Sara Ocidental, o Timor do deserto
Só a comunidade internacional impede que Marrocos concretize a plena absorção do Sara Ocidental, país reconhecido como território soberano por seis dezenas de nações.
O título, infelizmente, não tem nada de original, há tanto tempo se arrasta o problema do povo sarauí e tantas são as semelhanças com o que sucedeu ao território de Timor-Leste. Aqui ao pé, como no distante Sudeste asiático, um território foi deixado praticamente ao abandono pela antiga potência colonial (Espanha) e um país vizinho (Marrocos) ocupou-o, impedindo o seu povo de exercer o justificado direito à autodeterminação.
Tal como em Timor, só a comunidade internacional, com resoluções do Tribunal Internacional de Justiça e do Conselho de Segurança da ONU, que há quase 30 anos mantém uma missão encarregada de realizar um referendo sobre a independência, impede que Marrocos concretize a plena absorção daquele país, reconhecido como território soberano por seis dezenas de nações.
As mais recentes decisões da administração norte-americana de reconhecer a soberania marroquina e de abrir um consulado naquele território vem enfraquecer a posição dos homens e mulheres da Frente Polisário, legal representante do povo sarauí, que recentemente decidiu regressar “à luta armada” após uma intervenção militar das Forças Armadas de Marrocos na zona desmilitarizada no Sara Ocidental.
Como que ainda a deixar um último lampejo do que mais se seguiria se tivesse sido reeleito, Donald Trump veio reafirmar as linhas orientadoras da sua política internacional: desrespeito pelas instituições internacionais, alinhamento com o mais forte e total desprezo pelos mais fracos. No mundo de Trump não há lugar para princípios, nem que sejam aqueles que estiveram na origem do seu próprio país, como o direito da autodeterminação dos povos. Tudo é transformado num negócio, neste caso em troca da normalização de relações com Israel.
Contra este mundo selvagem, a ONU, mesmo com todas as suas limitações e inoperância, continua a ser a melhor esperança de que a negociação e o entendimento possa prevalecer sobre a força e a imposição do mais forte. À frente da organização, António Guterres tem a obrigação de fazer com que a actual crise, com o acrescento de visibilidade que trouxe, possa servir para se tomarem passos significativos de forma a que o Sara Ocidental deixe de ser a última colónia em África. Tanto ele como as autoridades nacionais e o povo português têm a obrigação histórica de continuar a insistir na mensagem de esperança que foi o caso de Timor-Leste.
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O título, infelizmente, não tem nada de original, há tanto tempo se arrasta o problema do povo sarauí e tantas são as semelhanças com o que sucedeu ao território de Timor-Leste. Aqui ao pé, como no distante Sudeste asiático, um território foi deixado praticamente ao abandono pela antiga potência colonial (Espanha) e um país vizinho (Marrocos) ocupou-o, impedindo o seu povo de exercer o justificado direito à autodeterminação.
Tal como em Timor, só a comunidade internacional, com resoluções do Tribunal Internacional de Justiça e do Conselho de Segurança da ONU, que há quase 30 anos mantém uma missão encarregada de realizar um referendo sobre a independência, impede que Marrocos concretize a plena absorção daquele país, reconhecido como território soberano por seis dezenas de nações.
As mais recentes decisões da administração norte-americana de reconhecer a soberania marroquina e de abrir um consulado naquele território vem enfraquecer a posição dos homens e mulheres da Frente Polisário, legal representante do povo sarauí, que recentemente decidiu regressar “à luta armada” após uma intervenção militar das Forças Armadas de Marrocos na zona desmilitarizada no Sara Ocidental.
Como que ainda a deixar um último lampejo do que mais se seguiria se tivesse sido reeleito, Donald Trump veio reafirmar as linhas orientadoras da sua política internacional: desrespeito pelas instituições internacionais, alinhamento com o mais forte e total desprezo pelos mais fracos. No mundo de Trump não há lugar para princípios, nem que sejam aqueles que estiveram na origem do seu próprio país, como o direito da autodeterminação dos povos. Tudo é transformado num negócio, neste caso em troca da normalização de relações com Israel.
Contra este mundo selvagem, a ONU, mesmo com todas as suas limitações e inoperância, continua a ser a melhor esperança de que a negociação e o entendimento possa prevalecer sobre a força e a imposição do mais forte. À frente da organização, António Guterres tem a obrigação de fazer com que a actual crise, com o acrescento de visibilidade que trouxe, possa servir para se tomarem passos significativos de forma a que o Sara Ocidental deixe de ser a última colónia em África. Tanto ele como as autoridades nacionais e o povo português têm a obrigação histórica de continuar a insistir na mensagem de esperança que foi o caso de Timor-Leste.