Cheias vão voltar ao Mondego, avisa Matos Fernandes
Passado um ano de novas cheias no Baixo Mondego, ministro do Ambiente regressou a Montemor para dizer que já foram executados três milhões de euros em obra.
De regresso a Montemor-o-Velho para apresentar obra feita, o ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, voltou a carregar na tecla do “vai voltar a acontecer”. “Se algum dia alguém prometer que não vai voltar a haver cheias no Baixo Mondego, certamente não está a falar a verdade”, disse nesta quarta-feira, no fim de um percurso de cinco pontos pelo vale do Mondego, que terminou no Centro Náutico.<_o3a_p>
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De regresso a Montemor-o-Velho para apresentar obra feita, o ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, voltou a carregar na tecla do “vai voltar a acontecer”. “Se algum dia alguém prometer que não vai voltar a haver cheias no Baixo Mondego, certamente não está a falar a verdade”, disse nesta quarta-feira, no fim de um percurso de cinco pontos pelo vale do Mondego, que terminou no Centro Náutico.<_o3a_p>
A estrutura construída para desporto de alto rendimento que foi invadida pelas águas a 21 de Dezembro de 2019 recebeu, desta vez, a apresentação do conjunto de intervenções que pretendem mitigar o efeito das cheias. Na verdade, o plano Mondego Mais Seguro já tem quase um ano, tendo sido aprovado em Conselho de Ministros em Janeiro de 2020, com uma previsão de investimento de 29,3 milhões de euros até 2023. Desses, disse o ministro, três milhões já foram investidos. <_o3a_p>
Pelas 10h, o ministro chegou ao ponto onde tinha rebentado o primeiro dique, na margem direita do leito central do Mondego. Chovia, mas não tanto quanto há pouco mais de um ano, quando o caudal registado no rio atingiu os 2200 metros cúbicos por segundo, quando está dimensionado para um máximo de 2000 metros cúbicos por segundo. Ali, foi prontamente informado sobre o andamento dos trabalhos: do canal condutor geral, já reparado, e das empreitadas em fase de concurso e lançamento. <_o3a_p>
O essencial, referiu o ministro, numa altura em que falava com autarcas e responsáveis da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), é “garantir que todas as estruturas fusíveis funcionam para que”, quando os 2000 metros cúbicos por segundo “forem ultrapassados, a água ir para onde tiver de ir, provocando sempre uma cheia, evidentemente, mas sem afectar as populações”. Isso e os afluentes, registou, como o Ceira, o Pranto, o Ega e o Arunca, que ainda não viram as intervenções que estão há quase quatro décadas na gaveta, quando foi projectado o Sistema de Aproveitamento Hidráulico do Mondego.<_o3a_p>
Esses afluentes serão intervencionismos – assim está previsto no segundo eixo do Mondego Mais Seguro, sendo que o Ceira e Arunca são empreitadas à parte –, mas não “com projectos de engenharia de betão, como se desenhou há 40-50 anos”, explicou o responsável pela pasta do Ambiente. E se Matos Fernandes não pode garantir que não vai acontecer outra vez, como repetiu várias vezes, garante que o Governo está a “fazer tudo para que tudo corra bem”: “Estamos hoje – eu acho que posso dizer isto – melhor do que no dia 21 de Dezembro do ano passado, com as obras que fizemos.” “Ligeiramente”, acrescentou um engenheiro da Agência Portuguesa do Ambiente, que participava no briefing. <_o3a_p>
Por estradas mais habituadas a tractores, os carros de alta cilindrada da comitiva passaram por vários pontos, até ao local onde será instalada uma estrutura de drenagem dos campos centrais do Mondego para o leito periférico do rio. Esta estrutura, explicou o vice-presidente da APA, José Carlos Pimenta Machado, terá a capacidade de, em situações de cheia, drenar um hectómetro cúbico por dia, o que ajuda a reduzir a pressão de cheia em pontos como Ereira, a aldeia que frequentemente fica rodeada por água quando o Mondego galga as margens. O concurso tem um preço-base de 400 mil euros e foi lançado na segunda-feira. <_o3a_p>
Quanto ao segundo dique que colapsou em 2019, a 22 de Dezembro, no leito periférico direito, que ainda apresenta aspecto de enrocamento grosseiro, Matos Fernandes diz que está reposta a capacidade e que será instalado nesse ponto um fusível (um dique que rompe quando determinado caudal é ultrapassado, tal como acontece noutros pontos do sistema de aproveitamento do Baixo Mondego). Daí que não fizesse sentido “dar-lhe acabamento”, explica. <_o3a_p>
No ano passado, o rio Ceira, que vai dar ao Mondego a montante da cidade de Coimbra, contribuiu significativamente para o débito registado no pico do caudal. Há uma intervenção prevista para esse afluente, com recurso a técnicas de engenharia natural, um trabalho apresentado nesta quarta-feira pelo engenheiro Pedro Teiga, da empresa E.Rio. No entanto, a Ordem dos Engenheiros tem vindo a questionar o método. <_o3a_p>
“Reconhecidamente, o projecto do Ceira tem uma componente experimental”, responde o ministro do Ambiente. Mas não se pode “partir do princípio que os rios são da espécie humana e que podem ser interrompidos a qualquer momento com um objecto artificial como seja uma barragem”, menciona. Daí a opção por “um conjunto de intervenções de base natural, onde o betão não está presente”.