O PÚBLICO informa ou aconselha?
De acordo com Milan Kundera, “a cultura baseia-se no individuo, os media conduzem à uniformidade; a cultura ilumina a complexidade das coisas, os media simplificam-nas”. Ao aconselhar, mais do que a informar, estará o PÚBLICO a contribuir para a simplificação e uniformização dos seus leitores?
Com o destaque que a Cultura tem no jornal, era inevitável que as recentes mudanças gráficas fossem questionadas por muitos leitores. José de Pinho Borges lamenta o facto de “ter deixado de existir a página com a ‘agenda cultural’, onde se podia consultar em que salas eram exibidos os filmes, espectáculos de teatro, dança, exposições (…). Entendo que era um serviço relevante que prestavam à cultura (e peço) que, sem prejuízo de outras opções, reponham essa página de informação.”
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Com o destaque que a Cultura tem no jornal, era inevitável que as recentes mudanças gráficas fossem questionadas por muitos leitores. José de Pinho Borges lamenta o facto de “ter deixado de existir a página com a ‘agenda cultural’, onde se podia consultar em que salas eram exibidos os filmes, espectáculos de teatro, dança, exposições (…). Entendo que era um serviço relevante que prestavam à cultura (e peço) que, sem prejuízo de outras opções, reponham essa página de informação.”
No mesmo sentido aponta a carta em que a leitora Maria Teresa Alves da Silva, de Lisboa, exprime o seu desagrado: “Desapareceu também o cartaz-programação dos filmes em salas de cinema. Pior, o leitor do PÚBLICO em papel é remetido para o PÚBLICO digital. E o direito de opção? Então, agora que as salas de cinema lutam pela sobrevivência, tal como outras formas de cultura, é esta a opção do PÚBLICO? Porque não, em vez de duas páginas para a programação TV e respectivas séries, dar uma para o Cartaz (são só duas colunas) e, já agora, o restante espaço para as Exposições e Galerias de Arte?”
Antes de ouvir o director do PÚBLICO consultei o editorial de 13.11.2020, onde a direcção editorial do jornal anuncia nos seguintes termos as alterações introduzidas nesta área: “As páginas dos roteiros serão profundamente reformuladas, com menos listagens e mais recomendações.”
A decisão está tomada, mas não está fundamentada. O que se deduz é que o jornal, em vez de oferecer informação, optou por apontar caminhos, limitando, do mesmo passo, a liberdade de escolha de quem o lê. É uma opção fechada. Sem prejuízo de “recomendar” o que bem entender, não me parece louvável que o PÚBLICO opte, sobretudo, por “encaminhar” o leitor para o que julga recomendável.
Coloquei o assunto ao director adjunto Tiago Luz Pedro, que defende a decisão tomada nos seguintes termos:
“Decidimos suspender a publicação da listagem das salas e sessões de cinema por três razões essenciais: primeira, devido à situação de grande instabilidade no sector por causa da pandemia, com quebras significativas na oferta de filmes e na exibição que se traduziram em menos 80% de espectadores em sala; segunda, porque a listagem tal como estava ocupava demasiado espaço nos roteiros, o que nos obrigava a sacrificar muita informação relevante do lado das exposições e das artes ditas de palco; e, terceira, porque oferecemos um dos sites sobre cinema – o Cinecartaz – mais visitados do país, onde essa pesquisa pode ser feita de forma bem mais intuitiva e que só atesta a importância que lhe damos como a primeira das indústrias culturais.”
“De notar que o facto de termos optado por suspender essa publicação não significa que o cinema esteja arredado das nossas páginas: todos os dias, o leitor continua a encontrar aí as sinopses dos filmes em estreia, em cartaz e ciclos e exibições especiais…”
“A decisão agora tomada não obsta a que seja reavaliada quando retomarmos alguma normalidade nos hábitos de fruição cultural. Não abdicamos da nossa função mais utilitária e sabemos bem o quanto os leitores a valorizam. Em todo o caso, não renunciaremos ao novo perfil de roteiros que ensaiámos com este redesenho gráfico, já não como mero depósito de listas e mais como guia de sugestões e recomendações diárias para o melhor da oferta cultural no país.”
