Valter Hugo Mãe é esta terça-feira o convidado do Encontro de Leituras
Contra Mim, uma autoficção que leva os leitores até à infância e adolescência do autor é a obra escolhida para a discussão. O evento acontece esta terça-feira, 12 de Janeiro, no Zoom, o ID da reunião é 913 8669 6623 e a senha de acesso 932185.
O novo livro de Valter Hugo Mãe, Contra Mim, uma autoficção que leva os leitores até à infância do autor em Angola, em Paços de Ferreira e nas Caxinas, é a obra que vai estar em discussão no segundo Encontro de Leituras, o clube do livro do PÚBLICO e do jornal brasileiro Folha de São Paulo. “Estamos sempre à procura das nossas grandes crianças. Essas que começámos por ser e que se tornam paulatinamente inacessíveis, como irreais e até proibidas. Crianças que caducaram, partiram, tantas por ofensa, tantas apenas por esquecimento”, escreve na página 17 deste livro.
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O novo livro de Valter Hugo Mãe, Contra Mim, uma autoficção que leva os leitores até à infância do autor em Angola, em Paços de Ferreira e nas Caxinas, é a obra que vai estar em discussão no segundo Encontro de Leituras, o clube do livro do PÚBLICO e do jornal brasileiro Folha de São Paulo. “Estamos sempre à procura das nossas grandes crianças. Essas que começámos por ser e que se tornam paulatinamente inacessíveis, como irreais e até proibidas. Crianças que caducaram, partiram, tantas por ofensa, tantas apenas por esquecimento”, escreve na página 17 deste livro.
O encontro virtual com o escritor, editor, artista plástico e músico português que nasceu em Angola, em 1971, vai realizar-se esta terça-feira, dia 12 de Janeiro, às 22h em Lisboa (19h em Brasília, 23h em Luanda). Todos os participantes podem falar sobre o livro em debate. Para esta segunda sessão com Valter Hugo Mãe, o ID da reunião é 913 8669 6623 e a senha de acesso 932185. Aqui fica o link de acesso.
O clube que junta leitores de língua portuguesa acontece uma vez por mês na plataforma Zoom e discute romances, ensaios, memórias e obras de jornalismo literário, na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. É moderado pelas jornalistas Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e por Úrsula Passos, editora-assistente de Cultura do jornal paulista e coordenadora do Clube de Leitura Folha, que existe desde 2017 e só discute obras de ficção.
O poder de uma ambulância
Contra mim, foi publicado em Portugal em Outubro pela Porto Editora e acaba de chegar às livrarias brasileiras numa edição Biblioteca Azul. A partir de quinze anos de textos dispersos e apontamentos, o escritor revisita nesta obra os primeiros anos da sua vida. Este ano “introspectivo”, em que “todos nos vimos a medo e tantos padeceram ou não resistiram”, serviu para o autor do romance Homens Imprudentemente Poéticos, de 2016, regressar a estes fragmentos. Foi “exactamente como regressar a mim sem maior desejo do que aquele de encontrar a motivação mais antiga: a de que ainda haverá beleza”, confessa o autor que com o romance O remorso de Baltazar Serapião (ed. Porto Editora) recebeu em 2007 o prémio José Saramago.
A segunda edição portuguesa e a edição brasileira trazem um prefácio que a escritora e académica brasileira Nelida Piñon escreveu em Novembro de 2020: “Suas evocações ‘registram’ o mundo ao alcance da sua infância, motivo de uma narrativa apta a esmiuçar a genealogia familiar fortemente portuguesa e inserir-se às formalidades sociais vigentes, aos preconceitos, aos poderes constituídos, aos mistérios de uma nação. Um relato ao qual ele atrela-se sem cautela ou pudor, mas tutelado pelos fundamentos de uma linguagem de refinado lavor literário.”
Foi em 2011 que Valter Hugo Mãe foi ao Brasil “como escritor, publicado e recebido” e na plateia da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) emocionou e arrepiou leitores que o aplaudiram de pé. Muitos choraram com ele quando se emocionou ao ler uma “Carta para a FLIP”, um relato sobre a sua relação como o Brasil, escrito horas antes do debate em que participou. Começava assim: “Quando eu tinha 8 anos veio morar para a casa ao lado da dos meus pais um casal de brasileiros com duas filhas moças. Ao chegar, o casal ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da nossa vila e toda a vila se emocionou. Foram os primeiros brasileiros que eu vi fora da tv, fora das novelas. Eu e os meus amigos fomos ao quartel dos bombeiros apreciar a ambulância nova, bem pintada, que se mostrava a todos como prova bonita da bondade de alguém. O meu pai tinha um carro pequeno, velho, difícil de levar a família inteira dentro. A ambulância era enorme, um luxo, como se fosse para transportar doentes felizes. Eu e os meus amigos ficamos estupefactamente felizes.” Nessa altura, alguém na plateia da FLIP vaticinava que tinha ali nascido “uma pop star”.
Infância angolana
A primeira edição do Encontro do Leituras, que se realizou a 15 de Dezembro e teve como convidado o escritor Ondjaki que está a comemorar 20 anos de vida literária, juntou leitores de Portugal, Brasil e Angola, mas também da Argentina, dos Estados Unidos, da Roménia e de Itália através da plataforma Zoom. Houve lotação esgotada (o máximo de participantes por sessão é de cem pessoas) para conversar com o escritor angolano sobre o seu romance Bom Dia Camaradas (ed. Caminho).
Ondjaki, que participou no evento online, a partir de Luanda, teve a surpresa de encontrar o seu editor português, Zeferino Coelho, entre a assistência. Falou do seu método de trabalho, da importância da música no seu dia-a-dia, e de como mentiu ao seu editor angolano sobre esse seu primeiro romance. Lembrou, tantos anos depois, a marca que deixaram os camaradas cubanos na sua infância e na dos seus colegas de escola, todos personagens da obra em discussão. Recordou com saudade a Avó Agnette e o dia em que tudo o que ela lhe ia dizendo fez todo o sentido. E respondeu também a questões mais políticas, ligadas às utopias daqueles anos pós-independência. “A história está cheia de todas as possibilidades que não aconteceram”, afirmou Ondjaki, respondendo à pergunta de um leitor brasileiro.
Ao longo das duas horas da sessão, alguns participantes preferiram estar com a câmara desligada, outros ficaram só a ouvir. Entre aqueles que contaram o que sentiram ao ler a obra de Ondjaki e lhe colocaram questões, houve também quem anunciasse estar doente com covid-19, isolado em casa, mas mesmo assim com vontade de participar.