Bangladesh transfere refugiados rohingya para ilha remota onde há frequentes inundações
São cerca de um milhão e fugiram da perseguição genocida das tropas birmanesas. O Bangladesh quer encerrá-los num lugar remoto que emergiu do mar há 20 anos. Bhasan Char “é um centro de detenção numa ilha”.
O Bangladesh deu início aos preparativos para transferir milhares de refugiados rohingya para uma ilha remota ao largo de sua costa, apesar da oposição de muitos refugiados e de grupos de direitos humanos, que dizem tratar-se de um “centro de detenção”.
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O Bangladesh deu início aos preparativos para transferir milhares de refugiados rohingya para uma ilha remota ao largo de sua costa, apesar da oposição de muitos refugiados e de grupos de direitos humanos, que dizem tratar-se de um “centro de detenção”.
O Governo do Bangladesh diz que o transporte dos refugiados para Bhasan Char - ilha na Baía de Bengala, a horas de barco do continente - diminuirá a sobrelotação crónica nos vários campos de Cox's Bazar, que abrigam mais de um milhão de rohingya, uma minoria muçulmana que fugiu da vizinha Birmânia onde é perseguida.
Grupos de ajuda humanitária e de defesa dos direitos humanos pediram a suspensão da transferência, dizendo que a ilha, que emergiu do mar há 20 anos e nunca foi habitada, é propensa a inundações e vulnerável aos frequentes ciclones. O Bangladesh não autorizou as Nações Unidas a realizar uma avaliação de segurança.
Uma fonte local, que falou sob condição de anonimato, disse à Reuters que “muitas famílias” foram retiradas dos campos na noite de quarta-feira, mas não quis dizer um número. Mais de 730 mil rohingya fugiram da Birmânia em 2017, após uma operação militar que a ONU considerou ter sido realizada com intenção genocida.
A Birmânia nega a acusação e diz que as suas forças tinham como alvos os rohingya que atacaram postos da polícia.
Uma nota informativa de uma organização humanitária internacional vista pela Reuters disse que centenas de refugiados identificados pelas autoridades como dispostos a ir para a ilha foram levados para um centro de trânsito na quarta-feira, com alguns incentivos oferecidos, incluindo pagamentos em dinheiro.
Mohammed Shamsud Douza, o vice-responsável do Governo de Bangladesh encarregado dos refugiados, disse que foram construídas moradias para 100 mil pessoas e que as autoridades querem realojá-las durante a estação seca que vai de Novembro a Abril, quando o mar está calmo. “Não forçaremos ninguém a ir para lá”, disse a fonte por telefone, mas não comentou se foram oferecidos incentivos.
A ONU disse em comunicado que recebeu “informações limitadas” sobre os realojamentos e que não estava envolvida nos preparativos.
Uma porta-voz das Nações Unidas, Louise Donovan, disse à Reuters que o Governo do Bangladesh não deu permissão à ONU para realizar avaliações técnicas ou visitar refugiados já detidos na ilha.
Mais de 300 refugiados foram levados para Bhasan Char no início deste ano, depois de um grupo ter tentado fugir de barco para a Malásia - ficaram presos no mar durante meses, tendo denunciado que foram impedidos de prosseguir viagem e acusaram as autoridades do Bangladesh de violação dos direitos humanos; alguns fizeram greve de fome.
“Os rohingya nos campos de Cox's Bazar enfrentam muitos problemas e os campos estão sobrelotados e são imperfeitos, mas transferir pessoas para uma ilha isolada onde não têm protecção ou o apoio de agências humanitárias internacionais ou liberdade de movimento não é a resposta”, disse Ismail Wolff, director regional da organização de direitos humanos sem fins lucrativos Fortify Rights.
“Neste momento, aquilo não é mais do que um centro de detenção numa ilha.”