Repensar as medidas do Natal? Semana “determinante” começa com número mais alto de mortes
Os dados da evolução pandémica levam a alertas redobrados para uma época tradicionalmente marcada por reuniões familiares e deslocações, cujas regras do Governo (para já) não condicionam.
Este domingo, Portugal registou o mais elevado número no que toca a mortes provocadas pela covid-19: perderam-se 98 vidas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Este domingo, Portugal registou o mais elevado número no que toca a mortes provocadas pela covid-19: perderam-se 98 vidas.
A ciência mostra-nos que “temos de pensar que a mortalidade reflecte um atraso que ronda as quatro semanas em relação à onda de novos casos”, diz ao PÚBLICO Elisabete Ramos, epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
A última semana marcou também o registo mais elevado de mortes desde o início da pandemia (596) e, se olharmos para os dados desde o início do mês, podemos já contar 1054 mortes em Portugal registadas em pessoas com covid-19.
Assim, estes números registados nestes últimos dias reflectem o pico de novos casos vividos durante o mês de Novembro, estando o atraso “dependente do tempo médio de internamento”. Olhando para os dados divulgados no boletim da DGS deste domingo, vemos também que o número continua elevado e ainda próximo do máximo histórico atingido nesta segunda onda pandémica, mas já em tendência decrescente: neste domingo estavam internados 3157 pacientes com covid-19.
É o número elevado de internamentos que provoca “inquietação” ao infecciologista António Silva Graça no que toca às datas festivas que se aproximam, um número que “não está ainda a descer”. Ao PÚBLICO, antecipa uma evolução positiva nos próximos dias que deverá levar a uma descida do número de mortes diárias. Ainda assim “é possível que nesta semana se registem ainda valores semelhantes aos deste domingo”. Os números elevados de mortes, tendo em conta o número de novos casos das últimas semanas, são algo “que não espanta” por não escapar às previsões, ao contrário do número de internados.
Os dados da evolução pandémica levam a alertas redobrados para uma época tradicionalmente marcada por reuniões familiares e deslocações, cujas regras do Governo (para já) não condicionam. Esta acaba mesmo por ser uma “semana determinante” que culmina com a revisão de regras por parte do executivo na próxima sexta-feira, dia 18 de Dezembro. É com base na evolução dos números nos próximos dias que as restrições mínimas impostas para o período do Natal podem vir (ou não) a ser agravadas.
Elisabete Ramos fala num “balanço difícil” porque “não há uma resposta certa ou errada” e, qualquer medida acaba por resultar sempre num “balanço entre abrir e fechar”. Mas “obrigar uma parte da população, que já esteve fechada durante muitos meses, a passar um Natal em isolamento também não seria bom para a saúde”. É por isso que acredita que o Governo tenha decidido este alívio de restrições no período do Natal “contando com o trabalho das famílias para minimizar o risco”.
Tomar medidas para minimizar o risco não dá certezas de que se elimine por completo o risco e, por isso, “é expectável que haja um aumento de número de casos em Janeiro [em consequência do Natal]”. Neste caso, a variação no número de mortes só deverá ter efeitos no final do mês de Janeiro e durante o mês de Fevereiro, altura em que a vacinação deverá ainda estar numa fase preliminar.
Nesta sexta-feira, o Expresso avançou um número de um Natal sem restrições: 1500 mortes potenciais, calculado com base em modelos matemáticos que têm ajudado a prever a evolução da pandemia e a resposta.
Aquilo que se passou nos Estados Unidos da América, aquando do Dia de Acção de Graças, é dos indicadores que deixa o médico de Saúde Pública Ricardo Mexia “algo apreensivo”. As reuniões familiares provocaram um aumento acima do previsto do número de casos no país mais afectado pela covid-19.
O médico destaca também as pistas que a gripe nos dá sobre a evolução de um vírus respiratório neste período do ano e que “tipicamente tem o seu pico no final do ano ou nas primeiras semanas de Janeiro”.
Para a próxima declaração ao país do primeiro-ministro, Ricardo Mexia espera que haja uma comunicação “clara”, não só das regras, mas também de “recomendações para que as famílias possam passar o Natal com mais segurança”.
António Costa prometeu, aquando do anúncio de medidas para as datas festivas do Natal e Ano Novo, “puxar o ‘travão de mão'” caso a evolução pandémica se agravasse. Com Miguel Dantas.