Vitalina Varela é o filme português candidato à nomeação para os Óscares

Filme de Pedro Costa substitui Listen, de Ana Rocha de Sousa, que foi recusado pela Academia de Hollywood por não cumprir o critério que exige que pelo menos 50% do filme candidato seja falado em língua não-inglesa.

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Pedro Costa em 2019, na 72.ª edição do Festival de Locarno LUSA/URS FLUEELER

Vitalina Varela, de Pedro Costa, será o candidato português à categoria de Melhor Filme Internacional dos Óscares 2021, anunciou esta segunda-feira a Academia Portuguesa de Cinema. Listen, de Ana Rocha de Sousa, havia sido a primeira escolha da instituição nacional, mas a Academia de Hollywood considerou a longa-metragem não-elegível, uma vez que não cumpre o critério que exige que pelo menos 50% do filme candidato seja falado em língua não-inglesa.

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Vitalina Varela, de Pedro Costa, será o candidato português à categoria de Melhor Filme Internacional dos Óscares 2021, anunciou esta segunda-feira a Academia Portuguesa de Cinema. Listen, de Ana Rocha de Sousa, havia sido a primeira escolha da instituição nacional, mas a Academia de Hollywood considerou a longa-metragem não-elegível, uma vez que não cumpre o critério que exige que pelo menos 50% do filme candidato seja falado em língua não-inglesa.

Vitalina Varela estreou-se em 2019 no Festival de Locarno, na Suíça, onde recebeu o galardão máximo, o Leopardo de Ouro. A própria Vitalina, protagonista cabo-verdiana desta longa-metragem sobre a sua chegada a Portugal três dias depois do enterro do marido, com quem pouco esteve durante o longo casamento, venceu o prémio de melhor actriz. Desde então, o filme já foi exibido em mais de 50 festivais de cinema, tendo sido reconhecido em certames prestigiados como o Festival de Cinema de São Francisco, nos Estados Unidos, que em Abril deu ao realizador de 61 anos o prémio Persistence of Vision.

Escolhido numa votação-relâmpago pelos membros da Academia Portuguesa de Cinema, Vitalina Varela era, ao lado de Mosquito (João Nuno Pinto) e Patrick (Gonçalo Waddington), um dos três filmes que podiam substituir Listen na corrida às nomeações para os Óscares. Inspirada numa história real, a longa-metragem de Ana Rocha de Sousa conta a história de uma família portuguesa emigrada em Londres a quem é retirada a guarda dos filhos por suspeitas de maus-tratos — o filme é falado em inglês, em português e em língua gestual. Vencedor de seis prémios na 77.ª edição do Festival de Veneza — incluindo o Leão do Futuro e o Bisato d’Oro, galardão de melhor realização que voltou a distinguir o cinema português depois de em 2019 ter ido para o filme A Herdade, de Tiago Guedes —, foi o filme português mais visto do ano depois da estreia nacional, em Outubro.

Antes do anúncio da recusa por parte da Academia de Hollywood, o presidente da Academia Portuguesa de Cinema, Paulo Trancoso, já havia assinalado que a prevalência da língua inglesa em Listen poderia constituir um problema para a sua elegibilidade. “Esperemos que não haja entraves, só um comité específico fará a análise dos filmes. Mas não poderíamos coarctar o filme a ser candidato”, reflectiu em Novembro. “O filme tem língua inglesa, tem língua portuguesa, tem língua gestual, o contexto da linguagem está adequado, é uma história facilmente identificável que é sobre uma comunidade portuguesa”, acrescentou nessa ocasião, tentando justificar a validade da sua consideração para os Óscares.

Num comunicado enviado à imprensa na última sexta-feira, a Academia Portuguesa de Cinema sublinhou que contactou a Academy of Motion Pictures Arts and Sciences (AMPAS) “na fase de consideração de todos os filmes nacionais potencialmente elegíveis”, numa tentativa de perceber se a longa-metragem de Ana Rocha de Sousa poderia ser seleccionada. Em resposta, a AMPAS informou que a deliberação sobre a elegibilidade só poderia ser feita “após o encerramento do prazo regular de submissões, existindo sempre a possibilidade de submeter um novo candidato” caso o primeiro fosse rejeitado.

“Assim que a notícia da rejeição do filme foi divulgada, não faltaram reacções de surpresa ou indignação, partindo do falso pressuposto de que a decisão de enviar Listen aos Óscares fora tomada sem conhecimento dos regulamentos, ou de forma leviana. Nada mais longe da verdade”, defendeu-se Paulo Trancoso num artigo de opinião escrito para o PÚBLICO no sábado. “Arriscámos, confiantes de que as características específicas do filme constituíam fundamento suficiente para a sua aceitação, mas seguros de que uma eventual rejeição poderia ser rapidamente solucionada com o envio de outro filme.”