Covid-19: Portugal precisará de menos 900 rastreadores para inquéritos

Estimativas da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares incluem, pela primeira vez, as necessidades de rastreadores por região, sendo o Norte a zona do país que apresenta os números mais elevados. Mas época de Natal poderá baralhar as previsões

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LUSA/ESTELA SILVA

A 31 de Dezembro, quando o calendário estiver a mudar de ano e a entrar em 2021, Portugal poderá precisar de aproximadamente menos 900 rastreadores para inquéritos epidemiológicos e seguimento de contactos de risco de casos de covid-19 positivos. As estimativas que, à partida, pareceriam uma boa notícia, poderão, porém, ser alteradas com o Natal. Além disso, dirigentes da área da saúde continuam a considerar que, mesmo com aquele decréscimo estimado, o número de rastreadores continua aquém das necessidades.

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A 31 de Dezembro, quando o calendário estiver a mudar de ano e a entrar em 2021, Portugal poderá precisar de aproximadamente menos 900 rastreadores para inquéritos epidemiológicos e seguimento de contactos de risco de casos de covid-19 positivos. As estimativas que, à partida, pareceriam uma boa notícia, poderão, porém, ser alteradas com o Natal. Além disso, dirigentes da área da saúde continuam a considerar que, mesmo com aquele decréscimo estimado, o número de rastreadores continua aquém das necessidades.

Aquelas são as estimativas para a próxima quinta-feira, calculadas, com base na informação disponível a 23 de Dezembro (antes do Natal), pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), em colaboração com a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) e a Glintt (Global Intelligence Technologies).

Assim, e de acordo com estas estimativas, Portugal poderá precisar de um mínimo de 4320 rastreadores até um máximo de 5520, contra os 5173 a 6441 previstos para o dia de Natal. Ou seja, verifica-se uma diminuição de 853 a 921. Pela primeira vez, as estimativas incluem as necessidades de rastreadores por região (por administrações regionais de saúde), sendo o Norte a que mais precisa (de 1921 a 2407). Segue-se Lisboa e Vale do Tejo (1637 a 2173). Estes números incluem os profissionais de saúde pública necessários para realizar inquéritos epidemiológicos, fazer o primeiro contacto e contactos seguintes para vigilância activa.

Mas as leituras destes números, feitas quer por Alexandre Lourenço, presidente da APAH, quer por Ricardo Mexia, presidente da ANMSP são, no mínimo, cautelosas. Não são uma “boa notícia”, esclarece Alexandre Lourenço: “Os números destas previsões dependem do comportamento dos dias anteriores”, começa por explicar o dirigente. Ou seja, prossegue, “estes exercícios previsionais dependem de uma tendência”, podendo haver uma “alteração da tendência por causa do Natal”, alteração essa que poderá não ser capturada “pelo modelo matemático”.

Nota, por isso, que estes números, que podem “pecar por defeito”, não devem levar a uma redução de rastreadores: “As modelações matemáticas não capturam eventos que não tenham sido introduzidos nela. Mas a ferramenta continua a ser importante para criar cenários e os dados vão sendo actualizados semana a semana, embora não dispensem a análise humana sobre eventos como o Natal, que possam ocorrer no contexto epidemiológico. Mas, com esta ferramenta, podemos traçar cenários. Pode ser importante para uma terceira vaga, naturalmente.” A introdução dos dados por regiões é relevante, nota ainda, para que as ARS [administrações regionais de saúde] tenham essa “percepção”.

De qualquer forma, para Alexandre Lourenço, o número de rastreadores continua a não ser suficiente: “Num momento em que temos uma segunda vaga e poderemos ter uma terceira, estes rastreadores são essenciais. Devem ser uma força humana bastante flexível. A componente de acompanhamento de casos suspeitos, os telefonemas de acompanhamento de casos suspeitos, pode ser feita por pessoas treinadas que não precisam de ser profissionais de saúde, não o inquérito, esse deve ser feito por profissionais de saúde”. O dirigente acrescenta, por isso, que se pretende “sensibilizar para a necessidade desta força humana”: “Não existem meios no terreno para procurar activamente casos suspeitos, testá-los e isolá-los. O modelo é que devia determinar os recursos disponíveis, e o que nós temos é o inverso. Estamos essencialmente a falar de casos suspeitos que devem ser acompanhados.”

Também Ricardo Mexia defende que o número de recursos no terreno continua aquém das necessidades e que o decréscimo estimado no número de rastreadores se deverá a uma estabilização no número de casos. “Naturalmente que a pressão diminui, mas ainda estamos abaixo do desejável, e a projecção não tem em conta as festividades. E isso pode ter um impacto importante, vejamos o que se passou no dia de Acção de Graças nos EUA.” Além disso, nota, também não se assistiu a uma “grande diminuição nos internamentos, o que continua a colocar o Serviço Nacional de Saúde sob pressão”, comprometendo a resposta que consegue dar.

Mais médicos e enfermeiros em cuidados intensivos

As estimativas usam a ferramenta Adaptt, adoptada pela Organização Mundial de Saúde, e os indicadores mínimos do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, sigla em inglês) relativos ao tempo de realização de um inquérito epidemiológico (45 minutos), número de contactos de risco que cada caso positivo gera em média (sete), o tempo do primeiro contacto de vigilância activa de cada uma dessas pessoas (20 minutos) e os contactos subsequentes até ao final do período de isolamento profiláctico (3,5 minutos) que já vêm de dias anteriores.

Com base no relatório da Direcção-Geral da Saúde, publicado na última quarta-feira (normalmente, é o de quinta-feira, mas foi antecipado por causa do Natal), aplicam a mesma fórmula que tem sido usada para estimar para a semana seguinte o número de camas e recursos humanos em internamentos: para um cenário mais optimista uma redução de 2% no Rt e para um mais pessimista um aumento de 2% no Rt.

Quando foram conhecidas os números estimados de rastreadores para 25 de Dezembro, o Ministério da Saúde já tinha dito ao PÚBLICO que “as estimativas apresentadas não correspondem às necessidades identificadas”, afirmando também que “continua empenhado na procura de soluções com vista à mobilização de rastreadores, de forma a dar a melhor resposta possível às necessidades existentes em cada momento da pandemia”.

Apesar do decréscimo estimado das necessidades no número de rastreadores para 31 de Dezembro, a evolução da pandemia pode sofrer reviravoltas: em Novembro, o Presidente da República já tinha alertado que seria “provável” que “uma terceira vaga” pudesse ocorrer “entre Janeiro e Fevereiro”. E o Centro Hospitalar e Universitário de São João já está, aliás, a preparar-se para uma eventual terceira vaga em Janeiro, afirmou, em entrevista ao PÚBLICO, o presidente do conselho de administração.

No que se refere às estimativas previstas para 31 de Dezembro, no que toca a médicos hospitalares, oscilam entre os 485 e os 603 – ligeiramente menos do que as previsões anteriores, que se situavam entre um mínimo de 500 e um máximo de 606. Já quanto a médicos em unidades de cuidados intensivos, variam entre um mínimo de 227 e 270, o que indica um ligeiro aumento face aos 211 a 245 anteriormente previstos.

Quanto a enfermeiros, estimam-se que sejam precisos, no fim do ano, 3956 a 4906 (menos 114 do que o mínimo de 4070 e também menos do o máximo de 4939 apontados para o dia de Natal). Mas as estimativas para enfermeiros, especificamente em cuidados intensivos, situam-se entre 962 a 1142, ou seja, mais 67 e mais 100, respectivamente, do que os 895 a 1042 previstos anteriormente. Com Pedro Sales Dias