Gonçalo Reis: “O meu ciclo na RTP termina aqui”
Gonçalo Reis já foi deputado pelo PSD e durante a sua primeira passagem pela RTP, entre 2002 e 2007, filiou-se no partido e contribuiu para o gabinete de estudos. Agora quer voltar ao sector privado e nega qualquer convite para a autarquia lisboeta.
O CGI vai escolher a administração através de uma empresa de head hunter. Tem vontade de continuar no cargo?
Não. Julgo que este tipo de instituições beneficia de um equilíbrio saudável entre estabilidade e renovação. Já contribui para a estabilidade ao fazer o mandato mais longo dos últimos 50 anos. O meu ciclo termina aqui: o meu mandato e o meu projecto estratégico terminam. Tenho a noção de dever cumprido e a partir daqui o CGI tomará as suas opções.
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O CGI vai escolher a administração através de uma empresa de head hunter. Tem vontade de continuar no cargo?
Não. Julgo que este tipo de instituições beneficia de um equilíbrio saudável entre estabilidade e renovação. Já contribui para a estabilidade ao fazer o mandato mais longo dos últimos 50 anos. O meu ciclo termina aqui: o meu mandato e o meu projecto estratégico terminam. Tenho a noção de dever cumprido e a partir daqui o CGI tomará as suas opções.
Fica até Março para fechar contas.
É uma questão de regras, sim. Quero fazer tudo de forma programada, com total serenidade e estou completamente disponível para fazer a melhor transição possível para a nova administração.
Admite que esse prazo seja ser mais longo? O novo contrato de concessão ainda está em discussão.
O contrato de concessão, tendo impacto para os quatro anos seguintes, deve ser assinado e assumido pela futura administração. Eu cheguei e tive tempo para trabalhar na revisão do contrato de concessão e é assim que deve ser.
Mas está fora de questão dizer que sim se o CGI o integrar na lista de pessoas a convidar a apresentar um plano?
Eu não vou entrar nesse processo. Depois de seis anos no serviço público tenho direito a exercer as minhas opções no sector privado e como cidadão.
Anteontem foi noticiado como candidato do PSD para a Câmara de Lisboa em 2021. Isso tem algum fundo de verdade? Foi sondado?
Não tem fundamento, não há cenário nenhum, não houve diligência nenhuma. Estou concentrado nas minhas funções de gestor até ao fim do mandato.
Já tem planos. Pelo menos sabe que vai para o sector privado. Qual a área?
Sou gestor e após a RTP pretendo regressar ao sector privado e mais não vou dizer.
O contrato de concessão deve aumentar ou aliviar as obrigações de serviço público tendo em conta o panorama de mudança do sector?
Não tenho uma resposta uniforme. O contrato de concessão deve contribuir para a relevância da RTP, do serviço público, cobrindo as áreas que são decisivas na sociedade actual.
O seu auto-balanço como gestor financeiro é muito positivo. E em termos de imagem pública da RTP?
A percepção que o cidadão tinha da RTP como uma empresa problemática, instável, que às vezes cumpria e outras não cumpria, que às vezes tinha bons resultados e outras não, que às vezes fazia serviço comercial e outro serviço cultural… julgo que essa imagem de instabilidade foi substituída por uma de previsibilidade, de propósitos claros, de estratégia definida.
Isso é como gestor. E como espectador, qual foi a percepção que passou, sobretudo nestes dois anos, das substituições das direcções de Informação? Fizeram mossa na credibilidade da informação da RTP?
Estatisticamente, as direcções de conteúdos na minha presidência foram as mais longas dos últimos 20 anos, por isso estabilidade houve. Imobilismo não. A RTP é um player activo no mercado, com papel relevante com capacidade de experimentação. E quem experimenta, arrisca, lança novas iniciativas muitas vezes tem que corrigir o tiro.
Está a incluir aí a substituição da direcção de Maria Flor Pedroso?
Os processos de substituição de direcções na RTP têm sempre impacto. Porque a RTP tem impacto e mexe com os portugueses. As direcções de Paulo Dentinho e Maria Flor Pedroso tinham qualidades, atributos e agora está muito bem entregue a António José Teixeira. No big picture da RTP, os últimos anos são comparativamente anos de enorme estabilidade em termos de equipas directivas.
O CGI foi visto como uma espécie de portão entre a RTP e os Governos. Mas houve episódios de dúvidas sobre influência do Governo.
As decisões sobre direcções de programas couberam, cabem e vão continuar a caber à administração. São decisões relevantes e conversadas com os vários órgãos da empresa, mas cabem à administração. Em seis anos trabalhei com Poiares Maduro, João Soares, Castro Mendes, Graça Fonseca, Nuno Artur Silva e o posicionamento e estratégia da RTP nunca mudaram com a rotação dos governos e nunca foram definidas externamente. Guiei-me sempre pelos meus vectores.
Isso foi a administração. E as direcções de Informação?
Exactamente a mesma coisa [repete seis vezes]. Foram anos de autonomia de gestão, de não interferência dos governos. A RTP beneficiou desse espaço e o cidadão também.
É mais fácil falar com o Governo tendo do lado de lá Nuno Artur Silva, com experiência na casa?
Conhece o sector e a RTP e isso é um ponto positivo. Mas eu não queria distinguir... Nestes seis anos lidei com uma série de responsáveis governamentais, todos fizeram o seu melhor, todos têm competências específicas e, ao contrário do que as pessoas julgam, para o posicionamento, para o dia-a-dia e estratégia da RTP, a posição dos governantes hoje é muito menos relevante do que se julga. A RTP actua num regime de enorme independência.