Black Lives Matter: um Verão de luta pela justiça racial na América
A sociedade americana testemunhou, no Verão de 2020, um movimento geracional contra a discriminação e o racismo que ultrapassou fronteiras. Mesmo em pandemia, os protestos Black Lives Matter mobilizaram milhares a saírem à rua. A Reuters passa o ano em revista.
O Verão de 2020 testemunhou alguns dos maiores protestos em defesa de justiça racial e dos direitos civis nos Estados Unidos numa geração.
A nação americana assistiu horrorizada ao vídeo da morte de George Floyd, um homem negro asfixiado por um polícia que se ajoelhou no seu pescoço durante quase nove minutos.
A morte de Floyd, no dia 25 de Maio, em Mineápolis, forçou um novo confronto nacional com a injustiça racial e aumentou o reconhecimento do movimento Black Lives Matter, que emergiu nos últimos anos para protestar contra a morte de afro-americanos sob custódia policial.
Apesar da pandemia de covid-19, dezenas de milhares de pessoas saíram às ruas para exigir mudança – primeiro em Mineápolis, depois em Nova Iorque, Washington, Portland e em várias outras cidades –, muitas delas entoando as palavras finais de Floyd: “Não consigo respirar!”. As manifestações foram maioritariamente pacíficas mas, com o acumular da ira, alguns manifestantes entraram em confronto com a polícia e lojas foram pilhadas ou incendiadas.
O Presidente republicano Donald Trump criticou os protestos e prometeu repor a lei e a ordem, embora as sondagens mostrassem que a maioria dos cidadãos americanos apoiava o movimento Black Lives Matter.
Em Junho, forças de segurança americanas usaram gás pimenta para afastar os manifestantes das proximidades da Casa Branca, para que o Presidente pudesse completar o percurso até à St. John’s Church e tirar uma fotografia a segurar uma Bíblia. Dias depois, a mayor de Washington mandou pintar “Black Lives Matter” em enormes letras amarelas na rua principal que leva à Casa Branca.
Foram também organizadas manifestações anti-racistas em solidariedade para com o povo americano em cidades como Bruxelas, Londres e Lisboa.
Estátuas com referência ao período da escravatura foram derrubadas
A pressão gerada pelos protestos levou a que alguns departamentos da polícia dos Estados Unidos banissem o uso de técnicas de estrangulamento. Alguns distritos escolares, incluindo em Mineápolis, cancelaram contratos com departamentos da polícia. Cidades como Boston, Nova Iorque e São Francisco propuseram redirigir alguns dos fundos alocados à polícia para outras prioridades da comunidade. Ainda assim, as reformas a nível nacional permanecem escassas.
Houve também um foco renovado no legado da guerra civil de 1861-1865. Monumentos a figuras esclavagistas da Confederação foram retirados ou derrubados por manifestantes. A Nascar baniu o uso da bandeira da Confederação, um símbolo de escravatura e supremacia branca para muitos americanos.
Várias empresas prometeram mais de 1,7 mil milhões de dólares para causas de justiça racial e social e procuraram remodelar as suas imagens públicas.
Os atletas negros estiveram na vanguarda do movimento. Tanto a Associação Nacional de Basquetebol feminina como a masculina, bem como as ligas de basebol e futebol, adiaram jogos em solidariedade com os manifestantes.