Dia 130: o Pai Natal lembra-se da sogra?

O Pai Natal só traz presentes que caibam numa meia. É claro que todas as crianças põem a meia do pai para ver se recebem mais, mas é o limite máximo permitido pelas leis do Pólo Norte.

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Mãe, 

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Mãe, 

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Sabe que tenho a certeza, como sempre tive, que o Pai Natal existe. E mais, não tenho dúvidas que seja ele a entregar os presentes, a guiar o trenó por entre tempestades e a dominar os fusos horários de forma a chegar a tempo a todo o lado.

Agora, não me venham dizer é que foi ele que gastou horas a pensar se era melhor dar a boneca ou o carrinho, se o presente era adequado para a idade, ou se era justo dar x a um irmão e y a outro. Não me convencem que se lembra do que deu no ano anterior e o qual é o presente ideal para a criança, mas que não dê com os pais em doidos. É que não há hipótese nenhuma de ter sido ele a descobrir onde se encomenda cada brinquedo ou a que lojas é preciso ir. Muito menos que tenha passado horas nas filas, nem na versão “homemade”, comprado os materiais e feito tudo com muita paciência. Embrulhando-os por cima. E acredita que o Pai Natal, no meio disto tudo, se lembre da própria mãe e da sogra? Eu não!

Eu aposto que foi a Mãe Natal que fez isso tudo! E que sorri e acena quando vê o Pai Natal a receber os louros de tudo. Que sorri por dentro quando vê que acertou em cheio. O que é que a mãe acha? Estarei a projetar ou é da mesma opinião do que eu?

Bjs


Querida Filha, o que a tua mãe acha é que bateste com a cabeça ou a carência de sono te está a fazer mal.

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É claro que Não existe Mãe Natal nenhuma no Pólo Norte, e estás absoluta e totalmente a projetar. Pior do que isso, a fazer o que não te compete, numa exorbitância de funções que vai enfurecer os sindicatos, porque estás a roubar o trabalho dos outros. E pior, pior do que tudo, parece-me que esqueceste tudo o que te ensinei.

Recapitulo, in extremis, porque já estamos na véspera de Natal.

O Pai Natal só traz presentes que caibam numa MEIA. É claro que todas as crianças põem a meia do pai para ver se recebem mais, mas é o limite máximo permitido pelas leis do Pólo Norte.

O Pai Natal não adivinha nada. É preciso escrever-lhe uma carta e pedir um leque de coisas das quais ele irá escolher as que bem entender. Se as cartas dos miúdos estão inflacionadas de pedidos, a culpa é dos pais que não esclarecem este pressuposto. Mais, que fundiram, a tradição do Pai Natal com a do Menino Jesus, contra qual, aliás, a tua avó recém-chegada a Portugal tanto se rebelou — dizia ela, e bem, que o Menino Jesus não podia trazer presentes a uns e não a outros, e que essa injustiça flagrante em nome de um Deus da Justiça era meio caminho andado para a raiva e a revolta. Por isso, tu, como eu, sempre recebeste presentes do Pai Natal e presentes dos teus pais e família. Além do mais tem uma vantagem: se ficarem desiludidos, tirem o assunto a limpo com o Pai Natal.

Não imaginas o Pai Natal em filas de espera e a descobrir que loja vende o quê? Passaste-te. O Pai Natal é o CEO de uma empresa que tem séculos de existência. Abaixo dele está o Urso Polar, e sob o comando deste, os duendes e que fazem todas essas tarefas que tu andas para ai a tentar imitar. É provável que já tenham chateado com a questão das quotas na administração, mas suspeito que o Pai Natal não se aplicam à sua “offshore”.

Ligo-te à meia-noite para me certificar de que aprendeste a lição. E quanto ao teu esforço hercúleo de nos fazeres a todos felizes, assume-o! É mesmo obra da Ana Natal. 

Feliz Natal.


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram