“Sem uma Bielorrússia livre, não haverá uma Europa livre”, diz Svetlana Tikhanouskaia
Parlamento Europeu entregou o Prémio Sakharov à oposição democrática da Bielorrússia. David Sassoli disse que a UE está ao lado do povo bielorrusso.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020 foi entregue esta quarta-feira no Parlamento Europeu à oposição democrática da Bielorrússia, que esteve representada em Bruxelas por Svetlana Tikhanouskaia e Veronika Tsepkalo.
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O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2020 foi entregue esta quarta-feira no Parlamento Europeu à oposição democrática da Bielorrússia, que esteve representada em Bruxelas por Svetlana Tikhanouskaia e Veronika Tsepkalo.
“Uma parede invisível de medo foi construída à nossa volta e reteve-nos durante quase três décadas. Mas este ano, isso mudou e acreditamos que essa parede pode ser derrubada, tijolo por tijolo”, afirmou Svetlana Tikhanouskaia, no seu discurso perante os deputados do Parlamento Europeu.
“Este ano, o mundo presenciou o despertar bielorrusso”, disse Tikhanouskaia, exilada na Lituânia desde as eleições de 9 de Agosto que deram a reeleição ao Presidente Aleksander Lukashenko com 80% dos votos, consideradas fraudulentas pela União Europeia, que não reconheceu a legitimidade do novo mandato do autocrata que governa a Bielorrússia há 26 anos.
Desde as eleições, milhares de bielorrussos têm saído quase diariamente às ruas para exigir novas eleições livres e justas, enfrentando a repressão por parte das autoridades, que têm recorrido à violência contra manifestantes pacíficos.
A “coragem, resiliência e determinação” da oposição bielorrussa, nas palavras do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, levaram a que o Prémio Sakharov de 2020, no valor de 50 mil euros, anunciado em Outubro, fosse entregue ao conselho de coordenação, um órgão criado pela oposição para facilitar a transição pacífica de poder. A maioria dos seus membros, como Svetlana Tikhanouskaia ou Veronika Tsepkalo está no exílio, enquanto outros, como Maria Kolesnikova, estão presos.
“Estamos ao lado dos que foram alvo de violência, que foram presos e que se vêem privados dos seus direitos fundamentais”, garantiu David Sassoli, sublinhando que a União Europeia não pretende interferir nos assuntos internos da Bielorrússia, mas sim estar ao lado do povo bielorrusso.
“O povo bielorrusso demonstrou que nenhum autoritarismo pode bloquear a mudança e a abertura de um novo capítulo na história do vosso país. A vossa luta é também a nossa luta”, acrescentou Sassoli.
Sobre a distinção do Parlamento Europeu, Svetlana Tikhanouskaia referiu que o “Prémio Sakharov vai marcar um novo início para a Bielorrússia” e garantiu que a oposição pró-democracia vai derrubar Aleksander Lukashenko.
“Estamos destinados a ganhar, e vamos ganhar”, assegurou Tikhanouskaia, dedicando o prémio aos bielorrussos que continuam a sair às ruas para exigir a saída de Lukashenko do poder.
A líder da oposição pró-democracia pediu ainda mais acção à União Europeia, nomeadamente o alargamento das sanções contra o regime.
“Apelamos à Europa que nos apoie agora, não amanhã ou algures no futuro. Defender os direitos humanos e a democracia não é ingerência, é um dever”, sublinhou Tikhanouskaia, insistindo que “sem uma Bielorrússia livre, não haverá uma Europa livre”.
Veronika Tsepkalo, mulher de Valeri Tsepaklo, ex-embaixador bielorrusso nos Estados Unidos que foi impedido de concorrer às presidenciais e se exilou com a família na Polónia, recordou os presos políticos na Bielorrússia e dedicou o Prémio Sakharov aos “homens e mulheres que saem às ruas da Bielorrússia há mais de quatro meses para exigir democracia”.
“Temos orgulho de ser bielorrussos, do nosso povo, e não vamos desistir. A vitória está próxima”, garantiu Tsepkalo, que, juntamente com Svetlana Tikhanouskaia e Maria Kolesnikova, fez parte candidatura presidencial que juntou a oposição contra Lukashenko em Agosto.
O Prémio Sakharov homenageia o trabalho desenvolvido em prol dos direitos humanos e reconhece as acções e contributos excepcionais em defesa da liberdade de pensamento.
Desde que a distinção foi criada em 1988, é a terceira vez que organizações ou figuras bielorrussas são premiadas. Em 2004, foi distinguida a Associação de Jornalistas da Bielorrússia e, dois anos depois, em 2006, foi a vez do então líder da oposição, Alexander Milinkevich.