Estudo alerta para substâncias perigosas no organismo devido a embalagens
Em seis países, incluindo Portugal, através da associação ambientalista Zero, foram rastreadas 28 substâncias químicas na urina.
Análises a 52 pessoas de vários países europeus, incluindo Portugal, detectaram entre 18 e 23 substâncias químicas perigosas no organismo, resultantes da utilização de embalagens alimentares descartáveis, especialmente de plástico.
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Análises a 52 pessoas de vários países europeus, incluindo Portugal, detectaram entre 18 e 23 substâncias químicas perigosas no organismo, resultantes da utilização de embalagens alimentares descartáveis, especialmente de plástico.
De acordo com os resultados do estudo, divulgados esta quinta-feira, foram rastreadas (em análises à urina) 28 substâncias químicas e em cada uma das amostras foram encontradas entre 18 e 23 substâncias perigosas.
O estudo foi feito em seis países e em Portugal participaram dez pessoas, entre eles um deputado, um autarca, jornalistas e professores. Em todos os países o objectivo foi avaliar a presença no corpo humano de substâncias químicas potencialmente perigosas, em resultado da utilização quotidiana de embalagens, em particular as embalagens alimentares.
Segundo os resultados do estudo, divulgados pela associação ambientalista Zero, que participou na iniciativa, as variações entre os países (Bélgica, Bulgária, Letónia, Eslovénia e Espanha, além de Portugal) não foi significativa, “o que indica que o contacto quotidiano com estas substâncias acontece um pouco por toda a Europa, sendo transversal à geografia, profissão, idade, entre outras variáveis”, diz a Zero em comunicado.
As análises centraram-se na avaliação da presença de químicos que podem ser encontrados nas embalagens descartáveis de alimentos, como os ftalatos e os fenóis. Os dois são associados, por estudos científicos, a doenças como o cancro e doenças cardiovasculares e terão impactos negativos também nos sistemas reprodutivo e imunitário, salienta a associação.
“Estes resultados são mais uma prova de como as embalagens e os produtos que consumimos e usamos quotidianamente introduzem substâncias químicas estranhas ao nosso corpo, que a ciência tem vindo a demonstrar serem potenciais riscos para a nossa saúde e para o ambiente. É urgente reduzir o uso de opções descartáveis e apostar em materiais seguros e circulares”, alerta Susana Fonseca, da direcção da Zero, citada no comunicado.
O projecto resultou de uma parceria dentro da rede europeia Zero Waste Europe, que agrega 31 membros de 24 países e que tem como objectivo liderar a transição para uma Europa sem resíduos.
As organizações envolvidas chamam a atenção para os potenciais problemas para a saúde humana decorrentes do actual modelo de produção e consumo e pedem que seja revista a legislação aplicável aos materiais para contacto com os alimentos.
Retalhistas e marcas devem também mudar para alternativas mais seguras e os consumidores devem fazer escolhas mais saudáveis, apelam também as organizações.
A Zero recorda o alerta de cientistas em Março deste ano (no chamado “Consensus Statement”) para os milhares de substâncias químicas usadas em embalagens alimentares e outros materiais em contacto com alimentos. Muitas dessas substâncias conseguem migrar das embalagens para os alimentos, pelo que o seu uso continuado deve ser entendido como um risco para a saúde humana.
Em consequência do alerta, mais de 230 organizações não governamentais de todo o mundo pediram aos decisores políticos para tomarem iniciativas urgentes. No início do ano, a Comissão Europeia tinha-se comprometido a propor a revisão da legislação sobre os materiais para contacto com os alimentos até ao fim de 2022.