Importa saber se alguém é menino ou menina?
A reflexão sobre identidade de género anda a cansar muitos de nós. Sobretudo os que não têm dúvidas e nela se sentem confortáveis. É injusto.
“Menino ou menina?”; “traquina ou traquina?”; “azul ou rosa?”; “guloso ou gulosa?” Parecem perguntas inocentes. Até seriam se não provocassem tantos constrangimentos e impedimentos. Para eles e para elas.
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“Menino ou menina?”; “traquina ou traquina?”; “azul ou rosa?”; “guloso ou gulosa?” Parecem perguntas inocentes. Até seriam se não provocassem tantos constrangimentos e impedimentos. Para eles e para elas.
Este livro nasceu assim, conta a autora, Joana Estrela, no site da editora que a publica: “Acho que me lembrei de fazer este livro porque tinha estado a preparar uma apresentação em que mostrava duas fotos minhas de quando era criança.”
Numa, aparece de cabelo curto, de calças e a brincar com um carro amarelo; noutra, tem cabelos compridos, óculos cor-de-rosa e uma boneca ao colo. Para não falar de uma espécie de laçarote na cabeça.
“Achei que, se eu não dissesse a ninguém que sou eu nas duas fotos, a maior parte das pessoas ia pensar que é a foto de um menino e de uma menina. E eu não quero dizer que isso seja errado. Todos nós tiramos conclusões rápidas à primeira vista. Eu também faço isso. Acho que é normal olhar e pensar calças+carro=menino e boneca+saia=menina. Mas também acho que é importante questionarmos porque é que pensamos assim. E lembrarmo-nos de duvidar dessas primeiras impressões, e dizermos para nós próprios: ok, aquela criança tem calças e cabelo curto e está a brincar com um carro, por isso se calhar é um rapaz, mas pode muito bem nem ser.”
Este pensamento levou a outro: “Será que é importante saber se alguém é um menino ou uma menina?” Para concluir: “Na minha opinião, não é lá muito necessário.”
O livro parece convidar os mais novos à observação e os mais velhos à compreensão. A todos, um apelo à aceitação.
Inicialmente pensado para ser editado em espanhol, Menina, Menino beneficiou da ignorância de Joana Estrela naquela língua: “O facto de ter escrito em espanhol ajudou a tornar o livro muito simples. Isto porque eu não sei falar espanhol nada bem, e então tinha de simplificar!” O resultado foi bom. “Ajudou a tornar o livro muito simples”, diz a ilustradora, nascida em Penafiel, em 1990.
Fala-nos em identidades múltiplas, pergunta-nos quem é o quê e tira algumas conclusões: “O segredo não está nos olhos de quem vê”; “Pois caras vemos, o resto não sabemos”; “Homem, mulher, cada um o que quiser”.
Tecnicamente, conta que “os desenhos foram surgindo aos pouquinhos, com o texto” e que fez rascunhos com canetas de feltro. “Depois, percebi que gostava mais de lápis de cera.” Assim ficou.
Joana Estrela estudou Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes do Porto (2012), passou por Budapeste e Vilnius, e voltou ao Porto, onde trabalha em ilustração e banda desenhada. Em 2014, a Plana publicou o seu primeiro livro, Propaganda, e, em 2016, o Planeta Tangerina publicou Mana, obra vencedora do I Prémio Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado. Nesse ano, ganhou também o prémio para Melhor Ilustração de Livro Infantil (autor português) no Amadora BD. Teve ainda uma menção no Prémio Nacional de Ilustração de 2018.
Para ela, como para outros, fica a moral final do livro: “Só tu te conheces melhor que ninguém… e segues o caminho que mais te convém.”
Menino, Menina é dedicado ao filho de uma prima da autora, o pequeno Lucas: “É o mais novo da minha família e, como está quase a aprender a ler, achei que ia gostar de ter um livro dedicado a ele!” Tê-lo-á recebido neste Natal. Esperemos que tenha gostado. Como nós.
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