Um Natal feliz
o que é esse Feliz Natal,
que desejamos uns aos outros por estes dias?
É mesmo preciso tanto ruído de fundo,
para que esse Natal seja realmente feliz?
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o que é esse Feliz Natal,
que desejamos uns aos outros por estes dias?
É mesmo preciso tanto ruído de fundo,
para que esse Natal seja realmente feliz?
Somos humanos: precisamos de rituais e tradições,
e acima de tudo, de gestos e afectos.
A forma como vivemos os dias no planeta que partilhamos, diferencia-nos dos animais.
(algo que, por vezes, esquecemos).
Dar significado ao tempo, faz parte do que somos, como humanos.
Não apenas estar no planeta e sobreviver.
Por isso nos está a custar tanto atravessar este ano a época natalícia.
O expoente máximo da expressão de rituais e tradições, que variam conforme as culturas,
foi contaminado pelas exigências intransigentes do coronavírus.
A pandemia obriga à contenção de gestos e afectos físicos,
ao refrear do calor humano do toque, das conversas lado a lado.
Mas o que é realmente importante, nesta época natalícia?
A religião cristã celebra o nascimento de Deus como Homem, que veio ao mundo para explicar o que andamos aqui a fazer.
E quem não é cristão encontra outros significados para esta época, cuja base comum é renascer, como ser humano.
O solstício, a festa da luz... Ser luz.
Imprimir significado à existência.
Para isso é preciso parar e escutar o interior.
Conversar connosco próprios.
Queremos continuar a viver em modo automático?
Tudo se complicou este ano, com a pandemia.
Os nossos circuitos cerebrais reaprenderam outras rotinas,
necessariamente automatizadas porque repetidas dia após dia,
para conseguirmos lidar com o risco de infecção pelo vírus que não se vê.
Gera sempre medo, o desconhecido,
e ainda mais se alterar drasticamente a nossa forma habitual de viver,
e se colocar em perigo hipotético, mas real,
a nossa vida, e a dos que mais gostamos.
Desde que a pandemia começou, pessoas conhecidas, mais ou menos próximas,
ficaram gravemente doentes subitamente, ou infelizmente morreram.
Isto já acontecia antes,
pois morrer é uma inevitabilidade imprevisível,
mas a probabilidade aumentou exponencialmente e bateu às portas vizinhas, ou à nossa.
Por tudo isto, importa ainda mais agora
imprimir um significado à nossa vida.
- Somos felizes?
- Podemos mudar atitudes e formas de viver para sermos felizes?
- Precisamos de tantas coisas externas a nós mesmos para sermos felizes?
- O que é essencial para sermos felizes?
A maioria de nós é privilegiado sem saber.
É um cliché, mas ter saúde, uma casa para viver, comida na mesa e um núcleo coeso de afectos,
é um privilégio a que grande parte da população do planeta não tem acesso.
O ego nunca está contente, exige sempre mais, mais e mais.
E por isso, abdicar de alguma coisa é muito difícil.
E então, o que realmente preciso para que o Natal seja Feliz?
É verdade que custa sair da zona de conforto e adquirir novos hábitos,
mas quando conseguimos dar o passo e manter o caminho,
depois de um hiato de tempo em que parece não acontecer nada,
começam a notar-se as diferenças.
Pequeninas mudanças acumuladas
transformam-se em resultados inesperadamente grandes.
Primeiro estranham-se, depois entranham-se.
Cada um pode procurar o que o pode fazer feliz.
Quando desejarmos uns aos outros um Feliz Natal,
ou quando recebermos esses votos,
pensemos por instantes no que isso significa,
e no que poderá significar, se quisermos.
Talvez na simplicidade encontremos em grande parte, a genuína felicidade.
Talvez tanto ruído de fundo seja dispensável, para que, esse Feliz Natal, seja mesmo feliz.
Feliz Natal...