Covid-19: procura por testes rápidos aumenta nos dias antes do Natal, mas autoridades não os aconselham
A duas semanas da véspera de Natal, a procura por testes de antigénio de resposta rápida está a aumentar, mas este método não é aconselhado por especialistas ou pelas autoridades de saúde. São menos fiáveis do que os testes tradicionais e apresentam melhores resultados nos casos sintomáticos — e não quando feitos de forma aleatória.
É uma estratégia cada vez mais comum a muitos portugueses: fazer um teste antigénio de resposta rápida à covid-19 na semana do Natal com o objectivo de passar esses dias com “mais segurança” e junto da família se o resultado for negativo. A duas semanas da véspera de Natal, a procura destes testes está a aumentar nos postos da Cruz Vermelha e nas maiores redes de laboratórios privados que os fazem, mas este método não é aconselhado por especialistas ou pelas autoridades de saúde, uma vez que é menos fiável que os testes PCR, ainda mais se for utilizado de forma “aleatória”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
É uma estratégia cada vez mais comum a muitos portugueses: fazer um teste antigénio de resposta rápida à covid-19 na semana do Natal com o objectivo de passar esses dias com “mais segurança” e junto da família se o resultado for negativo. A duas semanas da véspera de Natal, a procura destes testes está a aumentar nos postos da Cruz Vermelha e nas maiores redes de laboratórios privados que os fazem, mas este método não é aconselhado por especialistas ou pelas autoridades de saúde, uma vez que é menos fiável que os testes PCR, ainda mais se for utilizado de forma “aleatória”.
A Cruz Vermelha, que tem um programa especial de testes covid-19, diz que a procura por este tipo de testes tem sido muita, principalmente com a aproximação do Natal. Ao PÚBLICO, o presidente da instituição, Francisco George, deu como exemplo os dias 21, 22 e 23 de Dezembro, datas para as quais já não existem vagas no posto fixo de Lisboa. E consultando o calendário de marcações disponibilizado no site daquela entidade, é possível perceber que o mesmo acontece para o dia 22 de Dezembro, tanto na opção walk-thru (a pé) como na drive-thru (de carro).
No posto do Porto, que abriu no início de Dezembro, as 90 vagas diárias (entre as 9h e as 16h20) disponíveis também estão todas ocupadas, quer a 22 quer a 23 de Dezembro. No da Maia ainda há bastantes horários para dia 22, mas nenhum para dia 23 — na opção de drive-thru há vagas para ambos os dias, mas em menor número para dia 23.
Nos postos de Guimarães, Aveiro (Sanguedo) ainda há lugares, mas menos em comparação com a semana anterior. No posto fixo de Coimbra, há zero vagas para o dia 23 de Dezembro, e menos de dez para o dia anterior. Em Faro (Tavira), já não há vagas para o dia 22 e no dia 23 não se realizam colheitas naquele centro.
Ao contrário dos testes PCR, os testes antigénio de resposta rápida só começaram a poder ser prescritos pelos médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) desde o passado dia 9 de Novembro. A Cruz Vermelha tem um total de 27 postos fixos para testes à covid-19 espalhados pelo país e é possível marcar a realização de um teste online ou por telefone. Na Cruz Vermelha e em alguns laboratórios qualquer pessoa que queria fazer um teste a título particular pode fazê-lo sem necessidade da prescrição.
“A preocupação que as pessoas têm em reduzir o risco quando se encontrarem em festas com familiares, nomeadamente com os mais idosos, traduziu-se nas muitas marcações para essa semana, principalmente depois de o Governo anunciar as medidas para o Natal. Temos que reconhecer que é um sistema que não está ao alcance de todos porque apesar da procura não há uma oferta universal”, diz. O antigo director-geral da Saúde afirma que, no caso de este teste dar positivo, a pessoa pode tomar as devidas precauções e não chegar a reunir-se com a família. Apesar de existir uma “probabilidade pequena” de a pessoa ter a doença, o especialista em saúde pública afirma que se o teste der negativo há uma “possibilidade enorme de não ter infecção”.
Francisco George afirma que os testes tradicionais (RT-PCR), mais caros que os rápidos, também têm sido muito procurados, ainda que menos para essas datas, uma vez que demoram mais tempo a produzir resultados.
Só quem tem sintomas deve fazer o teste
A par com a Cruz Vermelha, que já realizou mais de 41 mil testes deste tipo em cerca de um mês, também os laboratórios Unilabs e Germano de Sousa são autorizados a fazê-los. O PÚBLICO contactou primeiro os responsáveis por estas empresas para perceber se notaram um aumento nas marcações para testes rápidos — e ligou depois para vários laboratórios espalhados pelo país a pedir para fazer um.
Em resposta, o médico patologista Germano de Sousa avançou, por escrito, que “não tem havido um aumento de marcações excessivo” e ressalva que estes testes, segundo as normas emanadas da Direcção-Geral da Saúde (DGS), só devem ser realizados em pessoas com sintomas suspeitos.
“Durante os primeiros cinco dias [de sintomas], um teste positivo permite confirmar a existência de doença pelo SARS-CoV-2. Se a pessoa é assintomática ou pré-sintomática, um resultado negativo não exclui a possibilidade de estar infectada e ser contagiosa. Pelo que se alguém quiser ter a certeza de que está mesmo negativo e que pelo menos durante a consoada ou no almoço de domingo não vai contagiar a família, não aconselho um teste rápido de antigénio, mas sim o PCR”, explica o médico, afirmando ainda que as suas clínicas realizaram 670 mil testes PCR desde Março, cerca de 270 mil testes serológicos desde Maio (que não servem para diagnóstico) e cerca de 2 mil testes rápidos de antigénio de há um mês para cá.
