Dia 124: As birras de Inverno com Natal incluído
Ia lá eu, ou qualquer avó de bom senso, perder esta oportunidade de alinhar pelos netinhos, ganhando alguns pontos e deixando os pais a fazerem figura de crianças birrentas?! Nunca.
Mãe,
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Mãe,
Lembra-se das minhas birras sazonais de Verão? Pois bem... Também existem as Birras de Inverno! Ainda não descobriram nenhuma vacina, por isso deixo-lhe aqui apenas uma lista de sintomas do Top 5.
#1 Todos os anúncios de brinquedos
Mães: São compridos, barulhentos, irritantemente aliciantes e estupidamente diferentes do produto final. Coisa que as ingénuas criancinhas não sabem, nem acreditam quando lhes tentamos abrir os olhos. É uma birra tripla porque acontece a três tempos: no presente, quando lhes dizemos que não vamos comprar aquilo; no momento em que acabamos por comprar — tal o medo de que não receber o que desejam lhes estrague o Natal —;e a birra no próprio dia, quando percebemos que o investimento foi estúpido, e como imaginávamos a desilusão de nada daquilo corresponder ao que viram na televisão lhes provoca.
Filhos: Os anúncios são a coisa mais espectacular que já viram na vida, e era exactamente o que queriam e precisavam. Querem tudo, mas aqui e agora!
#2 Calendário de Advento de chocolate
Mães: Há uns lindos, todos vintage, mas os miúdos só querem os da Patrulha Pata. Oferecem-nos um minuto de alívio e de alegria quando os deixamos abrir uma porta e comer o chocolate respectivo, e outras 23 horas e 59 minutos de suplício diário a tentar explicar-lhes porque é que não podem comer todos no mesmo dia. E, se cedermos, temos de aturar a birra na manhã seguinte, porque já não há nenhum!
Filhos: São chocolates. Estão ali. Porque é que só podemos comer um?
#3 Frio
Mães: É um inferno vestir crianças no Inverno. Querem usar uma saia. Recusam collants. As meias nunca ficam com a costura para cima. As T-shirts de manga comprida enrugam-se por baixo das camisolas e as camisolas enchouriçam debaixo do casaco. Cachecóis e luvas são um entusiasmo durante um dia, mas nunca chegam a voltar da escola. As havaianas já não dão (e só isso é uma tragédia) e os sapatos são caros, duram pouco e ainda assim molham-se!
Filhos: Os adultos acham sempre que estamos com frio, mesmo quando estamos a correr há não sei quantas horas. Estão sempre a mandar-nos pôr a camisola. Não nos deixam brincar na rua e temos que andar enchouriçados.
#4 Chuva
Mães: Há trânsito, é um inferno para parar o carro. É uma tortura tirar mochilas, lancheiras e miúdos enquanto chove a potes, principalmente se os mais novos estão a dormir. A chuva implica levar mais casacos e/ou guarda-chuvas, o que só complica tudo!
Filhos: Há poças. A minha mãe não me deixa saltar lá para dentro.
#5 Porcaria da Covid
Todos: Vêm as constipações de Inverno, os ranhos no nariz, as máscaras não deixam assoar e é preciso trocar de máscara três vezes. Além disso todos nos tratam como se tivéssemos a peste negra, e sempre que há um pico de febre a família alargada entra em pânico e o telefone não pára de tocar.
(Esperemos que esta birra seja especifica deste Inverno!...)
Beijinhos!
Querida Ana,
Estou do lado dos filhos, claro. Em todas elas. Coitadinhos dos meninos, é natural que queiram os brinquedos todos aqui e agora, que lhes apeteça mais do que um chocolatinho — não podes comprar um Calendário do Advento por dia, e para cada um deles, porquê?! —, recusem ser enchouriçados, reivindiquem saltar nas poças e, claro, se indignem contra serem tratados como gremlins infecciosos.
Ia lá eu, ou qualquer avó de bom senso, perder esta oportunidade de alinhar pelos netinhos, ganhando alguns pontos e deixando os pais a fazerem figura de crianças birrentas?! Nunca.
Boa sorte, e toma muita vitamina C, porque apesar da luz que nos trouxe a vacina, o terreno é fértil para birras. A birra #5 está a esgotar a paciência a toda a gente.
Love you
No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram