Costa e Pedro Nuno: só falta assinar os papéis do divórcio
A imagem de desorientação pública que o Governo dá num dossier tão delicado é patética e a evidente falta de confiança entre primeiro-ministro e ministro é mortal.
O ministro que agora tem em mãos o dossier escaldante da TAP já não fala, pelos vistos, com o primeiro-ministro. Se já eram evidentes os desacertos entre Costa e Pedro Nuno Santos, o divórcio ficou evidente na semana que passou, quando o país soube, através de Marques Mendes, que o Governo queria levar o plano de reestruturação da TAP a votos. Pelos vistos, o que Marques Mendes sabia Costa não sabia. E por muito que Pedro Nuno Santos seja “ministro da República”, como fez questão de lembrar por estes dias, uma decisão política de alto risco como a de abrir a porta ao fecho da TAP caso houvesse um chumbo no Parlamento (previsível porque a esquerda não apoiaria um plano com aquele nível de despedimentos e, nos tempos que correm, o PSD não parece disponível para partilhar a impopularidade decorrente) teria necessariamente de ser concertada com o primeiro-ministro.
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O ministro que agora tem em mãos o dossier escaldante da TAP já não fala, pelos vistos, com o primeiro-ministro. Se já eram evidentes os desacertos entre Costa e Pedro Nuno Santos, o divórcio ficou evidente na semana que passou, quando o país soube, através de Marques Mendes, que o Governo queria levar o plano de reestruturação da TAP a votos. Pelos vistos, o que Marques Mendes sabia Costa não sabia. E por muito que Pedro Nuno Santos seja “ministro da República”, como fez questão de lembrar por estes dias, uma decisão política de alto risco como a de abrir a porta ao fecho da TAP caso houvesse um chumbo no Parlamento (previsível porque a esquerda não apoiaria um plano com aquele nível de despedimentos e, nos tempos que correm, o PSD não parece disponível para partilhar a impopularidade decorrente) teria necessariamente de ser concertada com o primeiro-ministro.
Pedro Nuno Santos comete aqui um erro que só pode ser explicado por uma auto-suficiência sem sentido e uma estranha imaturidade – uma vez que, aos 43 anos, já pode ser considerado um cidadão de meia-idade. Quer se queira ou não queira, Costa é o primeiro-ministro e, como o próprio fez questão de lembrar no Congresso de há dois anos, que praticamente entronizou Pedro Nuno como sucessor, não meteu os papéis da reforma. O que a semana que passou nos diz é que meteu, sim, os papéis do divórcio. Só falta assinar.
Costa vingou-se, como só ele sabe. Humilhou sem piedade o ministro em público, ironizando que quem anunciou a ideia “teve uma má fonte ou se precipitou naquilo que era a perspectiva da actuação do Governo” e, indirectamente, acusou o ministro de se querer furtar à impopularidade de uma decisão que é da competência governamental, através do escudo do Parlamento. “Governar é nas horas boas e nas horas más. Quando se tomam medidas populares e quando se tomam medidas impopulares.”
Quando as coisas chegam a este ponto, é normal que o trabalho em conjunto esteja ferido de morte. A imagem de desorientação pública que o Governo dá num dossier tão delicado é patética e a evidente falta de confiança entre primeiro-ministro e ministro é mortal. Um dia a casa vem abaixo, mas talvez isso não aconteça já: se se demitisse agora, Pedro Nuno Santos seria acusado de estar a fugir de uma situação difícil e da previsível impopularidade que o Governo lhe vai trazer. Costa também fará várias contas antes de demitir o ministro – apesar de tudo, é uma lei-base do pragmatismo político que se deve ter os amigos perto e os inimigos mais perto ainda. Mas o espectáculo vai ser triste e não vai acabar bem.