Da antiga inteligência natural à nova vacina
O essencial neste Programa de Vacinação é a informação. Informação credível e consistente. As pessoas, uma vez devidamente informadas, tudo farão para assegurar a protecção individual, familiar, comunitária e nacional. Por cada um e por todos.
A era das vacinas começa com Edward Jenner há 220 anos, quando introduziu a primeira imunização protectora que viria, em 1980, a estar na origem da erradicação da varíola. Seguramente, uma das maiores descobertas decorrentes de genial observação natural.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A era das vacinas começa com Edward Jenner há 220 anos, quando introduziu a primeira imunização protectora que viria, em 1980, a estar na origem da erradicação da varíola. Seguramente, uma das maiores descobertas decorrentes de genial observação natural.
Agora, também baseada em Inteligência Natural, foi introduzida, igualmente com êxito, a vacina para a covid-19, que poderá conduzir à eliminação de risco da infecção pelo novo coronavírus em prazo, certamente, mais curto do que o anterior. Isto é, os 180 anos da vacina jeneriana que eliminaram a varíola a nível mundial serão muito, mesmo muito, abreviados. Para tal, exige-se informação, organização e confiança.
Ora, a produção da nova vacina baseia-se num método de fabrico inovador. Surpreendentemente inovador. Foi apenas afinado em 2020. Em lugar de ser o agente viral causador de doença, atenuado ou inactivado, que promove protecção através de anticorpos (como acontece na vacina contra a paralisia infantil), agora a produção de anticorpos ocorre de maneira distinta. Inteligente. A injecção da molécula de Ácido Ribonucleico mensageiro (ARNm), obtida a partir das espículas do vírus, envia a mensagem (como se de um “telegrama” se tratasse) às células do organismo para produzirem proteínas iguais às espiculas das superfícies do vírus (spike) que, por sua vez, por serem estranhas, originam a produção de anticorpos pelo sistema imunitário.
Por outras palavras: engenhosamente, é essa mensagem, assim enviada para as células do organismo, que transmite “ordens” de fabrico da nova proteína que, por ser nova, as células competentes para a defesa imunitária não reconhecem como sua e que, por isso, induz o fabrico de anticorpos. Nestes termos, a seguir, já com anticorpos circulantes, se o coronavírus, eventualmente, penetrar na árvore respiratória da pessoa vacinada (imunizada), será neutralizado, eliminado. Evita-se a infecção, evita-se a doença e evitam-se as suas complicações.
Como resultado final do processo obtém-se redução de casos novos da infecção (menor incidência), redução do número de doentes internados em hospitais e em Unidades de Cuidados Intensivos (menor prevalência) e redução do risco de letalidade devida à covid-19.
Em resumo, redução da morbilidade e mortalidade específicas e da sobrecarga no sistema em geral e, em particular, no Serviço Nacional de Saúde.
O essencial neste Programa de Vacinação é a informação. Informação credível e consistente. As pessoas, uma vez devidamente informadas, tudo farão para assegurar a protecção individual, familiar, comunitária e nacional. É um processo que será aceite em todas as dimensões. Por cada um e por todos. Socialmente aceite. Sem reservas e com plena confiança, sublinhe-se.
Francisco George, Filipe Froes e Gonçalo Órfão são médicos; Leila Sales e Carmo Sanches são enfermeiras