Ana Gomes já tinha denunciado ligações entre PJ e Doyen, após visita a Rui Pinto
Exposição foi realizada em 2019, não tendo seguimento. Tribunal extraiu certidão que poderá reabrir processo arquivado sobre irregularidades da polícia na investigação do processo de Rui Pinto.
As alegadas ligações entre o fundo de investimento Doyen e a Polícia Judiciária, expostas esta quinta-feira no julgamento de Rui Pinto, já tinham sido denunciadas por Ana Gomes no ano passado. A candidata à Presidência da República confirmou ao PÚBLICO que após ter visitado Rui Pinto na prisão, em Abril de 2019, denunciou os emails trocados entre o inspector Rogério Bravo e o advogado do fundo de investimento, Pedro Henriques.
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As alegadas ligações entre o fundo de investimento Doyen e a Polícia Judiciária, expostas esta quinta-feira no julgamento de Rui Pinto, já tinham sido denunciadas por Ana Gomes no ano passado. A candidata à Presidência da República confirmou ao PÚBLICO que após ter visitado Rui Pinto na prisão, em Abril de 2019, denunciou os emails trocados entre o inspector Rogério Bravo e o advogado do fundo de investimento, Pedro Henriques.
“Fiz esta exposição com a confirmação por parte do Rui Pinto. Ainda na Hungria, ele tinha dito que existiam elementos da PJ que ‘estavam feitos’ com a Doyen. Quando o visitei pela primeira vez na prisão perguntei-lhe quem eram esses elementos. Então fiz uma exposição a dizer que precisava de ser investigado”, confirmou Ana Gomes.
Esta troca de correspondência poderá voltar a ser investigada, após o tribunal ter remetido uma certidão para um processo sobre o tema que já tinha sido arquivado. Após o seguimento dos trâmites normais, foi considerado que “não havia nada a explorar”, relembra Ana Gomes, que não perseguiu nova investigação. Esta exposição foi endereçada à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, e ao Director Nacional da PJ, Luís Neves.
A primeira vez que Rui Pinto fez referência a uma eventual ligação secreta entre PJ e Doyen foi na Hungria, na audiência em que a Justiça húngara decidiu a extradição para Portugal. “A Doyen pode dizer o que quiser, ainda por cima se elementos ligados à Doyen tiverem reuniões clandestinas com inspectores da PJ que nem fazem partes do processo? Isto é gravíssimo. E quando vemos inspectores da PJ a usarem emails pessoais para falarem com elementos da Doyen e a tratá-los quase como amigos? O Ministério Público investiga isto? Não investiga”, afirmou Rui Pinto em Budapeste.
O denunciante garantiu que a correspondência electrónica na sua posse implicava elementos de topo da Polícia Judiciária, considerando que estes contactos mostravam que a investigação foi feita de forma “completamente irregular”.
Esta quinta-feira, o colectivo de juízes encarregue do julgamento do pirata informático Rui Pinto abriu a porta à investigação da actuação da Polícia Judiciária no caso Football Leaks, ordenando a extracção de uma certidão, que será remetida para um processo que tinha sido arquivado e visava apurar se algum inspector da Policia Judiciária actuou de forma criminosa no âmbito deste caso.
Na sessão de julgamento, o antigo advogado do fundo de investimento, Pedro Henriques, revelou que a PJ lhe indicou em 2015 o nome de um jornalista que poderia ajudar a Doyen a divulgar uma versão alternativa dos factos aquela que estava a ser divulgada pelo site Football Leaks. Depois, o ex-advogado da Doyen revelou também que o inspector Rogério Bravo lhe sugeriu uma proposta de requerimento – que foi depois efectivamente foi enviado em nome da Doyen para a Procuradoria-Geral da República. Uma actuação que a magistrada considerou não ser normal.
O tribunal abre agora a porta para que a actuação da Polícia Judiciária na investigação do Football Leaks seja investigada. Será o Ministério Público a dizer se a investigação avançará.