Rendi-me à insistência em decorar mais cedo a casa

A palavra pandemia instalada sem convite no vocabulário banal lá de casa, os meses do calendário vividos aos solavancos num “novo normal” infindável, ainda sem ponto final à vista ou data limite marcada, não desejado por ninguém.

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"O brilhozinho nos olhos é igual, mesmo num ano diferente" Szabo Viktor/Unsplash

E o Natal bateu outra vez à porta, entrou por estes dias e sentou-se à nossa mesa, convidado pelos miúdos,
Rendi-me à insistência em decorar mais cedo a casa.
Cedi antecipar o momento, como faço todos os anos, apesar da tradição familiar antiga ser montar a árvore e o presépio mais tarde, no feriado que evoca a revelação pelo Anjo à Mãe do Menino que cresce em segredo no Seu regaço.

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E o Natal bateu outra vez à porta, entrou por estes dias e sentou-se à nossa mesa, convidado pelos miúdos,
Rendi-me à insistência em decorar mais cedo a casa.
Cedi antecipar o momento, como faço todos os anos, apesar da tradição familiar antiga ser montar a árvore e o presépio mais tarde, no feriado que evoca a revelação pelo Anjo à Mãe do Menino que cresce em segredo no Seu regaço.

Fomos buscar os caixotes guardados na garagem, a alegria colectiva a despontar ao ver os enfeites de Natal espalhados no chão,
e as memórias vivas a dançar pela sala fora, ao som da música natalícia.
O pensamento a recordar Natais passados e carinhosamente guardados na delícia da lembrança das coisas boas, viagens na distância do tempo, Natais já desembrulhados e sem laços.
Ficaram as saudades e as memórias, e quando reavivadas, essas histórias recordadas são como abraços quentes na alma das pessoas.

Já vai bem longe a infância, nem os meus filhos são crianças agora,
mas talvez sejamos todos outra vez, no coração, quando o Natal nos bate à porta, todos os anos.
Porque o brilhozinho nos olhos é igual, mesmo num ano diferente.

A palavra pandemia instalada sem convite no vocabulário banal lá de casa, os meses do calendário vividos aos solavancos num “novo normal” infindável, ainda sem ponto final à vista ou data limite marcada, não desejado por ninguém.
Sabemos bem ser inevitável viver assim, cautelosamente, enquanto o vírus que teima em ser assombração no nosso mundo humano não se for definitivamente embora.

Chegada a hora do ritual natalício, a azáfama repetida mas sempre com um sabor especial todos os anos,
e onde estão as fitas, e onde estão as bolas, estão aqui mãe (já não sou a “mamã”, como os nossos filhos crescem rapidamente sem darmos conta).

O Menino desembrulhado com o cuidado que é preciso, olhem só, o burro tem uma orelha lascada mas ninguém vai ligar a isso, o presépio está bonito e não importa se não é perfeito.
As renas velhinhas a estacionar no mesmo sítio, no parapeito da janela, o Pai Natal a viajar pela cozinha, e finalmente a árvore montada.
A Mia remexe nas memórias felinas e enrosca-se a seus pés, só falta a estrela, aqui está ela, a fotografia da praxe de onde a gata se tenta escapar furtivamente, mas a sua atenção é cativada momentaneamente pelas luzes a piscar e pela nossa gargalhada, que ilumina também a imagem captada.

Adoro a casa em modo Natal, diz um dos três, ficou tão linda a árvore, mãe, fica sempre, e os sorrisos dos meus filhos com mais nitidez, mais uma vez.
A alegria da infância reaparece na adolescência, em alturas assim.

Mesmo tendo consciência da incerteza dos dias, mesmo com os meses deste ano vividos aos solavancos num “novo normal” de uma indolência incrível, que parece não ter fim, e que todos desejamos que se transforme em  passado o mais depressa possível,
o vírus não é invencível, eles estão cheios de esperança na vacina, e eu também.

Este Natal será diferente é verdade, mas o futuro está pela frente e não faltará decerto tempo para concretizar, mais tarde, todos os planos adiados deste ano.

A casa decorada e acolhedora, o anoitecer a chegar cada vez mais cedo, Dezembro a começar e a mostrar-se no frio vincado, que pede mais um aconchego.

Espreito a rua deserta pela janela, um silêncio quase total, o horizonte vazio e também calado, mais um confinamento, outra palavra tornada vulgar nestes tempos de pandemia.

Apesar de tudo, sinto a alegria do espírito de Natal a crescer no peito, tenho sorte por aqui estar, com os meus filhos ao lado, e as pessoas a quem quero bem, muito perto do coração.

Vejo uma estrela a piscar lá fora, penso na Estrela, olho a imagem do Menino adormecido, aqui já deitado nas palhinhas, algures por nascer em Belém.
Pressinto que a minha esperança num ano que vem diferente é igual à de toda a Humanidade. E vai ser, se Deus quiser.
Importa manter vivo por dentro o calor deste sentimento especial, em modo Natal.