“Vivo num monte afastado dos palcos e com as mãos na terra”

Francisco Braz, o actor que representou Salazar, deixou a cidade e foi tratar das galinhas e da horta, em Alcoutim. Este é o seu testemunho.

Foto

A minha fuga para o campo foi instintiva — tenho aqui [Cortes Pereiras, Alcoutim] as minhas raízes familiares. Na fase do confinamento, a pandemia não foi muito sentida — não havia cafés, não havia nada, mas podia passear. A cena seguinte foi dramática — senti que o chão me estava a fugir debaixo dos pés. Começava a ler um livro, uma página, e punha de lado... Deixei de ler, de escrever, de pesquisar, de pensar. O que se passou não sei, acho que foi um mecanismo de defesa que se operou em mim — do género, não quero pensar. Não me deixei abater: fui para a horta plantar feijão, couves, pimentos, favas, ervilhas, e descobri — entre outras coisas — como é que, a partir da observação do céu e a lua, se adivinha quando chove e escolhe-se o momento certo para semear ou colher. Vivo num monte, afastado dos palcos e com as mãos na terra.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A minha fuga para o campo foi instintiva — tenho aqui [Cortes Pereiras, Alcoutim] as minhas raízes familiares. Na fase do confinamento, a pandemia não foi muito sentida — não havia cafés, não havia nada, mas podia passear. A cena seguinte foi dramática — senti que o chão me estava a fugir debaixo dos pés. Começava a ler um livro, uma página, e punha de lado... Deixei de ler, de escrever, de pesquisar, de pensar. O que se passou não sei, acho que foi um mecanismo de defesa que se operou em mim — do género, não quero pensar. Não me deixei abater: fui para a horta plantar feijão, couves, pimentos, favas, ervilhas, e descobri — entre outras coisas — como é que, a partir da observação do céu e a lua, se adivinha quando chove e escolhe-se o momento certo para semear ou colher. Vivo num monte, afastado dos palcos e com as mãos na terra.