silva (581 mil).
Todos se recordam que nenhum deles ganhou as eleições e que foi Marcelo Rebelo de Sousa, que apresentou despesas de 179.507,85 euros, a protagonizar a candidatura presidencial vencedora mais barata desde que a Entidade das Contas e Financiamentos Políticos existe. Cada voto conquistado custou-lhe apenas sete cêntimos. Dez anos antes, Cavaco Silva tinha gasto 1,16 euros por cada eleitor conquistado.
Congratulo-me, então, por haver o cuidado, por parte dos candidatos, de controlar os gastos num ano em que tantos portugueses perderam rendimentos, empregos e qualidade de vida. Em que são precisos tantos milhões para apoiar quem está em layoff, quem tem de prestar assistência à família ou quem viu o seu pequeno ou micro negócio esboroar-se.
Não posso, contudo, deixar de notar que esta pode ser uma questão falaciosa. Porque a democracia não é uma coisa barata. E é óbvio que o repetente professor e ex-comentador Marcelo Rebelo de Sousa, que liderou um dos mais influentes partidos portugueses, nunca precisaria de se esforçar tanto para se dar a conhecer como o estreante Tiago Mayan Gonçalves, dirigente da Iniciativa Liberal, que elegeu pela primeira vez um deputado em 2019.
Além disso, organizar as eleições em pandemia, só por si, já vai representar um aumento de custos: a aquisição de material de apoio e de protecção individual à covid-19 vai custar 470 mil euros e ainda há que contabilizar o pagamento aos elementos que estarão nas mesas de votos e que este ano serão mais 14 mil do que habitualmente.