Hidden: 40 fotógrafos entram “em alguns dos sítios mais sombrios do mundo” para um livro sobre abuso animal
O mais recente livro criado pela fotógrafa e activista Jo-Anne McArthur quer mostrar os “animais invisíveis” escondidos por várias indústrias. Nem sempre foram imagens fáceis de capturar. “A razão é simples: quando há câmaras, há provas de crueldade a que muitos consumidores se opõem.”
Os editores de Hidden não hesitam em igualar o fotojornalismo sobre exploração animal à fotografia de guerra. “É muito comparável em termos do assunto em questão, porque há vítimas e opressores, atrocidades e massacres”, defende Keith Wilson, convidado por Jo-Anne McArthur para co-editar o livro “sobre o conflito dos humanos com animais não-humanos”.
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Os editores de Hidden não hesitam em igualar o fotojornalismo sobre exploração animal à fotografia de guerra. “É muito comparável em termos do assunto em questão, porque há vítimas e opressores, atrocidades e massacres”, defende Keith Wilson, convidado por Jo-Anne McArthur para co-editar o livro “sobre o conflito dos humanos com animais não-humanos”.
Nele, 40 fotógrafos de 16 países infiltram-se em fábricas de criação intensiva e em matadouros para mostrar “os animais invisíveis”, escondidos atrás de “paredes e eufemismos” bem guardados pelas indústrias. “Estes fotógrafos entraram nalguns dos lugares mais sombrios, mais perturbadores, em todo o mundo”, descreve o actor e activista Joaquin Phoenix, no prefácio. Não pedem desculpa pelo que revelam. Mas, ao longo de 300 páginas, quiseram ir muito além do “choque”.
“A pecuária industrial e outras indústrias que usam animais não querem câmaras por perto. A razão é simples: quando há câmaras, há provas de crueldade sistemática a que muitos consumidores se opõem”, escreve McArthur, que já publicou no P3 um trabalho num matadouro na Tailândia onde se matam porcos à paulada e um outro livro, Captive, sobre as vidas dos animais cativos em zoos e aquários.
Há décadas que a fotógrafa e activista pelos direitos de animais se dedica a construir um arquivo fotográfico que funciona como “memória” das curtas vidas dos animais usados para roupa, comida, investigação científica e entretenimento. “O fotojornalismo animal é revolucionário por duas razões. Primeiro, as imagens neste género exigem uma auto-consciencialização e uma empatia radical. Quem as vê tem de se descentrar e examinar o mundo através dos olhos de uma espécie diferente, ao mesmo tempo que retém o papel inegável da humanidade na história”, acredita. “Depois, é uma ameaça fundamental a sistemas que continuam, em grande parte, incontestados. Procurar estas histórias visuais é em si um acto de resistência.”
Hidden foi lançado em Novembro e publicado pela We Animals Media, a organização e arquivo online aberto criados por Jo-Anne McArthur, depois de uma campanha de crowdfunding que reuniu 130 mil euros, muito acima do valor pretendido.
Para que mais pessoas se juntem à discussão sobre bem-estar animal, que muitas vezes é fechada mal se fala no consumo de carne, McArthur vai enviar cópias do livro a políticos, lobistas, grupos de agricultura e chefs. “Desde crises de saúde pública e ambiental a zoonoses, os animais estão ligados a muitas áreas que causam uma preocupação global. A nossa existência está interligada, e a forma como tratamos outros seres sencientes com quem partilhamos o planeta está a começar a ser questionada”, espera a fotojornalista.
“É irónico que a pandemia de covid-19 tenha coincidido com a produção do livro. Trabalhar nele mostrou-me como o nosso tratamento terrível dos outros animais, quer na pecuária quer no mundo selvagem, está no centro do nosso próprio mal-estar”, reflecte Keith Wilson, que recentemente trabalhou numa colecção de fotografias sobre o tráfico ilegal de animais selvagens. “É impossível esquecer que todos os animais nas fotografias, e em todas as páginas de Hidden, estão agora mortos.”