O chão abre-se e somos engolidos pelos temas de Joana Guerra
Inspirada pelo deserto vermelho da região onde vive, a música portuguesa construiu um álbum em que traduz a terra sangrada de que é testemunha. Chão Vermelho é apresentado em concerto esta sexta-feira, nas Caldas da Rainha.
Não é muito habitual que um álbum comece a tomar forma a partir do título. Equivale um pouco a iniciar a construção de uma casa pelo tecto. Chão Vermelho, quarto disco da violoncelista (e vocalista) Joana Guerra, já tinha o título escolhido, a fotografia da capa seleccionada, já tinha toda a sua identidade fixada antes sequer de as canções existirem. Talvez houvesse já uns esboços, mas nada de muito elaborado ou definitivo. A maior certeza que habitava já na autora era a de que o cenário onde vive, uma aldeia na região de Torres Vedra (fortemente ligada à indústria do tijolo e da cerâmica), numa “espécie de deserto vermelho invadido por alguma natureza em regeneração”, a deixava tão fascinada e encantada que a música a criar em seguida teria de ser marcada pela relação com essa paisagem intensa e sugestiva.