Quando vou ser vacinado? Já há alguma vacina aprovada na UE? O que se sabe e o que falta saber
Depois de o Reino Unido se tornar o primeiro país a aprovar uma vacina da covid-19, os 27 aguardam a luz verde do regulador europeu. Ainda não se sabe tudo sobre o processo de vacinação em muitos países, mas há aspectos que já são dados como certos. Portugal vai comprar mais de 22 milhões de doses e deve receber as primeiras, da Pfizer, no dia 1 de Janeiro.
O Reino Unido tornou-se esta quarta-feira o primeiro país ocidental a aprovar uma vacina da covid-19, depois de o regulador britânico dar luz verde à vacina desenvolvida pela Pfizer e pela BioNTech e conceder uma utilização de emergência em tempo recorde.
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O Reino Unido tornou-se esta quarta-feira o primeiro país ocidental a aprovar uma vacina da covid-19, depois de o regulador britânico dar luz verde à vacina desenvolvida pela Pfizer e pela BioNTech e conceder uma utilização de emergência em tempo recorde.
A Pfizer e a BioNTech, juntamente com a rival Moderna, divulgaram os dados que mostram que as suas vacinas têm 95% de eficácia na prevenção da doença, enquanto a AstraZeneca e a Universidade de Oxford avançaram que, em média, a sua terapêutica tinha 70% de eficácia, percentagem que pode subir dependendo do regime de dosagem escolhido. A farmacêutica AstraZeneca já avançou que vai realizar um “estudo adicional” para validar estes resultados. Estas três vacinas são as que estão mais perto de pôr um travão, que não será imediato, à pandemia de covid-19.
As empresas garantem que a distribuição pode começar assim que vejam as vacinas aprovadas. Fica a cargo do governo de cada país decidir quem será inoculado e em que ordem e, igualmente importante, delinear a logística para a aplicação de milhares de doses de vacinas num curto período de tempo.
Já foi aprovada alguma vacina na UE?
Ainda não, mas está para breve. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla inglesa) anunciou na segunda-feira ter recebido dois pedidos de autorização condicional de comercialização das vacinas desenvolvidas pela BioNTech e Pfizer e pela Moderna, esperando emitir uma decisão “dentro de semanas”.
Se os dados que a EMA está a analisar sobre as vacinas forem suficientemente sólidos para obter uma conclusão sobre a qualidade, segurança e eficácia, o comité científico concluirá a avaliação da vacina da Pfizer durante uma reunião extraordinária agendada para 29 de Dezembro. E tomará uma decisão sobre a vacina da Moderna até 12 de Janeiro.
Na prática, caso esta autorização chegue nas próximas semanas, há cidadãos na Europa que poderão ser vacinados ainda este ano.
E o que se segue?
Depois desta luz verde do regulador europeu, é a vez de a Comissão Europeia “acelerar o seu processo de tomada de decisão com vista a conceder uma autorização condicional de introdução no mercado válida em todos os Estados-membros da UE e do Espaço Económico Europeu no prazo de dias”, explicou a EMA numa nota. A partir desse ponto, caberá a cada país pôr em marcha a sua estratégia de vacinação.
Quantos contratos já assinou a UE?
A Comissão Europeia já firmou pelo menos seis contratos com produtores de vacinas, mas tem um sétimo debaixo de olho, segundo revelou a presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, na semana passada. Para já, há acordos com a AstraZeneca (300 milhões de doses), a Sanofi-GSK (300 milhões), Johnson & Johnson (200 milhões), BioNTech e Pfizer (300 milhões), CureVac (405 milhões) e Moderna (80 milhões de doses numa primeira fase, 160 milhões numa fase posterior).
Que vacina receberá Portugal?
A primeira vacina a chegar a território português, se for aprovada, deverá ser a da Pfizer, logo três dias após o “sim” da EMA, ou seja, no primeiro dia de Janeiro de 2021. Foi o que disse esta quarta-feira a directora médica da Pfizer Portugal, Susana Castro Marques, em entrevista à RTP.
A representante da farmacêutica explicou ainda que a Pfizer e a BioNTech vão assegurar todas as etapas do transporte e distribuição da vacina, desde as fábricas de produção até aos locais de vacinação designados pelas autoridades portuguesas. “Vamos ter uma componente de distribuição aérea para alguns pontos fulcrais do país ou da região e depois uma rede de transporte terrestre para fazer depois, a partir desses centros, a distribuição para outros locais que sejam designados”, acrescentou.
No entanto, a União Europeia (UE) assegurou pelo menos seis diferentes tipos de vacinas de diferentes produtores, o que significa que outras vacinas poderão chegar a Portugal assim que forem aprovadas, como é o caso da terapia da Moderna.
Portugal já tem um plano de vacinação?
Sim, mas este plano ainda não é público. Será apresentado esta quinta-feira. António Costa e Marta Temido reuniram-se esta quarta-feira ao final da tarde com a equipa que o está a elaborar. À saída do encontro, a ministra da Saúde afirmou que a vacina, que deverá chegar a Portugal no início de Janeiro, será “facultativa”, “gratuita” e integrada no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Na quinta-feira serão conhecidos aspectos de logística, segurança e de registo para a vacinação, entre outros. Mas Temido avisou já: “O processo de vacinação será longo, não será num único dia.” “Durante vários meses” de 2021 deverão ser aplicadas as regras de prevenção da covid-19.