Na grande parte dos laboratórios Germano de Sousa que o PÚBLICO contactou para perguntar se podíamos marcar um teste de antigénio, quem nos atende avisa que só podem ser testadas as pessoas que têm sintomas e que é necessária uma prescrição médica para tal. No centro da Centro de Medicina Laboratorial na Trindade, no Porto, dizem-nos que podemos fazer o teste sem sintomas, mas teremos na mesma que apresentar um documento médico. O dia 23, avança a técnica, já está bastante preenchido e há menos vagas para ser testado, principalmente na parte da tarde, mas para o dia 22 ainda há lugares disponível.
Na clínica da Avenida da Boavista, no Porto, já não há vagas para 23 e só uma para dia 22. No centro de colheita na Rua da Constituição, também no Porto, ainda há algumas vagas para a antevéspera de Natal.
"Ou se despacha a marcar ou depois não há"
Da ronda que o PÚBLICO fez pelos laboratórios da Unilabs espalhados pelas várias regiões do país, percebe-se que há poucos horários disponíveis para os dias antes do Natal, principalmente para o dia 23 de Dezembro. Nestes centros de teste não é necessário apresentar qualquer tipo de declaração médica ou de ter sintomas sugestivos da doença.
Quem atende o telefone do centro de Mem Martins diz que passar o Natal com a família é “uma corrida contra o tempo” porque as vagas para fazer estes testes nessa semana são cada vez mais escassas. “Ou se despacha a marcar ou depois não há”, refere ainda a técnica. Em Alcântara, já não há vagas nos dias 21, 22 ou 23. E no laboratório de Charneca do Lumiar, há dois horários para dia 22 e apenas um para dia 23.
Em Viseu ainda há espaço porque se está “a ligar com tanta antecedência”, mas para o dia 23 há menos horas disponíveis que nos dias anteriores. Em Aveiro referem que ainda há vagas para os dois dias, apesar de já serem poucas para a antevéspera. A funcionária avisa que “o melhor é marcar o quanto antes porque as pessoas estão a fazer testes rápidos para ir passar o Natal com as famílias”.
Num laboratório em Gaia já não há horários disponíveis para dia 23, mas no 22 ainda há vagas. No Porto, em Lordelo do ouro, não há disponibilidade para 23, “já está completamente cheio”, e para 22 há duas vagas. Em Paranhos já só têm duas vagas para a antevéspera e quatro para o dia anterior.
O PÚBLICO contactou a Unilabs para obter esclarecimentos sobre o volume de marcações esta quarta e quinta-feira, mas não obteve resposta até ao momento. O presidente da rede de diagnóstico clínico, Luís Menezes, disse horas depois à agência Lusa que registaram “um incremento muito grande de pedidos de testagem, nomeadamente testes de PCR e também testes de antigénio”. Só para o dia 22 de Dezembro têm já mais de 1500 marcações.
Autoridades não aconselham estes testes
António Silva Graça, médico infecciologista, diz que a utilização destes testes como diagnóstico é limitada, até porque pode conferir uma “falsa sensação de segurança”. Além disso, um teste negativo não significa que as regras para impedir a propagação da covid-19 possam ser deixadas de lado durante o Natal.
“Existem vários testes antigénio de vários fabricantes e nem todos têm a mesma sensibilidade. São diferentes dos testes de PCR porque todos eles, independentemente do fabricante, são muito sensíveis”, começa por explicar o médico. “Os testes rápidos mais sensíveis podem ter cabimento no caso de pessoas sem sintomas porque conseguem detectar proteínas do vírus numa fase pré-sintomática, mas são mais úteis em situações sintomáticas. Há sempre a possibilidade de haver um falso negativo, um resultado que dá negativo quando na verdade a infecção existe”, diz ainda.
António Silva Graça dá alguns bons exemplos de aplicações destes testes: uma avaliação pontual num contexto laboral, num lar ou no caso de Rabo de Peixe, nos Açores, onde há um contexto de grande transmissão porque assim é possível saber onde há e não há infecções. “Estar a fazer testes de forma aleatória, sem o contexto epidemiológico ou o contexto de sintomas, pode ser menos útil do que se esperaria. As pessoas não podem ficar com uma sensação de segurança dada por um resultado que daqui a dois dias pode ser outro”, remata o infecciologista.
Em Novembro, a directora-geral da Saúde já tinha dito que os cidadãos não devem tomar a iniciativa própria de realizarem o teste para a despistagem da covid-19 e que este deve ser feito apenas com a prescrição médica. De acordo com Graça Freitas, os testes são pedidos e aconselhados pelas autoridades de saúde “sempre que necessário”, sendo que quando os cidadãos tomam a iniciativa própria de se testarem acabam por entupir os laboratórios e adiar os resultados de testes. Além disso, os testes de antigénio só devem ser usados em situações específicas, em que os testes PCR não estejam disponíveis, por exemplo.
Antes, em Outubro, uma circular conjunta da DGS, do Infarmed e do Instituto Nacional De Saúde Dr Ricardo Jorge (INSA) reforçava que os testes rápidos à covid-19 podiam ser aplicados de acordo com a situação clínica e epidemiológica, mas deviam ser utilizados com “ponderação e reserva”. com Marta Sousa Coutinho