Entre netos e avós
A qualidade do tempo com os netos é um ingrediente essencial para a vida dos avós.
A relação entre os avós e os netos é essencial na harmonia da família. Quem melhor do que os avós para falar disso?
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A relação entre os avós e os netos é essencial na harmonia da família. Quem melhor do que os avós para falar disso?
Hoje falamos sobre a relação entre avós e netos a partir do testemunho vivido de sete avós e avôs com um intenso vínculo aos seus netos.
Ser avó (ô) é uma paixão, um prazer: “Quando os netos nasceram, jamais poderia pensar o quanto os iria amar. Eles fazem parte das pessoas que mais amo. Vivo este amor com imensa alegria e vivo a recompensa de existirem” (avó Rosário). Ser avó (ô) é gratidão: “Eu (quase) não tenho palavras para agradecer ao meu neto. Ele é muito importante na minha vida.” (avô Marcos).
A qualidade do tempo com os netos é um ingrediente essencial para a vida dos avós: “Os netos engrandecem o precário tempo dos avós” (avô José), através de um sentimento de renovação pessoal porque, “ao projetarem-se na vida dos netos, os avós esquecem o tempo que lhes resta” (avô José). Os netos trazem a esperança, o ânimo e alento para os avós: “Ser avô é o preencher da última prateleira do nosso armário de emoções, e são as recordações mais doces da vida já em declínio” (avô Artur).
Os avós geram com os netos afetos com tempo: “Reclamamos ainda aos netos consideração, o tempo da intimidade e dos afetos e que não olhem para a fealdade da nossa velhice!” (avó Raquel). Uma relação em que os avós se empenham no sucesso dos netos: “Ser avô ou avó para nós no fim da caminhada é colher no ar uma notícia boa, uma pequena vitória na vida de um netinho toca-nos profundamente, mas se, ao contrário, não é boa, sofremos a duplicar, (...) porque não estivemos lá para evitar” (avô Artur e avó Sílvia). Os netos são sempre uma renovação: “A existência dos netos é como aqueles filmes restaurados que se sobrepõem aos da nossa infância e adolescência, turvos, riscados, como a nossa memória” (avó Raquel).
Estar com os netos é uma oportunidade de lembrar e contar as histórias para perdurarem: “Os avós querem com muita força que os netos se lembrem deles depois da morte. Para isso, têm de ter tempo a sós com eles. Inventam ir à ópera, ir ao museu, ir à Zara, levá-los a Paris” (avó Raquel). Os avós precisam de lembrar e de deixar esse legado para os netos para fazer perdurar essa memória; o avô “é um personagem que, com a moldura da velhice, com as suas rugas, valida, certifica histórias da existência dos netos e dos pais destes” (avó Henrique); ou “pensamos que avô e avó são as doces recordações que os netos vão sempre lembrar, como a compreensão e a bondade e o exemplo” (avô Artur e avó Sílvia); ou “os avós transmitem aos netos os seus saberes e experiências como forma de perpetuar a sua memória” (avô José), refletidos em valores, comportamentos e atitudes perante a vida: “Para os netinhos foram todos estes princípios, valores e exemplos que hoje tanto apreciam e fazem saber que os reconhecem” (avô Artur e avó Sílvia).
Os avós transmitem afetos que transportam um sentimento de segurança na experiência: “O afeto e a amizade transmitidos pelo avô, associados ao sentimento de segurança que este pode representar, potencializam-se quando a proximidade física entre ambos permite ao neto observar, ouvir, intervir e até contrariar o avô” (avô Henrique). Os avós asseguram a estabilidade: “A estabilidade dos avós transmite aos netos um sentimento de segurança”; ou “os avós são um porto de abrigo onde os netos se acolhem nos seus momentos de crise” (avô José).
Ser avô, ser avó é dar e receber um amor sem fim: “É sentir os abraços dos netos crescendo, sabendo que no baú das suas recordações estarão sempre aqueles avós que os confortam e os ajudam a crescer e a enfrentar o mundo com todos e os bons momentos” (avô Artur e avó Sílvia). Mas os avós também aprendem com os ensinamentos dos netos, partilhando as experiências do presente: “Quando estamos juntos, eu e o meu neto, somos como se fôssemos um só. Simultaneamente educadores e educandos de nós próprios, numa empatia infinita. Construímos, nestes dois anos, uma relação de liberdade incondicional” (avô Marcos).
Os netos trazem conforto aos avós, numa relação próxima de afetos e emoção: “‘Avó, está bem? Avó, precisa de alguma coisa? Olhe que nós estamos aqui para tudo o que a avó precisar.’ Este viver mútuo faz-me sentir que tenho muito mais a agradecer do que a pedir. Não há palavras que exprimam esta vivência” (avó Rosário). Ser avô é uma cumplicidade: “Com o meu neto não preciso de falar muito. Vamo-nos cruzando, consagrando a conivência, num olhar e um abraço com palmadinhas” (avô Marcos).
Sermos avós e netos é um prazer de parceria: “Quando o meu neto está em minha casa, ela deixa de existir e transforma-se num parque-aventura, onde os dois, indiferentes ao que se passa lá fora, nos deixamos encantar pela invenção de um novo mundo” (avô Marcos). Num mundo imaginativo e mágico “a nossa casa é o que nós queremos agora, mas continuamos a reinventar(-nos). As cadeiras transformam-se em escadotes para subirmos e ficar mais altos, com os braços no ar, como se fôssemos maiores do que todos os outros” (avô Marcos). Uma parceria ao toque é uma varinha mágica que aproxima gerações: “Pode assim estabelecer-se um passatempo entre o neto-aprendiz e o avô-feiticeiro” (avó Henrique), porque o “avô é pai ‘sem licença de condução’” (avô José), ou pai-avô: “‘Pai-avô é que sabe!’, dizia a minha avó aos netos” (avô Henrique).
Avós e netos – um porto de abrigo recíproco, venham de onde vierem as tempestades e as bonanças.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990