Segundo a titular da pasta da Saúde, as vacinas estão em diferentes fases dos ensaios clínicos ou de avaliação por parte de reguladores, o que também terá influência no calendário de vacinação. “Admitimos que no primeiro trimestre tenhamos ainda alguma escassez de vacinas, que justificaram a selecção de grupos de populações-alvo ou prioritárias, em Portugal e nos outros países. Depois, ao longo de países, teremos cenários de maior disponibilidade de vacinas no mercado nos países que levarão a outras soluções. Num cenário extremo, de final do ano, é equacionável que haja uma distribuição muito mais descentralizada do que num momento inicial”, disse.
Na terça-feira, o primeiro-ministro tinha dito, em entrevista ao Observador, que Portugal não está atrasado em relação a outros países na divulgação desta estratégia, algo que Marta Temido já tinha sublinhado. “O que é fundamental é que no dia em que a vacina esteja disponível tudo esteja montado para que a vacina seja distribuída”, defendeu. E assegurou que Portugal começou a trabalhar neste plano praticamente desde o início da pandemia e que fez a encomenda máxima por cada lote a que tinha direito.
Quantas doses receberá Portugal?
Portugal vai comprar mais de 22 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, o que representa um custo de 200 milhões de euros, segundo disse a ministra da Saúde esta quarta-feira.
As vacinas já estão a ser fabricadas?
Sim. A Pfizer, a Moderna e a AstraZeneca, que vão na frente da corrida, já começaram a fabricar as respectivas vacinas. A Pfizer disse que este ano teria doses suficientes para inocular 25 milhões de pessoas, a Moderna o suficiente para 20 milhões e a AstraZeneca para mais de 100 milhões.
A AstraZeneca diz que está a fazer progressos no fabrico da vacina e que conta ter uma capacidade de até três mil milhões de doses da vacina em 2021 “numa base contínua”, dependendo da aprovação dos reguladores. A Pfizer disse esta quarta-feira que até ao fim do próximo ano conta ter doses suficientes “para acabar com a pandemia”. Já a Moderna revelou ainda estar “no caminho certo” para produzir entre 500 milhões e mil milhões de doses em 2021.
Quando é que os outros países começarão a vacinar?
O processo varia de país para país. Tanto a Moderna como a Pfizer já solicitaram à Food and Drug Administration (FDA), que regula o sector dos medicamentos nos EUA, uma autorização de emergência para o uso da sua vacina contra a covid-19. Além da UE, também o Japão, Canadá e Austrália estão todos a executar os respectivos processos regulatórios para aprovação rápida.
O Reino Unido, que encomendou 40 milhões de doses à Pfizer-BioNTech, o suficiente para menos de um terço da população, começará a vacinar as pessoas na próxima semana. Os residentes de lares de idosos e respectivos funcionários estão no topo da lista de prioridades, seguidos pelas pessoas com mais de 80 anos e pelos profissionais de saúde que estão na linha da frente do combate à pandemia — esta lista é idêntica em grande parte dos países europeus.
Os prazos de entrega variam e a grande parte ainda está a elaborar os planos para distribuição e administração das doses, mas há pormenores que já se sabem sobre a estratégia de cada país. A Itália espera receber as primeiras entregas das vacinas da Pfizer-BioNTech e da AstraZeneca no início do próximo ano. Espanha já tem a estratégia delineada, mas só avança para a vacinação em Janeiro. Na Hungria, os cidadãos só deverão começar a ser vacinados na Primavera.
A Alemanha, um dos primeiros países a avançar com um plano, já prepara os locais onde a vacinação deverá ser feita. Em Berlim, um salão de feiras, dois terminais de aeroportos, uma pista de gelo, uma arena de concertos e um velódromo vão ser transformados em grandes centros de vacinação, operacionais já em Dezembro, onde serão vacinadas quatro mil pessoas por dia.
Quanto custará uma vacina?
A resposta depende não só do fabricante, mas também do país, uma vez que ambas as partes negociaram os preços e alguns nem são públicos. Segundo a agência Reuters, os governos pagaram “alguns euros” pela injecção da AstraZeneca e cerca de 40 euros pelo regime de duas doses da Pfizer. Muitos países, como Portugal, já avançaram que a vacinação será gratuita.
Haverá vacinas para os países mais pobres?
Sim, pelo menos é esse o objectivo do Covax, um mecanismo criado pela Organização Mundial de Saúde e outros organismos que pretende garantir que, numa primeira fase, 3% da população desses países seja vacinada — o propósito final é chegar a 20% da população. Espera-se, mas ainda não é certo, que os países menos ricos de África e do Sudeste asiático, como a Índia, recebam vacinas a baixo ou a custo zero no âmbito deste programa durante o próximo ano. Outros países, como os da América Latina, podem comprar vacinas através do Covax.