A Neverland de Michael Jackson foi vendida por 18 milhões de euros

Propriedade foi deixada por Michael Jackson após o julgamento de 2005. Em 2008, um ano antes da sua morte, o cantor entregou o rancho à financeira que detinha o empréstimo.

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O famoso Rancho Neverland de Michael Jackson, na Califórnia, foi, por fim, vendido — e por menos de um quarto do preço inicialmente pedido: custou 22 milhões de dólares (18 milhões de euros) contra os cem milhões pedidos em 2015, não obstante o valor da sua avaliação, um ano antes, ter sido inferior. Em 2017, o preço acabaria por ser revisto em baixa: 67 milhões de dólares (55 milhões de euros).

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O famoso Rancho Neverland de Michael Jackson, na Califórnia, foi, por fim, vendido — e por menos de um quarto do preço inicialmente pedido: custou 22 milhões de dólares (18 milhões de euros) contra os cem milhões pedidos em 2015, não obstante o valor da sua avaliação, um ano antes, ter sido inferior. Em 2017, o preço acabaria por ser revisto em baixa: 67 milhões de dólares (55 milhões de euros).

A propriedade, de 1090 hectares, foi deixada pelo músico depois de a mesma ter sido associada aos casos de abuso sexual de menores pelos quais o rei da pop foi julgado e absolvido. Entre as acusações constava uma de tentativa de rapto de menor. No entanto, a decisão do júri não impediu que o outrora rei perdesse a coroa: problemas financeiros acabariam por ditar que o músico se visse obrigado a entregar, em 2008, o rancho à Colony Capital LLC, que detinha um empréstimo sobre o lote.

Mas, nessa altura Michael Jackson já não vivia em Neverland, nome adoptado da história de Peter Pan, de J. M. Barrie, ​sobre um rapaz que se recusa a crescer, e onde havia um jardim zoológico e um parque temático, pelo qual se podia até passear num comboio. Aliás, após o julgamento, ao longo do qual foram relatados casos de abusos na Neverland, o artista prometeu nunca mais voltar à propriedade.

Agora, a quinta, entretanto rebaptizada de Sycamore Valley Ranch, passou para as mãos de um investidor multimilionário, accionista maioritário da Soho House, um clube privado (cujos membros são famosos das indústrias do entretenimento e dos media) e que tem propriedades em Nova Iorque, Londres, Los Angeles e Hong Kong. Ron Burkle, um antigo amigo da família Jackson, comprou a propriedade, confirmou o seu porta-voz no fim da semana passada.

A mesma fonte disse, segundo a Reuters, que o homem de negócios via o investimento como uma oportunidade e que terá tomado a decisão quando avistou a propriedade durante um voo de prospecção à região, enquanto procurava outro local. Depois disso, Burkle contactou Tom Barrack, o fundador da empresa de investimento imobiliário Colony Capital LLC, e finalizou o processo. 

Jackson morreu, ​em 2009, de overdose de propofol e benzodiazepina. Tinha 50 anos. Em 2011, o médico particular que o acompanhava, Conrad Murray, foi julgado e condenado a quatro anos de prisão por homicídio involuntário.

Um julgamento sem fim

Michael Jackson foi acusado, em 2004, de dez crimes: cinco de abuso sexual de um menor (um deles na forma de tentativa), quatro de administração de bebidas alcoólicas a menores e um de conspiração e tentativa de rapto de um menor. O caso foi a julgamento e tornou-se num dos mais mediáticos de 2005. A tal ponto que a leitura do veredicto foi transmitida via áudio para o exterior da sala. A sua absolvição foi conseguida não por ter ficado provada a sua inocência, mas por existir “dúvida razoável” sobre a sua culpa. Ainda assim, o ambiente das ruas foi de festa: confetes e garrafas de champanhe, gritos e choros emocionados, orações e cânticos. Porém, a história não ficou por aqui.

Em 2016, veio a público a existência de um documento, descrito e apresentado como um relatório policial de 2003, que indicava que, no seu famoso rancho, o músico tinha pornografia e material que incluía nudez infantil ou adolescente. Mas foi em Março de 2019, dez anos depois da sua morte, que o cantor sofreu o mais forte abalo, com a estreia do documentário Leaving Neverland, de Dan Reed e com o selo HBO, com os relatos de Wade Robson e James Safechuck. No filme, os dois homens descrevem os abusos sexuais que dizem ter sofrido em crianças junto de Michael Jackson, e, pela primeira vez, o mundo rendeu-se à possibilidade de o cantor não ser inocente: a música de Jackson foi inclusive banida das playlists de algumas rádios. É que os relatos chegaram numa altura em que movimento #MeToo revalorizou a credibilidade das vítimas de assédio e crimes sexuais junto da opinião pública, desencadeando alguns processos judiciais contra homens célebres e poderosos como Harvey Weinstein ou Kevin Spacey

​Na altura, a família Jackson e os gestores do legado Michael Jackson negaram e condenaram veementemente as acusações descritas no documentário como um “linchamento público” e processaram a HBO em cem milhões de dólares.​ Este mês, um tribunal de recurso deu razão aos queixosos, tendo em conta que o filme violou uma cláusula de um filme-concerto de 1992 da digressão Dangerous.