O provedor faz votos para que a decisão seja efectivamente reavaliada. Como também escreve a leitora Maria Teresa Alves da Silva, “a escolha deve ser livre para o público que lê o jornal, seja em papel ou não”.
O novo grafismo e a leitura do PÚBLICO no digital suscitam dúvidas ao leitor Alberto Castro: “Atrever-me-ia a dizer que, hoje, o PÚBLICO terá mais leitores no digital do que na versão em papel. Desse modo, não deveria a discussão incluir essa dimensão? (...) Ou consideram que é indiferente? Se não for, não corremos o risco de estar a adequar o PÚBLICO a um público ‘em vias de extinção’, perdoe-se o excesso?”
Enviei as perguntas do leitor a Tiago Luz Pedro. A resposta dele não justifica qualquer comentário do provedor – que se considera esclarecido: “Temos perfeita consciência de que somos cada vez mais lidos no site, o que é válido tanto para os conteúdos exclusivamente digitais como para a própria edição impressa. Esse facto acentuou-se sobretudo a partir de Março, com o primeiro confinamento, em que houve uma migração substancial de leitores que antes nos compravam em banca e que se tornaram assinantes digitais. Para se ter uma ideia, cerca de um terço dos nossos mais de 35 mil assinantes actuais descarregam diariamente o PDF da edição impressa, um número sem precedentes na história do PÚBLICO e que acreditamos que vá continuar a crescer.”
“Dito isto, e indo directamente à questão do leitor, o redesenho gráfico do jornal é sempre feito a pensar na melhoria da sua experiência de leitura, seja ela feita em papel ou em suportes digitais. Por isso mesmo, o lançamento do novo grafismo foi acompanhado de melhorias também na página reservada à edição impressa no site, onde tornámos mais directo e intuitivo o acesso ao nosso arquivo. E em breve lançaremos uma versão melhorada do nosso e-reader, para proporcionar a todos os que nos lêem uma experiência de leitura ainda mais completa, atractiva e confortável.”
O tema do Bartoon continua a merecer protestos de leitores, a que a direcção do PÚBLICO já respondeu. Voltar a esse tema seria um exercício repetitivo – salvo num ponto levantado pelo leitor João Elias: “Qual é a opinião (de) Luís Afonso, em relação a esta mudança? Ele foi ouvido antes de ela ser tomada?”
Responde o director, Manuel Carvalho: “Sim, a solução encontrada pela direcção editorial e a directora de arte foi comunicada previamente ao Luís Afonso. Nem poderia ser de outra forma, dada a relação pessoal e profissional que temos com ele há muitos anos. Sobre a sua opinião, devo dizer que ele não se opôs à solução encontrada. Mais, já com a edição nas bancas, o Luís Afonso ficou mais convencido de que a solução encontrada não causa danos ao prestígio do seu Bartoon.”
A resposta do director é diplomática: Luís Afonso “não se opôs”, mas, se bem percebo, também não apoiou “a solução encontrada”, a qual “não causa danos” ao Bartoon, mas também não é certo que o favoreça.
A mais recente correspondência dos leitores sobre o Bartoon centra-se agora no que poderia ser “um mal menor”. Resignados, admitem que o Bartoon seja apresentado ao lado do Editorial, mas sugerem que recupere a sua anterior forma de tira. O leitor que, neste momento e circunstancialmente, também é o provedor do PÚBLICO, junta a sua súplica à deles. Em paralelo, esse mesmo leitor toma a liberdade de sugerir a Luís Afonso que faça um Bartoon sobre as andanças do Bartoon. O autor tem sempre uma opinião sobre o destino que foi dado à sua obra.