A carta de 1839 em que Elizabeth Barrett Browning descreve a sua quarentena vai ser leiloada – e parece de hoje
Missiva que a poetisa inglesa escreveu isolada no quarto enquanto sofria de tuberculose irá à praça a 17 de Dezembro. Esperam-se licitações entre os 1700 e os 2800 euros.
Em Junho de 1839, a poetisa inglesa Elizabeth Barrett Browning escreveu uma carta de três páginas ao primo, John Kenyon, detalhando o peso emocional do seu isolamento, motivado por sintomas severos e persistentes de tuberculose. Agora, a Bonhams prepara-se para leiloar essa carta em Londres.
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Em Junho de 1839, a poetisa inglesa Elizabeth Barrett Browning escreveu uma carta de três páginas ao primo, John Kenyon, detalhando o peso emocional do seu isolamento, motivado por sintomas severos e persistentes de tuberculose. Agora, a Bonhams prepara-se para leiloar essa carta em Londres.
“[Receber visitas] tem sido uma coisa proibida”, escreveu então a autora, que, por insistência do médico que a acompanhava, se mudou de Londres para a cidade de Torquay em Agosto de 1938 para recuperar. Na carta, Elizabeth Barrett Browning explica a John Kenyon que não pôde sair do seu quarto durante “muitas semanas e meses” e que estava ansiosa por regressar a Londres. “Nada conseguirá curar as saudades de casa até que eu possa voltar para Wimpole Street. Acredito que nunca amei o meu querido pai e o resto [da família] até os deixar”, diz.
A poetisa acreditava que ia recuperar rapidamente e disse ao primo que o médico considerava que o seu estado de saúde estava a melhorar, mas só em 1841 pôde voltar para Wimpole Street, onde a autora de Sonetos Portugueses – uma colecção de 44 sonetos de amor originais que Barrett Browning quis publicar como se fossem traduções de sonetos estrangeiros para proteger a sua privacidade (tocavam no seu relacionamento com o poeta e dramaturgo Robert Browning de uma forma demasiado pessoal para serem partilhados publicamente) – viveu nos seus anos de maior reconhecimento. Foi de resto através de John Kenyon que a poetisa conheceu aquele que viria a ser o seu marido; Robert Browning chamava-lhe afectuosamente “a minha pequena portuguesa”, talvez pela admiração de Elizabeth por Luís de Camões.
Entre o dia em que escreveu a carta e o dia em que teve luz verde para regressar a casa, dois dos seus irmãos morreram: Samuel morreu com uma febre na Jamaica em Fevereiro de 1840 e, em Julho desse mesmo ano, Edward morreu afogado num acidente de barco rumo a Torquay. Elizabeth Barrett Browning sentiu-se culpada por este acidente, até porque o seu pai não havia ficado contente com a decisão de Edward de visitar a irmã em Torquay.
Segundo o The Oxford Dictionary of National Biography, a escritora esteve doente mais de quatro anos, tendo chegado a tossir sangue e a manifestar outros sintomas, como batimento cardíaco irregular, perda da voz, temperatura corporal elevada, desmaios e insónias.
Citado pelo jornal britânico The Guardian, Matthew Haley, da casa de leilões Bonhams, que estima receber licitações entre os 1700 e os 2800 euros, destacou a poderosa ressonância desta carta nos dias actuais: “Ela descreve os constrangimentos que a doença impôs à sua vida – incluindo semanas de isolamento – de uma forma com que muitos de nós conseguiremos identificar-nos. [A carta] mexeu mesmo connosco no departamento livreiro [da Bonhams]: não conseguíamos acreditar quão apropriada é para agora. Ela estava mesmo a sofrer, dá para sentir que estava desesperada para voltar a casa, voltar para Londres, voltar para a família.”