Etiópia: ajuda humanitária começa a chegar à capital de Tigré

Governo etíope permitiu finalmente a entrada da Cruz Vermelha na maior cidade da zona rebelde. ONU está preocupada com situação dos refugiados eritreus.

Foto
Um refugiado no Norte da Etiópia exibe a sua tatuagem BAZ RATNER/Reuters

A primeira coluna de veículos de organizações não-governamentais de ajuda humanitária entrou este sábado em Mek'ele, a capital da região rebelde de Tigré, no Norte da Etiópia, conquistada recentemente pelo Exército federal, no âmbito do conflito armado com a Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A primeira coluna de veículos de organizações não-governamentais de ajuda humanitária entrou este sábado em Mek'ele, a capital da região rebelde de Tigré, no Norte da Etiópia, conquistada recentemente pelo Exército federal, no âmbito do conflito armado com a Frente de Libertação do Povo Tigré (FLPT).

Depois de várias semanas em que as organizações internacionais viram o acesso barrado ao principal palco dos confrontos naquele país africano, o Governo liderado por Abiy Ahmed permitiu, finalmente, a abertura de um corredor humanitário até Mek’ele, após um acordo fechado com as Nações Unidas há mais de uma semana.

As repartições internacionais e locais da Cruz Vermelha lideraram os esforços deste sábado para a entrega de comida, medicamentos e outros bens de primeira necessidade.

“Médicos e enfermeiros estiveram sem mantimentos, água canalizada e electricidade. Este carregamento irá reforçar o material médico, ajudar os doentes e reduzir aquelas decisões impossíveis de vida ou de morte na triagem”, informa Patrick Youssef, director regional para a África do Comité Internacional da Cruz Vermelha, citado pela Reuters.

Iniciado no princípio de Novembro, o conflito entre as tropas federais e as milícias tigrés causou milhares de mortos e deslocou perto de um milhão de pessoas, numa região do continente africano onde já havia milhões de refugiados, fruto de guerras, catástrofes naturais e escassez de alimentos em países como a Etiópia, a Eritreia ou o Sudão.

Para além de ter permitido o acesso da primeira fatia de ajuda humanitária, o Governo etíope anunciou, na sexta-feira, que estava a reencaminhar os cerca de 100 mil refugiados eritreus que fugiram de Tigré para várias regiões da Etiópia – incluindo a capital, Adis Abeba –, por causa da guerra, para os campos de deslocados na região Norte do país, onde residiam antes da ofensiva contra a FLPT.

“Um enorme número de refugiados mal informados está a mover-se pelo país de forma irregular. O Governo vai retornar esses refugiados em segurança para os respectivos campos”, informou o executivo de Abiy, em comunicado.

A decisão gerou várias críticas e causou enorme alarme junto da ONU, que alertou para a falta de segurança, incluindo a segurança alimentar, numa zona do país que ainda é palco de confrontos armados dispersos e onde as informações são escassas, devido aos cortes nas comunicações, decretado pelo Governo.

As agências das Nações Unidas também deram conta da preocupação generalizada junto dos milhares de refugiados eritreus em relação à animosidade demonstrada pela população tigré – a FLPT acusa o Governo eritreu de ter ajudado Abiy a conquistar Tigré – e à possibilidade de serem devolvidos à Eritreia, de onde fugiram em primeira instância.

“No último mês chegou-nos um número avassalador de relatos perturbadores de refugiados eritreus em Tigré que foram mortos, capturados ou forçados a regressar à Eritreia”, disse o Alto-Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Gandi. “A confirmarem-se, estas acções podem constituir uma violação grosseira de direito internacional.”