Como foi o estado de emergência: picos de consumo à 6.ª feira, computadores nas escolas a meio do 1.º período, metro com procura a 43%

Relatório da Estrutura de Monitorização sobre o Estado de Emergência que vigorou entre 9 e 23 de Novembro faz raio-x à aplicação das medidas adoptadas nesse período.

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Nuno Ferreira Santos

As aulas começaram a meio de Setembro, mas só na segunda semana de Novembro chegaram às escolas os primeiros kits de computadores para os alunos que não possam frequentar presencialmente as aulas. 

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As aulas começaram a meio de Setembro, mas só na segunda semana de Novembro chegaram às escolas os primeiros kits de computadores para os alunos que não possam frequentar presencialmente as aulas. 

A informação é avançada no relatório sobre a aplicação da declaração do estado de emergência que vigorou entre 9 e 23 de Novembro, com data de 2 de Dezembro e debatido esta sexta-feira no Parlamento, antes mesmo de mais uma renovação. O documento produzido pela Estrutura de Monitorização do Estado de Emergência (EMEE) faz um retrato transversal da aplicação das medidas de combate à pandemia de covid-19. 

O agravamento da situação epidemiológica neste período impôs um estado de emergência com medidas de restrição diferentes por concelho, conforme o grau de risco. Foi neste período que 121 concelhos identificados como sendo de risco mais elevado tiveram um recolhimento obrigatório ao sábado e domingo entre as 13h e as 5h. Uma regra que se juntou à obrigação de recolhimento obrigatório durante os dias úteis às 23h. Afinal, o que aconteceu nesse período? 

Computadores nas escolas a meio do 1.º período 

Apesar de ser esperada uma segunda vaga da pandemia para depois do Verão e da necessidade de preparar as escolas para suspensões de aulas presenciais, só a meio do 1.º período começaram a chegar às escolas os primeiros kits da Escola Digital para os alunos que precisem de ter aulas a partir de casa.

O relatório revela que foi durante este estado de emergência que se deu o “início da distribuição dos kits de computadores (computador portátil, auscultador com microfone e mochila) e conectividade (hotspot e cartão SIM) às escolas”. O documento especifica que “começaram a chegar às escolas, na segunda semana de Novembro, os primeiros kits do programa “Escola Digital”, adiantando que, “num primeiro momento, será dada particular atenção aos alunos abrangidos por apoios no âmbito da Acção Social Escolar, iniciando-se com os alunos do escalão A que frequentam o ensino secundário, priorizando aqueles que não têm acesso a equipamentos electrónicos em casa”.

De Pequim já chegaram 1181 ventiladores

O prolongamento da pandemia obrigou o Serviço Nacional de Saúde (SNS) a reforçar os seus meios para responder a um aumento da procura. Um dos reforços veio da Ásia. No relatório é feito um balanço do que chegou da China em material médico. Desde meados de Março e até final de Novembro houve mais de 50 voos entre a China e Portugal de transporte de material médico, dos quais 15 entre Pequim e Lisboa para transportar 1181 ventiladores para Portugal. 

Mais de 4,3 milhões de testes desde o início da pandemia

Desde o início da pandemia e até ao 23 de Novembro, o número de testes efectuados ascendia a 4.354.797, contabiliza a EMEE, adiantando que se manteve o “reforço significativo da testagem”. Só durante o período deste estado de emergência foram feitos mais de meio milhão de testes, com o dia 13 de Novembro a apresentar-se como o “dia em que mais testes se realizaram desde o início da pandemia – 49.547 testes”. Um número superior ao da taxa média de testes realizados até 23 de Novembro e que se situou em 37.628.

Só 43% procuraram o metro de Lisboa em Outubro

O aumento do número de casos de infecção em Outubro e em Novembro levou a uma menor procura pelos meios de transporte, impulsionada também pela imposição da obrigatoriedade do teletrabalho para as funções onde essa forma de trabalho é possível. Segundo o relatório, em Outubro, o metro de Lisboa apresentou uma procura equivalente a 43% da registada no período homólogo, com o metropolitano da capital a exibir a maior quebra de procura quando comparado com as restantes empresas.

Apesar de ainda não existirem dados finais para Novembro as perspectivas para a Área Metropolitana de Lisboa (AML) não são animadoras. “Pelos dados registados até dia 22, prevê-se que o número de passageiros transportados neste mês sofra uma quebra e se sinta mais um retrocesso na retoma da procura. Entre a primeira quinzena de Novembro e a segunda quinzena de Outubro verificou-se uma redução de 8% do número de passageiros transportados. Com base nos dados já disponíveis, estima-se que a procura de Novembro de 2020 seja cerca de 60% da procura do mês homólogo do ano anterior”. 

D. Maria II com lotação a 88%

Os horários de recolhimento obrigatório vieram trocar as voltas ao mundo do espectáculo que ajustou horários para conseguir manter em cartaz os eventos previstos. Foi o que fez, por exemplo, o Teatro Nacional Dona Maria II que antecipou as peças para os “fins de tarde” em Outubro e Novembro. Neste período, foram apresentadas nove produções, em 89 sessões, das quais 23 em contexto de sala de aula. O teatro dirigido por Tiago Rodrigues registou um total de 6564 pessoas no público o que corresponde a uma taxa de ocupação de 88%. 

450 coimas no estado de emergência

As regras apertadas para estes 15 dias deram origem a um regime contraordenacional específico, que levou à aplicação de 450 coimas, das quais 97 por consumo de bebidas alcoólicas na via pública, 83 por incumprimentos da utilização de máscara para o acesso, circulação ou permanência nos espaços e vias públicas e 77 pelo incumprimento do uso obrigatório de máscaras ou viseiras em estabelecimentos, salas de espectáculo ou edifícios públicos. Estas foram as violações com maior número de multas no total registado.

Picos de consumo à sexta-feira 

No relatório é apontado o impacto negativo na economia que o agravamento da pandemia teve face aos meses anteriores, mas observando-se uma diferença “residual” entre a segunda e a terceira semana de Novembro. O relatório nota, porém, um efeito mais significativo de consumo em dias específicos “nomeadamente à sexta-feira”. O que vai ao encontro dos dados sobre mobilidade dos residentes em Portugal que apontam para “uma afluência expressiva a supermercados e a farmácias, no último dia útil da semana”.