“Má notícia” atrasa vacinação: Pfizer vai reduzir em 20% quantidade de doses no primeiro trimestre

Portugal está preparado para começar a vacinação contra a covid-19 mal as primeiras doses cheguem, garante o coordenador do grupo de trabalho, Francisco Ramos. Governo está a preparar campanha de sensibilização para a importância da vacina, mas esta será voluntária e quem a recusar “deve ser respeitado”. Forças Armadas não vão fazer a distribuição.

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A identificação das pessoas com cormobilidades já está a ser feita segundo Francisco Ramos Daniel Rocha

A primeira fase da vacinação contra a covid-19 em Portugal apenas deverá terminar em Março ou Abril e não em Fevereiro, como estava previsto no cenário mais optimista, porque a Pfizer-BioNTech reduziu em 20% a capacidade de produção, no primeiro trimestre de 2021, das doses da sua vacina, a qual deverá receber luz verde de Agência Europeia do Medicamento já na próxima segunda-feira.

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A primeira fase da vacinação contra a covid-19 em Portugal apenas deverá terminar em Março ou Abril e não em Fevereiro, como estava previsto no cenário mais optimista, porque a Pfizer-BioNTech reduziu em 20% a capacidade de produção, no primeiro trimestre de 2021, das doses da sua vacina, a qual deverá receber luz verde de Agência Europeia do Medicamento já na próxima segunda-feira.

Ouvido esta quarta-feira no Parlamento, o coordenador da task force para o Plano Nacional de Vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos, assumiu que esta “má notícia” vai ter implicações no calendário de vacinação dos primeiros grupos prioritários, que já não ficará concluída assim até Fevereiro, mas provavelmente se prolongará até “Março ou Abril”.

Lembrando que a Pfizer anunciou a disponibilidade para fazer entrega num espaço de três dias, mal a vacina seja aprovada, Francisco Ramos assegurou, porém, aos deputados que, “mesmo que ocorra no dia 24, na noite de Natal, teremos as pessoas indicadas e habilitadas para receber as vacinas” e será possível iniciar logo a operação.

O país estará “disponível para começar a vacinar assim que [as primeiras doses] chegarem”, disse, considerando que “seria intolerável” estas não serem "utilizadas de imediato”. “São 11h30. Se, eventualmente, por algum passe de magia, as vacinas chegassem às 11h45, quero garantir que à tarde teríamos condições de estar a administrar vacinas num qualquer centro de saúde de Portugal”, enfatizou Francisco Ramos na audição conjunta da Comissão Parlamentar de Saúde e da comissão eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia.

Quanto à marcação da inoculação para as pessoas com mais de 50 anos e patologias de risco mais grave que constituem um dos primeiros grupos prioritários (a par dos funcionários e os idosos residentes em lares, dos profissionais de saúde e das forças de segurança, 950 mil no total), esta só arrancará quando houver datas seguras, até porque, ilustrou, “o pior que podia acontecer era marcar datas fixas” mas “depois afinal as vacinas não terem chegado”.

Unidades móveis de vacinação

Sobre os locais de vacinação, o coordenador da task force especificou que, além dos espaços nos centros de saúde, as unidades móveis que já existem nas unidades de cuidados na comunidade serão reforçadas para irem aos lares e ao domicílio, se necessário, e adiantou que a Fundação Calouste Gulbenkian se disponibilizou para criar mais unidades deste tipo. Já na segunda fase da operação, que envolve 2,7 milhões de potenciais cidadãos a vacinar, está a ser equacionada a possibilidade de criar “centros de vacinação nos centros urbanos com maior acessibilidade e eventualmente maior conforto”.

Se a segunda fase já implicará mais recursos, a primeira não será complicada, na perspectiva de Francisco Ramos. A administração de “cerca de 50 mil doses por dia” não deverá envolver mais do que 20% dos enfermeiros dos centros de saúde, pelo que a actividade relacionada com os doentes sem covid-19 não será afectada, asseverou. “As normas de administração serão divulgadas esta semana, os consumíveis [seringas, agulhas…] estão previstos e a segurança do processo está assegurada pelas nossas forças de segurança”, acrescentou. E, numa altura em que, segundo uma sondagem da Universidade Católica, apenas 61% dos portugueses se declaram disponíveis para serem vacinados assim que for possível, aquele responsável adiantou que está a ser preparada uma campanha capaz de “reforçar a confiança dos portugueses na vacina”. 

Francisco Ramos relembrou ainda que a vacinação será voluntária. “Acho que seria um enorme erro torná-la obrigatória, com todas as consequências sociais, sociológicas e psicológicas que isso acarretaria. Temos 40 anos de experiência do Programa Nacional de Vacinação, que é uma jóia da coroa do nosso SNS, que funciona muito bem e que tem como característica não ser obrigatória, mas voluntária”, justificou, para defender: “Quem recusar tomar a vacina deve ser respeitado, seja profissional de saúde ou seja quem for”. 

Também a cadeia de distribuição está montada e pronta a ser accionada assim que a vacina chegue aos três pontos previstos de entrega em Portugal – um no continente e os restantes nos Açores e na Madeira. A distribuição não será feita pelas Forças Armadas, mas “através de organizações e por instrumentos certificados e licenciados para a distribuição de medicamentos”. Quanto à cadeia de frio, Francisco Ramos esclareceu que o armazenamento a 70 graus negativos é requerido apenas nos locais de entrega e armazenamento das diferentes doses das vacinas. Estas, segundo disse, podem ser guardadas nesses pontos centrais durante seis meses e poderão, depois de sair, permanecer durante 30 dias nas caixas térmicas que são fornecidas pelo fabricante.

“Depois de abertas as caixas, há cinco dias para serem administradas as vacinas que contêm e aí as condições de conservação exigidas são frigoríficos semelhantes aos frigoríficos domésticos”, disse, para sublinhar que o importante é que “a cadeia de distribuição seja ágil para que as vacinas não andem a passear por Portugal, mas que saiam do seu ponto de armazenamento para o seu destino e sejam administradas rapidamente às pessoas. 

Garantindo que o trabalho de identificação dos doentes com mais de 50 anos de idade e patologias de maior risco “já está a ser feito”, Francisco Ramos esclareceu que as pessoas ainda não começaram a ser chamadas porque “não houve ainda nenhuma certeza” quanto à data de chegada das vacinas. E insistiu na ideia de que não será por falta de capacidade de resposta dos centros de saúde que a vacina deixará de ser administrada atempadamente, a um ritmo de 50 mil inoculações diárias “e sem prejudicar a actividade não relacionada com a covid”.

Críticas à Associação de Farmácias

Questionado sobre a não inclusão das farmácias nesta operação, assegurou que “gostaria muito” que isso acontecesse, mas reiterou que o plano de vacinação arrancará nesta primeira fase com os profissionais que estão mais treinados e preparados para o fazer nos centros de saúde. Recordou, a propósito, o que aconteceu com a vacinação contra a gripe, que correu mal, considerando que a principal associação do sector, a Associação Nacional de Farmácias (ANF), foi “responsável pelo insucesso”, por ter “ajudado a criar falsas expectativas na população”.

“A forma como foi gerido esse processo não correu bem e quero reafirmar que as farmácias foram vítimas também de uma deficiente organização. A minha avaliação é que a responsabilidade desse insucesso é da maior associação representativa das farmácias [ANF]. A sua participação no processo foi mais um obstáculo ao sucesso do que uma ajuda, ajudando a criar falsas expectativas à população”, concluiu.