“É quase como ser o primeiro homem na Lua”, diz um dos primeiros vacinados na Europa
Séniores residentes em lares ou profissionais de saúde posaram para as fotografias a receber a vacina contra a covid-19. A grande maioria dos países europeus começou este domingo a sua campanha de vacinação.
Entre aplausos e muita comoção, teve início este domingo a campanha de vacinação contra a covid-19 na maior parte dos países da União Europeia. Itália, assim como Portugal, começou por profissionais de saúde da “linha da frente”, enquanto a França deu mais prioridade aos idosos, e na República Checa o primeiro a ser vacinado foi o primeiro-ministro, Andrej Babis, que se justificou: “Ontem vi uma senhora dizer na televisão que não ia ser vacinada enquanto o primeiro-ministro não fosse”.
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Entre aplausos e muita comoção, teve início este domingo a campanha de vacinação contra a covid-19 na maior parte dos países da União Europeia. Itália, assim como Portugal, começou por profissionais de saúde da “linha da frente”, enquanto a França deu mais prioridade aos idosos, e na República Checa o primeiro a ser vacinado foi o primeiro-ministro, Andrej Babis, que se justificou: “Ontem vi uma senhora dizer na televisão que não ia ser vacinada enquanto o primeiro-ministro não fosse”.
Na Grécia o chefe de Governo, Kyriakos Mitsotakis, não foi o primeiro, mas foi vacinado este domingo. “Não doeu nada”, assegurou.
“Sinto-me como uma figura histórica”, disse Svein Andersen, 67 anos, residente num lar de Oslo, Noruega. “Quase como o primeiro homem na Lua!”
Em Itália, o primeiro país da Europa a ser atingido pela pandemia e que regista um dos maiores números de mortos (70 mil), a primeira vacinada foi a enfermeira Claudia Alivernini, 29 anos, no hospital de doenças infeciosas Spallanzani, onde apareceram os dois primeiros casos confirmados de infecção pelo vírus SARS-CoV-2, um casal vindo de Wuhan, a cidade chinesa epicentro da pandemia, no final de Janeiro.
“Estou aqui como cidadã, mas sobretudo como enfermeira, para representar a minha profissão e todos os trabalhadores da saúde que escolhem acreditar na ciência”, declarou.
Os países dividiram-se de modo geral entre aqueles em que foram os profissionais de saúde os primeiros a ser vacinados – além de Itália e Portugal, Malta, Polónia, Lituânia, Estónia, Grécia, e Finlândia, com a Bulgária a incluir também o ministro da Saúde nos vacinados –, e aqueles em que foram os idosos os primeiros a aparecer na fotografia – além da Noruega, Espanha, Suécia, Dinamarca, Chipre, Áustria, Eslovénia, e Croácia. Em França, as imagens foram de uma idosa e um cardiologista.
A questão dos grupos prioritários foi muito discutida em vários países, e apesar da estratégia concertada, há algumas diferenças entre os vários Estados membros.
É consensual que os grupos prioritários são idosos, pessoas mais velhas com comorbidades, profissionais de saúde e da “linha da frente”, que trabalham com doentes ou infectados, ou ainda residentes e funcionários de lares ou locais de cuidados continuados. As diferenças que os modelos de previsão de mortes apontam, caso seja posto um ou outro grupo acima nas prioridades, não são muito grandes.
A vacinação de profissionais de saúde primeiro dá mais importância à preservação da capacidade do sistema de funcionar, e é vista como tendo um valor maior para assegurar a população da segurança das vacinas – importante numa altura em que inquéritos de opinião mostram resistência em alguns países.
Há ainda a incógnita sobre o grau de protecção que a vacina confere na transmissibilidade, ou seja, se quem é vacinado pode, ou em que grau, continuar a transmitir o vírus mesmo que não desenvolva a doença (os especialistas pensam que é provável, mas ainda não foi provado). O Centro Europeu de Controlo de Doenças defende que à medida que haja mais dados possa haver adaptação de planos dos países.
Alguns têm linhas de orientação ainda mais específicas: na Alemanha, por exemplo, no centro de Tegel, em Berlim, estão a ser vacinadas pessoas em lares que sofram de demência e, por isso, tenham maiores dificuldades em respeitar a distância física.
A sincronização não foi total, e houve países que se adiantaram, e outros que se atrasaram. Entre os mais céleres está um lar no estado federado alemão da Saxónia-Anhalt que decidiu usar as vacinas mal chegaram, fazendo de uma residente de 101 anos a primeira vacinada do país, e também a Hungria e a Eslováquia começaram logo a vacinar no sábado à noite (com profissionais de saúde).
Houve ainda países que falharam o início, Letónia, Bélgica e Luxemburgo começarão esta segunda-feira e a Irlanda na quarta-feira.
Os Países Baixos são a grande excepção: o sistema informático com o planeamento e registo das vacinas não ficou pronto a tempo e assim espera-se que a vacinação comece, numa primeira fase, a 8 de Janeiro.
Excepções que não quebraram a imagem do “momento comovente de unidade” de que falou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, congratulando-se com o primeiro dia de vacinação e o processo de aquisição de vacinas em conjunto que permitirá, garantiu, ter vacinas suficientes para toda a população.
O ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, escolheu sublinhar a história da origem da vacina que está a ser usada em todos os países, a da BioNTech/Pfizer, desenvolvida na cidade de Mainz por dois cientistas alemães filhos de imigrantes turcos.
A Alemanha registou, no entanto, problemas com a cadeia de frio, e mil doses não foram mantidas à temperatura de -70ºc, não sendo certo se a eficácia deste lote se mantém.