Peeping Tom e Maguy Marin num GUIdance inspirado em Gilles Deleuze
Foi a partir da questão “O que pode um corpo?”, do filósofo francês, que se construiu a 11.ª edição do festival de dança de Guimarães, a decorrer entre 4 e 13 de Fevereiro. Kind, dos Peeping Tom, e May B, peça histórica de Maguy Marin, sobressaem num cartaz em que Sofia Dias e Vítor Roriz serão os coreógrafos em destaque.
A sensação de finitude promete estar bem viva no último dia do GUIdance de 2021: de regresso a Portugal, a companhia belga Peeping Tom sobe ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) a 13 de Fevereiro, pelas 19h, para apresentar Kind (criança, em neerlandês) no festival internacional de dança de Guimarães. Estreado em 2019, é o último capítulo de uma trilogia familiar que passou por Vader (pai) e Moeder (mãe), peças já exibidas em Portugal. Fundadores dos Peeping Tom e criadores de Kind, os bailarinos e coreógrafos Franck Chartier e Gabriela Carrizo propõem desta vez uma reflexão sobre os aspectos perversos da formação da identidade, num ambiente que evoca os contos de fadas, descreve a companhia.
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A sensação de finitude promete estar bem viva no último dia do GUIdance de 2021: de regresso a Portugal, a companhia belga Peeping Tom sobe ao palco do Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) a 13 de Fevereiro, pelas 19h, para apresentar Kind (criança, em neerlandês) no festival internacional de dança de Guimarães. Estreado em 2019, é o último capítulo de uma trilogia familiar que passou por Vader (pai) e Moeder (mãe), peças já exibidas em Portugal. Fundadores dos Peeping Tom e criadores de Kind, os bailarinos e coreógrafos Franck Chartier e Gabriela Carrizo propõem desta vez uma reflexão sobre os aspectos perversos da formação da identidade, num ambiente que evoca os contos de fadas, descreve a companhia.
Para o director artístico do festival, Rui Torrinha, o encerramento da trilogia promete ser um “momento inesquecível, mas também perturbador”, numa edição com dez espectáculos que almeja ser um “relançamento” do festival criado há uma década. A nortear um programa que oscila entre a “experimentação”, como espaço de “novas sensações” e de “ultrapassagem de limites”, e a “potência”, na forma como a “experiência afecta quem a vê”, estará uma pergunta formulada por Gilles Deleuze a partir das suas leituras de Espinosa: “O que pode um corpo?”.
Mas o próximo GUIdance também não descurará a história da dança contemporânea. A 6 de Fevereiro, o CCVF recebe May B, um clássico de Maguy Marin inspirado em À espera de Godot, do dramaturgo Samuel Beckett. Inconfundível pelas estranhas vestes dos personagens, a peça estreou-se em 1981 e continua em digressão desde então (passou em 2016 pelo Festival de Almada).
Sofia Dias e Vítor Roriz em destaque
Tal como o encerramento, a abertura do próximo GUIdance também constitui um regresso, mas em português. Depois de, este ano, terem apresentado no festival O que não acontece, a dupla Sofia Roriz e Vítor Roriz sobe ao palco do CCVF a 4 de Fevereiro, às 19h30, com a estreia absoluta de Escala. Presentes esta manhã, por videoconferência, na apresentação do programa, os criadores explicaram que a obra explora a diferença de escala entre o individual e o colectivo e as questões com que a humanidade se depara a nível macroscópico, como as alterações climáticas, e a nível microscópico, particularmente o novo coronavírus.
A pandemia, aliás, condicionou o processo de criação de uma peça cuja estreia deveria ter ocorrido em Junho, em Lisboa, confessa Vítor Roriz. “Iniciámos o processo em plena pandemia e tivemos muitas interrupções, porque alguns intérpretes estiverem em contacto com pessoas com covid-19”, disse. Os coreógrafos ponderam até subir ao palco em Escala, porque dois dos cinco elementos do elenco estão indisponíveis, um deles por motivos de saúde.
Como coreógrafos em destaque da edição de 2021, Sofia Dias e Vítor Roriz vão apresentar mais duas peças: a reposição, a 10 de Fevereiro, de Um gesto que não passa de uma ameaça, espectáculo apresentado no GUIdance em 2012, e Sons Mentirosos Misteriosos, uma obra para crianças, com três sessões, nos dias 7 e 8. “É uma peça cheia de associações com o movimento, o desenho e o som, explorando a forma como as crianças se ligam com o mundo e a realidade”, adiantou Sofia Dias. A principal inspiração para a obra foi o próprio filho dos coreógrafos.
De regresso ao festival estará Vera Mantero, coreógrafa em destaque de 2020, que regressa a Guimarães no dia 11, com Vaamo share oque shop é beiro pateiro, uma colaboração com a companhia Dançando com a Diferença, que integra pessoas com necessidades especiais. O programa inclui ainda Coreografia, de João dos Santos Martins, no dia 5; Glottis, de Flora Détraz, habitual intérprete nas obras de Marlene Monteiro Freitas; Fecundação e Alívio neste Chão Irredutível onde com Gozo me Insurjo, de Hugo Calhim Cristóvão e Joana von Mayer Trindade, no dia 12, bem como de Warrior, um solo da luxemburguesa Anne-Mareike Hess, no dia 13.
Presente na apresentação do cartaz, a vereadora para a Cultura da Câmara Municipal de Guimarães realçou que o festival tenciona desenrolar-se como em “tempo de normalidade”, mesmo com o uso de máscara e a provável redução da capacidade das salas para 50%. Adelina Paula Pinto frisou que o GUIdance vai continuar a “gerar novas interrogações”, num ano em que a Oficina, cooperativa municipal responsável pela programação cultural em Guimarães, celebrou o contrato-programa mais alto de sempre – cerca de quatro milhões de euros.