O primeiro dia correu bem. Ponto final

Se por cá a campanha não foi adiada por problemas informáticos como na Holanda ou não houve dúvidas sobre a temperatura de conservação das vacinas como na Alemanha e se, pelo contrário, tudo correu como num “ballet russo”, não faz sentido inventar problemas e cavar polémicas onde elas não existem

As primeiras vacinas contra a covid-19 chegaram a horas a Portugal. Foram distribuídas a horas aos hospitais, começaram a ser ministradas a horas aos profissionais de saúde que, por escolha a meio caminho entre a medicina e a política, foram seleccionados como o primeiro alvo da campanha. Durante a manhã deste domingo, as metas estabelecidas foram cumpridas e no São João, no Porto, por volta da hora do almoço havia já 500 profissionais vacinados, quando a expectativa inicial era de 400. Estava, portanto, tudo a correr com “a eficiência de um ballet russo”, como desejara ao PÚBLICO Pedro Soares, médico desse centro hospitalar? Não. Houve dois problemas gravíssimos: a escolha da primeira pessoa a ser vacinada e a presença no acto da ministra da Saúde, Marta Temido.

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As primeiras vacinas contra a covid-19 chegaram a horas a Portugal. Foram distribuídas a horas aos hospitais, começaram a ser ministradas a horas aos profissionais de saúde que, por escolha a meio caminho entre a medicina e a política, foram seleccionados como o primeiro alvo da campanha. Durante a manhã deste domingo, as metas estabelecidas foram cumpridas e no São João, no Porto, por volta da hora do almoço havia já 500 profissionais vacinados, quando a expectativa inicial era de 400. Estava, portanto, tudo a correr com “a eficiência de um ballet russo”, como desejara ao PÚBLICO Pedro Soares, médico desse centro hospitalar? Não. Houve dois problemas gravíssimos: a escolha da primeira pessoa a ser vacinada e a presença no acto da ministra da Saúde, Marta Temido.

Que andamos todos ansiosos, é sabido. Que os nervos e a ansiedade nos tornam impacientes, é humano. Que o clima geral tende a fomentar todo o tipo de ressabiamentos, faz parte da vida. Mas há momentos em que o negativismo das críticas deixa de ser compreensível e entra na categoria do negacionismo que nos impede de perceber na penumbra o que, de facto, pode ter alguma luz. Ou seja, que nos proíbe de aplicar a razão. Se a vacina é para profissionais de Saúde, por que não poderia um director de serviços com 65 anos (o mesmo se poderia dizer de uma enfermeira da mesma idade) ser o rosto que simboliza o arranque da campanha? Sendo o momento crucial de um combate desgastante que dura há meses, não faz sentido que seja presenciado pela ministra da Saúde?

É óbvio que no domínio do simbólico escolher no arranque de uma batalha decisiva um general em vez de um soldado pode ter significado, mas também é óbvio que a opção por António Sarmento é relevante e simbólica – é um sinal de estímulo aos que têm medo da vacina, por exemplo. É lógico que neste acto haja a presença de Marta Temido – até porque, em muitos países, quem apareceu na fotografia foi o chefe do Governo.

Haja, por isso, um pouco de calma, de optimismo e de sensatez nas críticas que se fazem a momentos determinantes para o futuro do país e dos cidadãos mais vulneráveis. Se por cá a campanha não foi adiada por problemas informáticos como nos Países Baixos ou não houve dúvidas sobre a temperatura de conservação das vacinas como na Alemanha e se, pelo contrário, tudo correu como num “ballet russo”, não faz sentido inventar problemas e cavar polémicas onde elas não existem. O primeiro dia correu bem – deixemo-nos apenas ficar satisfeitos com isso.