Melhorar o PÚBLICO
A ligação que os leitores têm ao seu jornal é avaliada também pelas cartas que lhe escrevem. Um leitor que não gosta do que lê muda de jornal e passa a comprar outro; o que nada diz ou aplaude está globalmente satisfeito; o que critica pretende corrigir o que considera serem erros ou falhas; mas o que faz sugestões aspira a mudar para melhorar a qualidade do jornal, que identifica também como “coisa sua”.
Alguns destes últimos leitores propõem mexidas na própria estrutura do PÚBLICO através da criação de secções que preencham o que classificam como lacunas de informação ou que contemplem aspectos importantes da vida em comunidade.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Alguns destes últimos leitores propõem mexidas na própria estrutura do PÚBLICO através da criação de secções que preencham o que classificam como lacunas de informação ou que contemplem aspectos importantes da vida em comunidade.
Para remediar o “não-andamento” dos processos em que “o tempo passa, passa e nada”, o leitor Jorge Mónica, da Parede, sugere “que o jornal crie uma pequena caixa onde seja diariamente indicado quantos dias passaram desde o início da investigação ou do processo (…). Talvez tenha algum efeito positivo ao fazer sobressair um eventual sentimento de vergonha”.
O provedor enviou a sugestão ao director adjunto Tiago Luz Pedro, que a comenta nos seguintes termos: “A proposta do leitor é sugestiva, mas duvida-se que tivesse grande efeito nas causas que visa combater: a crónica lentidão da nossa justiça, reconhecidamente um dos motivos maiores do atraso estrutural português em vários domínios. Ao jornalismo cabe questionar, perguntar, escrutinar e verificar, e é por aí que acreditamos que a mudança pode acontecer — como tantas vezes acontece e a começar na justiça, onde vários são os casos nascidos de factos relatados em primeira instância na imprensa.”
Continua o director adjunto: “Por outro lado, e sem desmerecer que temos aqui um problema grave que o país não tem sabido ou querido resolver, importa dizer que há atrasos e atrasos na justiça e que aquilo que é muitas vezes percebido com enorme perplexidade tem razões e explicações que se fundam nos mecanismos da própria justiça (suspensão dos prazos de inquérito, incidentes processuais, expedientes dilatórios vários, etc., etc.). Acreditamos, por isso, que uma tabela desde tipo só contaria meia verdade e incorreria num risco de simplificação excessiva.”
Um outro leitor, Frederico Lobo Gama, de Estremoz, defende que apareça “um novo PÚBLICO, mais atento aos problemas do interior remoto”, observando que “é muito difícil a qualquer autarca do interior lutar contra o abandono e a decadência que não cessam de atormentar as populações que se situam longe dos centros de decisão nacionais”.
Levando em conta o inexorável despovoamento do interior (que mexe com o próprio conceito de soberania nacional) e uma centralização política e administrativa que o Estado português parece ter herdado em linha recta do jacobinismo nascido com a Revolução Francesa, o provedor faz suas as preocupações do leitor e aqui submete a sugestão dele à Direcção Editorial do PÚBLICO.
José Raimundo Correia de Almeida, um leitor de Santo António dos Cavaleiros, envia-nos um conjunto de sugestões: a criação de “um suplemento Ambiente [onde constariam informações sobre] o estado do solo, a seca, a seca extrema e as barragens (bem como) as marés e o estado do mar, para os pescadores”, e ainda a publicação de “uma crítica semanal a estas desgraçadas televisões de telenovelas, gastronomias, crimes, futebóis e outras pandemias que nos massacram e causam depressões”.
Responde Tiago Luz Pedro: “(…) A ideia de (transmitir) informação sobre solos ou mapas de seca é boa, mas esses dados são actualizados apenas mensalmente e rapidamente cairíamos na armadilha da redundância se os publicássemos todos os dias. (…).”
No que respeita às televisões, escreve o director adjunto: “(…) Em tempos, tivemos crítica de TV e é algo que queríamos retomar nesta reformulação gráfica, o que só não foi possível por questões de oportunidade. Oxalá possamos ter nos próximos tempos boas notícias para os leitores também nesta frente.”
O jornalista de televisão que foi o provedor aproveita a questão do leitor e a resposta do PÚBLICO para constatar que nestas eleições presidenciais, em que não vai haver comícios nem arruadas, as entrevistas políticas televisivas ganham um relevo particular. Elas obedecem a três regras de base. A primeira é que uma entrevista não é um debate encapotado onde o jornalista apregoa as suas convicções pessoais contra as do entrevistado. A segunda é que a eficácia real de uma pergunta mede-se pelas dificuldades que ela coloca ao entrevistado, não pela agressividade do entrevistador. A terceira e última — que também se aprende nos cursos de Marketing Político, convém não esquecê-lo — é que a referida agressividade do entrevistador acaba por beneficiar o entrevistado, reduzido ao papel de vítima com a qual o eleitor indeciso acaba a simpatizar.
Para não ocupar toda a coluna de hoje apenas com sugestões, o provedor voltará a elas na próxima semana.
Dois leitores interrogam-se sobre os motivos pelos quais o PÚBLICO esteve anos sem um provedor do leitor. Escreve Filipa Rocha: “A minha dissertação de final de mestrado vai ser sobre os provedores dos leitores. Tento perceber por que razão, em Portugal, esta figura deixou de existir durante muito tempo (…) e agora volta ao PÚBLICO. [Pretendo] ainda fazer uma comparação com Espanha. No caso do El País, a figura do provedor, desde que surgiu, tem estado sempre presente.”
Por sua vez, o leitor Sérgio Nunes interroga-se sobre “(…) a razão para estes tão longos hiatos na posição do provedor? Não será certamente por se considerar a posição apenas intermitentemente importante. Presumo que seja uma conjugação de dificuldades financeiras, políticas, e de procura de candidatos adequados à posição. Gostaria de conhecer a posição da Direcção do PÚBLICO”.
Essa posição é esclarecida pelo director do PÚBLICO, Manuel Carvalho: “O leitor Sérgio Nunes antecipou-se à pergunta que nos dirige elencando uma série de boas razões para o ‘hiato’ de anos entre o anterior e o actual provedor dos leitores. Ele ‘presume’ que seja ‘uma conjugação de dificuldades financeiras, políticas, e de procura de candidatos adequados à posição’. Descontando as ‘dificuldades políticas’, as restantes condições aconteceram de facto e, entre todas, a mais pertinente é sem dúvida a existência de ‘candidatos adequados à posição’.”
“A este propósito, convém notar alguns factos. O primeiro é que a autoridade natural que alicerça a independência do provedor tem de ser percebida e reconhecida pela redacção — o seu nome é aprovado pelo Conselho de Redacção do PÚBLICO. O que implica um currículo jornalístico ou académico impecável e uma imagem de rigor e independência inatacáveis. Há, felizmente, jornalistas e académicos com essas qualidades. Mas não é fácil fazer escolhas — ainda que a maioria dos provedores do jornal tenham deixado excelentes recordações por ajudarem os leitores a defender a qualidade do seu jornal.”
“Para a actual Direcção Editorial, o regresso do provedor era uma prioridade. Mas, confessamos, demorou tempo de mais a cumprir. Trataremos de evitar que haja novos hiatos no futuro, porque, sublinhamos, um jornal aberto e exigente precisa das críticas dos leitores e do provedor para cumprir a sua função de serviço público.”
O provedor deseja a todo o universo do PÚBLICO — leitores e fazedores do jornal — um bom Ano Novo.