Nos livros de receitas, “os olhos também comem e sonham”
Os livros de receitas estão cada vez mais bonitos e vencem prémios no exterior. Fomos falar com editoras e autoras que privilegiam a imagem sem esquecerem o sabor.
Em comum, Patrícia Nascimento e Rosa Cardoso têm a amizade, o amor pela pastelaria, o terem criado e alimentado blogues em torno dessa paixão e, recentemente, cada uma ter publicado um livro de receitas, só com propostas doces. Estes estão cada vez mais bonitos e ser blogger contribui para tal, acredita Rosa Cardoso, que se formou em arquitectura. “O meu lema desde o início do blogue, foi apresentar receitas bonitas, irresistíveis e sobretudo deliciosas. As minhas receitas têm tanto de bonito como de delicioso”, declara Patrícia Nascimento, fotógrafa e food-stylist.
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Em comum, Patrícia Nascimento e Rosa Cardoso têm a amizade, o amor pela pastelaria, o terem criado e alimentado blogues em torno dessa paixão e, recentemente, cada uma ter publicado um livro de receitas, só com propostas doces. Estes estão cada vez mais bonitos e ser blogger contribui para tal, acredita Rosa Cardoso, que se formou em arquitectura. “O meu lema desde o início do blogue, foi apresentar receitas bonitas, irresistíveis e sobretudo deliciosas. As minhas receitas têm tanto de bonito como de delicioso”, declara Patrícia Nascimento, fotógrafa e food-stylist.
Baunilha, Bolos ao Sabor das Estações, editado em Outubro pela Casa das Letras, é o primeiro livro de Patrícia Nascimento, que concorre na categoria de Melhor Livro de Autor/Blogger, nos prémios Gourmand World Cookbook Awards 2020, os chamados “Óscares dos livros de cozinha". Por agora, é a vencedora portuguesa nesta categoria, mas só no início de Junho do próximo ano serão conhecidos os eleitos a nível internacional. Após 11 anos do blogue Coco e Baunilha, este prémio é o reconhecimento do trabalho que tem feito, diz a autora. “É muito recompensador”, confessa.
Rosa Cardoso, que publicou A Sair do Forno, editora Arena, uma chancela Penguin Random House, informa que as fotografias estão a seu cargo e que as ilustrações, que servem para melhor explicar algumas técnicas, por exemplo, como rechear éclairs, foram desenhadas pelo seu namorado, Pedro MC Fernandes. Aliás, a sua formação em arquitectura, onde teve aulas de escultura, pintura e fotografia, permitiram-lhe olhar para a pastelaria de uma maneira diferente e que se reflectiu no blogue Be Nice, Make a Cake, criado em 2013. “Às vezes, quando estou a dar formação sobre bolos em camadas, comparo com os pilares, aquelas estruturas em aço e cimento”, brinca.
Também Patrícia Nascimento é a responsável pelas imagens quer do blogue quer do livro. Com formação em fotografia, explora esta prática, experimentando várias técnicas. O resultado é muito distinto do dos tradicionais livros de receitas, reconhece. “É um estilo próprio de fotografia denominado chiaroscuro, em que se usam fortes contrastes de sombra e luz. Mas também uso o bright mood, sempre com luz natural. Outro estilo que uso é o still life ou natureza-morta”, enumera.
“Sentir e manusear”
Nos últimos anos, as editoras têm feito uma aposta na imagem dos livros de receitas, reconhece Marta Ramires, editora responsável pela linha de livros da área de gastronomia da Casa das Letras, do grupo Leya. A ideia é “diversificar esteticamente e adequar a escolha do fotógrafo ao conceito do livro e ao público a que se destina”, explica. Por seu lado, Cristina Lourenço, editora da Marcador, uma chancela da Presença, discorda e diz que essa foi sempre uma preocupação, a de tornar os “livros apelativos”.
“Quem compra livros de culinária valoriza a fotografia e o design. Os olhos também comem e sonham. Quem compra livros não quer apenas uma receita rápida para fazer. Quer algo que fique, que possa folhear e a que possa voltar sempre que quer experimentar algo novo”, defende Marta Ramires ao PÚBLICO, justificando o investimento que é feito numa época em que há aplicações, blogues e sites. É este “sentir e manusear” que diferencia a receita de um livro de uma da Internet, defende Cristina Lourenço. “Quando se está a seguir uma receita na Internet, tem de se estar sempre a carregar no telemóvel, senão o ecrã bloqueia. Um livro mantém-se aberto”, acrescenta.
Além disso, há sempre um acrescento, da Internet para o papel, apontam Patrícia Nascimento e Rosa Cardoso. No caso das receitas que escolheu para o seu livro, a autora de Baunilha refere que reinventou algumas e criou outras com novas combinações de sabores. Já a autora de A Sair do Forno, cujo livro tem 50 receitas de bolos, pão e sobremesas de forno, confessa que “é impossível fazer uma receita sem dar um toque especial”. Algumas aprendeu com a mãe, durante a pandemia, altura em que regressou à aldeia onde cresceu, perto de Coimbra, e onde aproveitou para terminar o livro.
E quem é a concorrência? Rosa Cardoso prefere falar da amizade que a une a outras bloggers. Por exemplo, Rita Nascimento, do blogue La Dolce Rita e que já publicou quatro livros - o último foi Um Bolo por Semana, da Arte Plural Edições -, foi a primeira a saber do livro, fora do seu círculo familiar. “Os livros mais bonitos são de pessoas que têm blogues, como Patrícia Nascimento. As bloggers têm uma sensibilidade especial porque têm outras profissões e trabalham melhor a imagem”, defende a profissional que dá formação na área da pastelaria. Já Patrícia Nascimento prefere não falar em concorrência e justifica: “Há muitos talentos em Portugal, cada um com o seu estilo próprio, que admiro muito. Lá fora a mesma coisa, são imensos.”