Cinema português: 10 filmes para descobrir
O que há no cinema português que tanto nos comove e impressiona? São as histórias, autênticos espelhos da sociedade, com tal realismo que sentimos que somos verdadeiramente nós, do outro lado da tela.
Desde os grandes clássicos do Cinema Novo português, como os filmes de José Fonseca e Costa, às obras-primas dos nossos dias, de João Canijo, Miguel Gomes ou Marco Martins, há algo que se perpetua no cinema português, como se fosse um dos seus mandamentos: ser a lente mais pura e fiel dos tão singulares portugueses. No país da saudade de quem vai para o mar, para as cidades ou para outro país, onde o dia-a-dia é muitas vezes difícil, seja nas aldeias do interior ou nos bairros dos subúrbios, o sorriso e a alegria quando nos sentamos à mesa ou num baile de verão nunca nos falta, e é essa peculiar dicotomia que o cinema português tantas vezes estuda e retrata.
Há, também, no cinema português, um impressionante cuidado com a fotografia e um talento sem igual para contar histórias – talvez pelo legado de Luís Vaz de Camões.
Em cada filme, há um olhar que disseca emoções e silêncios que dizem mais que alguns livros. Vale a pena por isso viajar pela nossa cinematografia – e não há melhor lugar para isso que a Filmin. A plataforma de streaming do “cinema que mudou as nossas vidas” reúne, numa colecção especial, dezenas de filmes onde se encontram alguns dos melhores de sempre e ainda pérolas pouco conhecidas.
Para sugerir dez filmes a não perder, começamos por “Kilas, o Mau da Fita” (1980), do consagrado José Fonseca e Costa, uma crónica de costumes sobre a noite lisboeta e um grande sucesso comercial na viragem dos anos 70 para os 80. Seguindo no tema dos retratos da típica folia portuguesa, “Aquele Querido Mês de Agosto” (2008), de Miguel Gomes, é um filme obrigatório. Uma viagem ao mês mais agitado no interior do país, quando muitos emigrantes regressam à terra e festa é palavra de ordem todos os dias. “Aquele Querido Mês de Agosto” foi um dos filmes seleccionados para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.
Porque os filmes portugueses conseguem levar-nos a viajar de norte a sul, para conhecer melhor o nosso país são imperdíveis os filmes “Alentejo, Alentejo” (2004), de Sérgio Tréfaut, um documentário sobre o cante alentejano e a sua simbologia para aquele povo, e “É na Terra e Não é na Lua” (2011), de Gonçalo Tocha, também um documentário mas desta vez sobre o Corvo, a ilha mais pequena do Arquipélago dos Açores, onde existem apenas “440 habitantes ou 450, uma cratera de vulcão, uma estrada, uma Câmara Municipal, um avião três vezes por semana, uma escola, um porto, uma igreja, um restaurante”.
Para retratos das nossas gentes, vale a pena ver “Terra Franca” (2018) de Leonor Teles. Este é um filme sobre um homem que vive, à beira do Tejo, numa antiga comunidade piscatória, entre a tranquilidade solitária do rio e as relações que o ligam à terra. Um documentário comovente e tão simples como belo. “A Herdade” (2020), de Tiago Guedes, é outra obra sem igual sobre a sociedade portuguesa dos anos 40, que atravessa a Revolução do 25 de abril até aos dias de hoje. Uma série forte e envolvente, capaz de mudar a nossa visão sobre o passado mais recente do nosso país.
São grandes histórias também “Mosquito” (2019), de João Nuno Pinto, sobre um jovem português na Primeira Guerra Mundial, que se perde do pelotão e parte numa longa odisseia mato adentro; “Sangue do meu Sangue” (2011) de João Canijo, sobre o amor incondicional e as graves consequências que pode trazer quando é capaz de tudo; “São Jorge” (2016), de Marco Martins, que retrata as dificuldades de um boxeur desempregado quando chega a Troika e as medidas europeias ao nosso país; e “Tabu” (2012), de Miguel Gomes, uma viagem ao passado de uma idosa lisboeta temperamental que viveu uma história de amor e crime nos tempos do ultramar.