Sara Vidal canta a condição feminina “desde o berço até à cova”
Doze canções tradicionais com arranjos actuais, retratando a condição feminina “desde o berço até à cova”: é Matriz, a estreia a solo da cantora Sara Vidal em 15 anos de carreira.
A ideia era antiga, mas teve de esperar nove anos para ver a luz. Matriz, o primeiro disco a solo de Sara Vidal, cantora que já passou por diversos grupos, desde os Luar na Lubre (um dos mais célebres da Galiza) até à Companhia do Canto Popular, é editado esta sexta-feira com um lançamento adequado à época de pandemia em que vivemos: às 21h30 é estreado no YouTube, no canal de Sara, o videoclipe do primeiro tema do disco, Baile da meia volta, seguindo-se uma sessão em directo onde ela e os músicos falarão deste trabalho. O videoclipe tem gravação e edição de Rita Carmo, conta com a participação das bailarinas Ema Dias, Inês Gomes e Matilde Correia, tem coreografia e direcção artística de Catarina Moreira o conta com o apoio da Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional.
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A ideia era antiga, mas teve de esperar nove anos para ver a luz. Matriz, o primeiro disco a solo de Sara Vidal, cantora que já passou por diversos grupos, desde os Luar na Lubre (um dos mais célebres da Galiza) até à Companhia do Canto Popular, é editado esta sexta-feira com um lançamento adequado à época de pandemia em que vivemos: às 21h30 é estreado no YouTube, no canal de Sara, o videoclipe do primeiro tema do disco, Baile da meia volta, seguindo-se uma sessão em directo onde ela e os músicos falarão deste trabalho. O videoclipe tem gravação e edição de Rita Carmo, conta com a participação das bailarinas Ema Dias, Inês Gomes e Matilde Correia, tem coreografia e direcção artística de Catarina Moreira o conta com o apoio da Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional.
Quanto ao disco, lançado nas plataformas digitais e em CD, Sara diz ao PÚBLICO que já o tinha em mente desde que saiu da Galiza e dos Luar na Lubre, por volta de 2011. “Quando voltei para Portugal, vinha com a ideia de começar um projecto a solo, e como estava ligada à música tradicional, fazia todo o sentido fazer um disco só com músicas tradicionais, obviamente com novos arranjos e uma sonoridade mais actual.”
Da geografia à temática
Mas depois foi para Águeda, para a associação cultural d’Orfeu, começou outros projectos paralelos (Contracorrente, Espiral, A Presença das Formigas, e mais tarde integrando os Diabo a Sete, o projecto Cantos da Quaresma com César Prata e, finalmente, a Companhia do Canto Popular) e adiou esse impulso inicial: “Como eu queria que este disco fosse bem pensado, amadurecido, não tive pressa.” As gravações iniciaram-se em 2017, depois de um processo de selecção, pré-produção e arranjos, com Manuel Maio (também d’A Presença das Formigas). “Entretanto, as vidas dos músicos vão tendo sempre muitos imprevistos. O Manuel acabou por ir viver para a Suíça e o processo arrastou-se algum tempo.” Deveria ter saído em 2019, mas foi adiado novamente porque Sara ficou grávida, foi mãe de um rapaz e essa experiência de maternidade acabou por ajustar-se também à temática do disco: “Foi providencial. Havia temas que falavam sobre isso. Não que sentisse essa necessidade, porque uma mulher não deixa de o ser por não ser mãe, mas deu novo sentido ao trabalho.”
O disco reúne doze canções de diferentes proveniências, com maior incidência nas Beiras. Três vêm da Beira Alta (Romance da Claralinda, Adelaidinha e Fiando o linho), duas da Beira Baixa (Descante aos noivos e Arvoredo), duas da Madeira (Baile da meia volta e Baile do ladrão) e a restantes cinco surgem repartidas por igual número de regiões: Minho (Verde Gaio/Lengalenga), Trás-os-Montes (Agora vou-me deitar), Ribatejo (A Rosa (Já os galos cantam)), Alentejo (Idalina Delgadinha) e Algarve (Faça Ai Ai, meu menino). Nos arranjos, trabalharam Manuel Maio, Rogério Cardoso Pires, Rui Ferreira e Sara Vidal.
A triagem não foi fácil. “O Manuel Maio, que foi o produtor musical juntamente com o Rui Ferreira mas que foi a pessoa que trabalhou mais nisto desde o início, é que me pôs um travão e disse: ‘Sara, temos de parar, o disco não pode ter todas as músicas que tu queres’.” Eu queria que fosse um disco muito representativo das várias zonas do país. Portanto teve esse filtro, o da geografia, e teve o filtro da temática, com o canto de embalar, de trabalho, o canto que fala do parto (o Já os galos cantam), e teve a ver também com o seu carácter musical, ser mais alegre ou ser mais triste. E havia músicas que eu queria muito pôr.”
Um espelho múltiplo
A busca foi também feita junto de várias fontes: “Houve músicas que eu já conhecia, outras que fomos ver ao cancioneiro d’A Música Portuguesa A Gostar Dela Própria, outras chegaram-me através de familiares ou foram contributos dos próprios músicos.” Na lista não há registo dos Açores, mas um dos temas é simultaneamente beirão e açoriano, diz Sara: “A música que temos dos Açores é o Fiando o linho, que nós conhecemos através da cantora Sofia Portugal (das Maria Monda e não só), que também participou no disco. E ela sugeriu esse tema, que foi a avó que lhe ensinou. Mas depois viemos a descobrir que esta música também está no cancioneiro dos Açores e a avó da Sofia conhecia-a tal como nos Açores a cantam. É um bom retrato de como a música tradicional não é estanque.”
Quando aos propósitos, retratar através do cancioneiro tradicional, “a condição feminina nas diferentes etapas da vida”, eles mantiveram-se, diz Sara: “Queríamos que tentasse dar uma linha de continuidade, desde o berço até à cova, que fosse um retrato das várias situações em que a mulher poderá estar. A música tradicional é sempre um reflexo do quotidiano, não tenta fugir à realidade, mas nestas canções há várias mulheres que se entrecruzam. Talvez haja uma mulher mais rural, mas mulheres muito diferentes podem rever-se nestas músicas.”