Vacina, uma dose de esperança e outra de desconfiança
A grande dúvida que se poderá colocar após o anúncio do plano de vacinação contra a covid-19 reside na capacidade de resposta logística do sistema de saúde.
A vacina contra a covid-19 gera, ao mesmo tempo, uma dose de esperança e outra de desconfiança. A indústria farmacêutica nunca foi tão rápida a produzir uma vacina que apresenta como “suficientemente segura” para ser administrada (o que nos faz crer que a sua prontidão pode ser aplicada em outros casos de idêntica gravidade).
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A vacina contra a covid-19 gera, ao mesmo tempo, uma dose de esperança e outra de desconfiança. A indústria farmacêutica nunca foi tão rápida a produzir uma vacina que apresenta como “suficientemente segura” para ser administrada (o que nos faz crer que a sua prontidão pode ser aplicada em outros casos de idêntica gravidade).
Mas a sua rapidez também gera desconfiança entre quem prefere recebê-la mais tarde, a ponto de apenas um terço da população portuguesa estar disposta a ser inoculada assim que ela estiver pronta. Convém estarmos cientes de que a vacina não vai ser aplicada com a velocidade desejável e que qualquer uma delas tem reacções adversas, que, neste caso, até podem aumentar a desconfiança, se os seus efeitos contrários não forem devidamente explicados.
A grande dúvida que se poderá colocar após o anúncio do plano de vacinação contra a covid-19 reside na capacidade de resposta do sistema de saúde. Os centros de saúde foram capazes de administrar 1,5 milhões de vacinas contra a gripe em cerca de dois meses — o mais provável é que reivindiquem mais enfermeiros para esta empreitada —, mas a vacina da Pfizer levanta novas questões de logística, dada a necessidade de uma rede de conservação a frio, e a temperaturas extremas. A campanha é um desafio para a burocracia da organização do sistema de saúde.
O guião até chegar a vacina é simples e difícil. A transmissão começou a diminuir antes da declaração do estado de calamidade a 14 de Outubro e continuou a diminuir com a adopção de medidas mais restritivas, como o uso obrigatório de máscaras, medidas diferenciadas por concelho ou o recolher obrigatório, próprio de quem está em guerra.
Os contágios sobem quando os contactos aumentam e o Natal é mais do que propício a que isso aconteça, se tivermos em conta que dois em cada 100 portugueses podem infectar outra pessoa sem saberem que o estão a fazer.
A decisão difícil que agora que se coloca, depois de assegurada uma aparente tendência de descida dos contágios nas próximas semanas, é sobre que restrições irão vigorar aquando do Natal, sabendo-se que, sejam elas quais forem, não serão as mais populares.
Os partidos, neste ponto, pelo menos são coincidentes, ao defenderem o aligeiramento das restrições em nome de “um pequeno escape”. E o aligeiramento não será inócuo. Como qualquer especialista nos explica, é a mola, é a mola.