A direita dos salões
O país não fica apenas nos grandes salões ou nos restaurantes que frequentamos. Há um país que está farto. Não são portugueses de segunda. São pessoas que precisam, desesperadamente, de voltar a acreditar.
Há cada vez mais e mais europeus a engrossar as fileiras eleitorais de partidos populistas e extremistas. Por muito que isso desgoste aos moderados, e a mim desgosta-me profundamente, não é com artigos, proclamações e manifestos que se muda a realidade. É com ação política concreta.
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Há cada vez mais e mais europeus a engrossar as fileiras eleitorais de partidos populistas e extremistas. Por muito que isso desgoste aos moderados, e a mim desgosta-me profundamente, não é com artigos, proclamações e manifestos que se muda a realidade. É com ação política concreta.
Como é que os partidos do centro político lidam com o crescimento das forças populistas e garantem soluções de governação? Há sobretudo dois caminhos. Ou isolamos as forças populistas e elas fazem o seu caminho, quase sempre embaladas por uma presença mediática desproporcional à sua importância politica – olhemos para Espanha para ver o que aconteceu ao PP, com a emergência do Vox, e ao PSOE, com o flanco aberto ao Podemos. Ou, por outro lado, não deixamos os pequenos partidos dominarem a conversa e alargamos as coligações políticas acomodando, moldando e suavizando o crescimento dos populismos – foi isto, por exemplo, que aconteceu na Áustria, em Inglaterra (com a assimilação dos “brexiters” pelo Partido Conservador) e, para dar um exemplo à esquerda, em Portugal com António Costa e a sua frente de esquerda.
A contaminação do espaço público em Portugal pela novilíngua da esquerda impede-nos de ter este debate. Repare-se no seguinte: em 2015, António Costa foi, no mínimo, “brilhante” por ter federado as esquerdas radicais; mas, em 2020, José Manuel Bolieiro e Rui Rio cruzaram todas as linhas vermelhas por alargarem a sua coligação de governo a um partido populista de direita. (Pergunto, claro, se no meio de toda esta conversa algum dos ilustres pensadores da nossa praça sequer se preocupou com os Açores, com as pessoas do arquipélago e com o atraso estrutural de uma região mal governada por socialistas durante 24 longos anos). Confesso que não me espantou a fervorosa reação da esquerda, e dos spins da opinião publicada, sempre prontos a policiar as escolhas democráticas, a moral e os bons costumes na vida pública.
Já que uma certa direita tenha alinhado no mesmo caldinho, é coisa para nos deixar em alerta. É um sintoma de que o politicamente correto está profundamente entranhado na família das direitas. Com a típica soberba da esquerda, alguns reclamam para si a autoridade moral que lhes permite traçar uma linha entre a direita boa e a direita má. A direita boa é, evidentemente, aquela que há anos vive na bolha de um diletantismo profissional de uma certa elite de Lisboa. Por frequentar os mesmos espaços, os mesmos salões, as mesmas festas, as mesmas exposições, essa direita, ou por vergonha ou por falta de liberdade, tem tido uma crescente dificuldade em ir contra o politicamente correto.
Este é um nó claro na política hoje em dia: a pressão do politicamente correto, a pressão do aplauso generalizado. A pressão para ter a aceitação da esquerda.
Lembre-se que esta foi a direita que criticou implacavelmente a guinada de Rui Rio ao centro e a aproximação ao PS. Espantosamente, na mesma semana em que o PSD pela primeira vez em muitos anos volta a liderar toda a direita para governar nos Açores, eis que assistimos a um triste espetáculo epistolar, uma luta estéril pelo ideário da verdadeira direita (seja lá o que isso for), em que as vestes são rasgadas em nome não se percebe bem de que causas, de que valores, ou de que ruturas para este país. Com toda a franqueza, se olharmos bem para as motivações desta “Direita Boa”, percebemos que há muito mais razões internas, de posicionamento partidário, do que propriamente genuínas preocupações com iliberalismos – se o fosse, quantos manifestos, e em que termos, não teriam sido dados à estampa sobre o Governo socialista, ou sobre a radical desigualdade e pobreza a que a extrema-esquerda nos está a condenar a todos?
Vamos ser claros: esta não é uma nobre batalha pela alma liberal, democrata-cristã e conservadora; é antes uma manifestação de uma comezinha guerra interna, em que mais uma vez as agendas pessoais se sobrepõem aos desígnios do país.
A “Direita Boa” tem dois interesses claros. Ou melhor, dois alvos identificados: Francisco Rodrigues dos Santos e Rui Rio. Digo-o eu que, em eleições internas, assumi com toda a frontalidade uma alternativa a Rui Rio dentro do PSD. Sublinho, em eleições internas, não em artigos ou processos de intenção. Estes contos sobre a “Direita Boa” e a “Direita Má”, só podem mesmo servir para embalar os portugueses neste longo sono de miséria e socialismo em que vivemos e com o qual a “Direita Boa” está a ser conivente. Perante a falta de protagonismo interno, e com vontade de fragilizar quem hoje assume a liderança nos partidos de direita, o ataque mediático surge, nem que para isso se tenha de fazer uma aliança com o discurso da esquerda e contribuir para o ruído geral.
Que fique bem claro que não há complacência para extremos, sejam eles de esquerda ou de direita. Do mesmo modo, não podemos ser tolerantes com uma cultura de dois pesos e duas medidas. O relativismo não pode ser a bússola das nossas escolhas.
Quem quer um futuro para o seu país deve assumir as fronteiras de forma bem clara e não oportunisticamente. Eu sou, assumidamente, um moderado radical.
Radical na vontade de ouvir, escutar e sentir os verdadeiros problemas da sociedade. Radical a encontrar soluções para os problemas reais das pessoas. Mas sou sobretudo um moderado radical porque não meto a cabeça na areia, e finjo que não entendo o país e o mundo conforme ele está. A política precisa de clarificação. Tem sido o pântano, tem sido a ideia de que são todos iguais que tem levado a um descontentamento das pessoas em relação aos políticos. Mas também tem sido a agenda de uma extrema-esquerda, de criar um país de igualdade na pobreza, nos costumes e no politicamente correto, que está a gerar ondas de choque e um claro sentimento do contra.
O país não fica apenas nos grandes salões ou nos restaurantes que frequentamos. Há um país que está farto. Não são portugueses de segunda. São pessoas que precisam, desesperadamente, de voltar a acreditar.
Social Democrata e Moderado Radical
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico