“Tudo o que tinha foi enfiado em dois sacos. Foi como se me tivessem enfiado a mim naqueles sacos”

Maria Júlia Costa e Almeida, 93 anos, utente d’ O Lar do Comércio, em Matosinhos. Relato de uma conversa mantida através de vídeochamada, dada a interdição de entradas e saídas do lar.

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PAULO PIMENTA

Quando fiz 93 anos de idade, no dia 1 de Maio, estávamos aqui largados no bar do lar. Tinham-me batido à porta do quarto, pelas oito e meia da noite, e disseram-me: “Pegue na sua almofada e vá lá para baixo”. E eu fui, sem saber o que se passava. Estava o bar com umas 30 camas em fila, com uma cadeira cada, e ali ficámos durante três semanas. Nem direito a banho tivemos. A única pessoa que lá entrou durante esse tempo todo foi o senhor Amândio com a comida. O que me valeu foi que, no momento em que me foram chamar, calhou de estar com o telefone e enfiei-o no bolso do roupão. E com isso fui podendo falar com os meus filhos, porque aqui dentro ninguém nos dizia nada. Mas não gosto muito de falar disso.

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Quando fiz 93 anos de idade, no dia 1 de Maio, estávamos aqui largados no bar do lar. Tinham-me batido à porta do quarto, pelas oito e meia da noite, e disseram-me: “Pegue na sua almofada e vá lá para baixo”. E eu fui, sem saber o que se passava. Estava o bar com umas 30 camas em fila, com uma cadeira cada, e ali ficámos durante três semanas. Nem direito a banho tivemos. A única pessoa que lá entrou durante esse tempo todo foi o senhor Amândio com a comida. O que me valeu foi que, no momento em que me foram chamar, calhou de estar com o telefone e enfiei-o no bolso do roupão. E com isso fui podendo falar com os meus filhos, porque aqui dentro ninguém nos dizia nada. Mas não gosto muito de falar disso.