A caça não pode ser um massacre
O abate de 540 animais por 16 caçadores espanhóis revela a existência de um negócio bárbaro, ao arrepio de qualquer preocupação cinegética prevista na lei, que não pode ser confundido com desporto ou com turismo, como se fizesse sentido designar por turista alguém que abate mais de 30 animais num só dia.
O que aconteceu, na semana passada, na Herdade de Torre Bela, na Azambuja, não foi uma montaria, mas simplesmente uma matança indiscriminada de animais. Não há qualquer semelhança entre caça e um massacre. O abate de 540 animais por 16 caçadores espanhóis revela a existência de um negócio bárbaro, ao arrepio de qualquer preocupação cinegética prevista na lei, que não pode ser confundido com desporto ou com turismo, como se fizesse sentido designar por turista alguém que abate mais de 30 animais num só dia.
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O que aconteceu, na semana passada, na Herdade de Torre Bela, na Azambuja, não foi uma montaria, mas simplesmente uma matança indiscriminada de animais. Não há qualquer semelhança entre caça e um massacre. O abate de 540 animais por 16 caçadores espanhóis revela a existência de um negócio bárbaro, ao arrepio de qualquer preocupação cinegética prevista na lei, que não pode ser confundido com desporto ou com turismo, como se fizesse sentido designar por turista alguém que abate mais de 30 animais num só dia.
Chamar a isto “caça turística” é um eufemismo de crime ambiental ou de dano contra a natureza. As imagens são tão chocantes que as mesmas indignam da mesma forma associações de caçadores e associações ambientalistas. E os primeiros têm de ser os mais empenhados na separação entre quem caça com ética e com regras e aqueles que ignoram uma e outra.
Embora esta seja tida como a maior quinta murada da Europa, os animais foram impedidos de fugir ou de se refugiarem (na vegetação que tem sido cortada), e foram abatidos depois de encurralados. Qual é, afinal, o prazer desta “caça” senão a crueldade mais boçal? Recuamos às savanas africanas do século XIX, mas com muros, quando caçadores como Frederik Selous organizavam caçadas para que os clientes abastados exibissem os seus troféus, como se estes fossem prova irrefutável de valentia.
Depois disto, as trancas estão à porta. O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas iniciou um processo de averiguações à concessionária, vai revogar esta licença de caça e apresentar uma óbvia queixa ao Ministério Público. A legalidade do que aconteceu está sob suspeita, assim como a eventual relação entre a matança e o projecto de instalação de uma estação fotovoltaica, ligação que o PAN sugeriu.
O ministro do Ambiente, por sua vez, falou numa inspecção às 1500 zonas de caça turística deste género que existem em Portugal e anunciou a intenção de rever a lei. Como diz Matos Fernandes, a caça serve para gerir recursos cinegéticos e não para “matanças generalizadas”. As montarias não podem ser clandestinas. Pelo contrário, como defende o ministro, devem ser comunicadas antecipadamente para que sejam fiscalizadas. A posteriori, todos têm razão, todos se indignam. Torre Bela ganhou outra expressão.