Portugal pode precisar de 6400 rastreadores para inquéritos e seguimento de contactos covid
Estimativas de necessidade de recursos humanos para a próxima sexta-feira são das associações de administradores hospitalares e de médicos de saúde pública. Ministério da Saúde diz que “as estimativas apresentadas não correspondem às necessidades identificadas”.
É considerada uma das principais armas no controlo da pandemia, a par do uso de máscara e do distanciamento social: a realização de inquéritos epidemiológicos e o seguimento de contactos de risco de casos covid positivos. Na próxima sexta-feira Portugal pode precisar de 5173 a 6441 rastreadores, de acordo com as estimativas da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP).
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É considerada uma das principais armas no controlo da pandemia, a par do uso de máscara e do distanciamento social: a realização de inquéritos epidemiológicos e o seguimento de contactos de risco de casos covid positivos. Na próxima sexta-feira Portugal pode precisar de 5173 a 6441 rastreadores, de acordo com as estimativas da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública (ANMSP).
Ao PÚBLICO, o Ministério da Saúde diz que “as estimativas apresentadas não correspondem às necessidades identificadas”, sem adiantar o número de recursos necessários. E afirma que “continua empenhado na procura de soluções com vista à mobilização de rastreadores, de forma a dar a melhor resposta possível às necessidades existentes em cada momento da pandemia”.
As estimativas das duas associações usam a ferramenta Adaptt, adoptada pela Organização Mundial de Saúde, e os indicadores mínimos do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, sigla em inglês) relativos ao tempo de realização de um inquérito epidemiológico (45 minutos), número de contactos de risco que cada caso positivo gera em média (sete), o tempo do primeiro contacto de vigilância activa de cada uma dessas pessoas (20 minutos) e os contactos subsequentes até ao final do período de isolamento profiláctico (3,5 minutos) que já vêm de dias anteriores.
Com base no relatório da Direcção-Geral da Saúde (DGS), publicado na última quinta-feira, aplicam a mesma fórmula que tem sido usada para estimar para a semana seguinte o número de camas e recursos humanos em internamentos: para um cenário mais optimista uma redução de 2% no RT e para um mais pessimista um 2% no Rt. O que leva a que no cenário mais positivo para o dia 25 de Dezembro possam ser precisos 5173 rastreadores, dos quais 482 para a realização de inquéritos epidemiológicos. Já no cenário mais negativo, o número de recursos necessários chega aos 6441, sendo que destes 616 profissionais são para a realização dos inquéritos.
“Há muito tempo que dizemos que são precisos mais recursos, mas nunca tínhamos feito a conta. Os meios não existem. Temos um número que deveria existir e não existe nem de perto nem de longe. Isto significa que os colegas estão a priorizar o essencial que são os inquéritos epidemiológicos, pois não há tempo nem meios para as vigilâncias activas. Para cumprir a norma da DGS devia ter havido um reforço maior de recursos humanos”, aponta o presidente da ANMSP.
Ricardo Mexia estima que entre médicos de saúde pública, enfermeiros e técnicos sejam cerca de 1000 os profissionais que constituem as equipas de saúde pública. Em Julho, no Parlamento, a ministra contabilizou 360 médicos saúde pública, 300 enfermeiros e cerca de 500 técnicos superiores e outros técnicos de apoio. Já depois disso foram anunciados vários reforços, entre contratação de recém-especialistas de saúde pública, médicos internos e de várias especialidades, alunos de enfermagem, militares e recurso a professores sem carga lectiva.
“Houve alguns profissionais recrutados e gora houve um reforço feito com militares para a realização de inquéritos em atraso no Norte, que eram 20 mil. Mas com uma metodologia que não concordamos, de mandar emails para a pessoa preencher. Isso não é fazer um inquérito epidemiológico”, afirma. Também o presidente da APAH considera que “a limitação de recursos humanos está a condicionar a estratégia de rastreio de contactos”. “Devia existir um contingente de pessoas formadas com base nas estimativas do que vai ser preciso – e esta ferramenta permite fazê-lo – para activadas quando necessário”, defende Alexandre Lourenço.
Em resposta ao PÚBLICO, a DGS diz que, “de acordo com a informação extraída no do dia 8 de Dezembro, existem 461 profissionais de saúde ETI (equivalentes a tempo inteiro) a realizar inquéritos epidemiológicos”, mas sem adiantar quantos recursos estão a fazer seguimento de contactos de risco. Mas dá indicação do reforço que está a ser feito em várias regiões.
Assim, em Lisboa e Vale do Tejo “estão a reforçar as equipas três professores, 243 militares, 79 profissionais das autarquias” de várias áreas profissionais. “Estima-se que poderão vir a reforçar as equipas até um máximo de 200 pessoas”, acrescenta, referindo ainda os 150 médicos internos que desde o início do Verão estão a reforçar as equipas de inquéritos epidemiológicos. No Norte, o projecto de colaboração é “constituído por 106 militares, 65 técnicos superiores e 18 médicos dentistas”, além de médicos internos e estudantes enfermagem e medicina.
No Centro, conta-se com o apoio de “mais de oitenta profissionais de saúde (internos, enfermeiros, alunos de enfermagem, médicos reformados e outros técnicos e saúde)” e técnicos de algumas autarquia e no Alentejo as “forças armadas têm uma equipa sete dias por semana de dez elementos a fazer inquéritos e rastreio de contactos”, a que se juntam cinco profissionais de autarquias. No Algarve as equipas têm vindo a ser reforçadas, ao longo dos últimos meses, por profissionais de saúde contratados pela Administração Regional de Saúde.
Nos hospitais cansaço acumula-se
Já no que diz respeito à necessidade de camas de enfermaria e cuidados intensivos e recursos humanos para atender aos doentes com covid, as estimativas apontam para a existência de um total 3189 doentes nos hospitais no dia 25 de Dezembro, dos quais 493 em cuidados intensivos. Isto no pior cenário, já que no mais optimista poderão estar internados 2702 doentes, sendo que destes 426 em intensivos.
Segundo os dados do boletim desta sexta-feira da DGS, registaram-se mais 75 mortes – entre a de um jovem de 19 anos com doença grave associada - e 4336 novos casos de covid. Estavam internadas 3061 pessoas, das quais 484 em cuidados intensivos, o que significou um decréscimo em relação ao boletim anterior.
De regresso às estimativas para a sexta-feira seguinte, o número de doentes covid internados mantém altas as necessidades de recursos humanos afectas apenas às áreas covid, ainda que em menor número do que previsões anteriores. Mas que não é suficiente para aliviar a pressão. “Isto implica um esforço muito grande. É que além destes doentes, existem todos os outros [não covid] que necessitam de cuidados intensivos. E os recursos humanos não aumentaram. Estas pessoas estão na linha frente sobrecarregadas emocionalmente e em horas extras”, salienta Alexandre Lourenço, lembrando que se pode haver um aumento de casos em Janeiro.