EUA vão impor sanções à Turquia por ter comprado sistema antimíssil russo

Trump continua a não querer sancionar os turcos por terem adquirido o sofisticado sistema de defesa à Rússia mas é obrigado a avançar. Decisão vai enfurecer Ancara e pesar nas relações com a Casa Branca de Joe Biden.

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Trump e Erdogan na Casa Branca, em 2017. Os dois chefes de Estado estabeleceram uma relação de alguma proximidade. Joshua Roberts/Reuters

Washington está prestes a anunciar a imposição de sanções à Turquia devido à aquisição do sistema de defesa antimíssil S-400 russo, uma medida há muito anunciada e que deverá piorar as relações já complicadas entre os dois países da NATO. Segundo diferentes responsáveis ouvidos pela Reuters, a decisão pode ser conhecida já esta sexta-feira.

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Washington está prestes a anunciar a imposição de sanções à Turquia devido à aquisição do sistema de defesa antimíssil S-400 russo, uma medida há muito anunciada e que deverá piorar as relações já complicadas entre os dois países da NATO. Segundo diferentes responsáveis ouvidos pela Reuters, a decisão pode ser conhecida já esta sexta-feira.

Com capacidade para provocar danos, as sanções serão, ainda assim, menos pesadas do que muitos analistas previam, diz a agência de notícias. Deverão visar a Presidência das Indústrias de Defesa, uma instituição civil criada por Ancara para fortalecer a indústria de segurança nacional e gerir o fornecimento de tecnologia militar, assim como o seu director, Ismail Denir.

Este era um cenário esperado desde que Recep Tayyip Erdogan decidiu adquirir à Rússia o sistema de defesa S-400, num desafio aos EUA e à NATO. Ancara foi avisada de que seria incompatível com a defesa da Aliança Atlântica, mas respondeu que o sistema é estratégico para a defesa da fronteira sul, com a Síria e o Iraque, e que quando o negócio foi acordado com Moscovo nem os EUA nem a Europa apresentaram uma alternativa viável. É muito raro que um membro da NATO adquira um sistema de mísseis russo.

“As sanções não vão alcançar resultados mas serão contraprodutivas. Vão prejudicar as relações”, disse à Reuters um responsável turco. “Não vamos aceitar imposições unilaterais.” Caberá provavelmente ao Presidente eleito Joe Biden lidar com as consequências nas relações entre os dois países.

Bastou a notícia sobre o anúncio para a lira turca desvalorizar mais 1,4%. A economia turca está numa crise profunda, com o abrandamento provocado pela pandemia de covid-19 a somar-se a uma inflação galopante e uma moeda que já perdeu 50% do seu valor desde o início de 2018.

Erdogan acreditava que a relação que forjou com o Presidente Donald Trump chegasse para proteger a Turquia de quaisquer punições. E a verdade é que o Presidente americano resistiu às recomendações de membros da sua Administração em Julho de 2019, quando as primeiras partes do sistema de defesa aéreo aterraram no país.

Só que não basta a vontade de Trump e as sanções surgem como inevitáveis independentemente dos seus desejos. Aliás, de acordo com a Reuters, Trump vai avançar para não parecer que foi obrigado a fazê-lo. Isto porque a versão final da autorização do Senado para o investimento anual de 740 mil milhões de dólares na Defesa, que pode ser votada a qualquer momento, obrigará a Casa Branca a impor sanções num prazo de 30 dias.

A decisão não visa apenas a Turquia – é uma mensagem a todos os aliados que possam ponderar a compra de equipamento matéria russo.