Iniciativa Liberal e Chega foram os partidos que dominaram as redes durante a pandemia

Apesar de não ser o partido com mais seguidores, a Iniciativa Liberal é o que mais interacções gera nas três redes sociais analisadas. Aí, foram os partidos com um deputado eleito que mais cresceram durante a pandemia.

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Desde o início da pandemia que foram a IL e o Chega que mais cresceram em seguidores DIOGO VENTURA

As restrições impostas pela pandemia desafiaram os partidos a reajustar as suas estratégias e plataformas e a encontrar novas formas de chegar aos eleitores. Uns mais expressivos, outros mais tímidos, todos os partidos com assento parlamentar viram o seu número de seguidores nas redes sociais crescer nos últimos meses. Mas ainda que estas estruturas de comunicação política alternativas aos modelos tradicionais somem cada vez mais seguidores, o desempenho de cada partido nas redes é díspar e regra geral ainda é pouco eficiente (especialmente entre os partidos do “arco governativo”).

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As restrições impostas pela pandemia desafiaram os partidos a reajustar as suas estratégias e plataformas e a encontrar novas formas de chegar aos eleitores. Uns mais expressivos, outros mais tímidos, todos os partidos com assento parlamentar viram o seu número de seguidores nas redes sociais crescer nos últimos meses. Mas ainda que estas estruturas de comunicação política alternativas aos modelos tradicionais somem cada vez mais seguidores, o desempenho de cada partido nas redes é díspar e regra geral ainda é pouco eficiente (especialmente entre os partidos do “arco governativo”).

No último mês, enquanto os números de novos casos de covid-19 e de mortes disparavam para valores recorde, registava-se também um aumento generalizado da actividade dos partidos políticos em três redes sociais: Facebook, Twitter e Instagram. O início de mais uma sessão legislativa, o aumento do nível de crítica da oposição e a discussão do Orçamento do Estado podem ser algumas das justificações.

Nas principais redes sociais utilizadas pelos partidos portugueses, PCP, BE, PEV, PAN, PS, PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega somam 1,8 milhões de seguidores, de acordo com os dados de Outubro disponibilizados pela Foxp2, uma empresa portuguesa que mede e analisa dados públicos. Aproximadamente 70% dos seguidores estão no Facebook, o que fornece aos partidos indicadores como idade, género, educação, estado civil, profissão e residência. Segue-se o Twitter (com 17 % dos seguidores) e o Instagram (13%).

Se olharmos para estas três redes, o PSD é o partido com mais seguidores. Mas isso quer dizer que é o partido mais bem-sucedido nas redes? Nem por isso. Ainda que os sociais-democratas somem mais de 216 mil seguidores, o engagement (o termo técnico utilizado para medir o impacto dos seguidores de um partido em gostos, comentários e partilhas) é baixo (ficam apenas à frente do PAN e do PS e atrás de todos os restantes), “pelo que o uso da plataforma acaba por ser ineficiente”, explica João Andrade Costa, co-fundador da Foxp2 e consultor em Tecnologias de Informação. “Olhar apenas para a evolução do número de seguidores diz-nos pouco sobre a forma como um partido se comporta nas redes. É preciso olharmos para as interacções que geram e para o quanto conseguem cativar com as suas mensagens”, prossegue João Andrade Costa.

Nesse caso, se quisermos saber qual é o partido que mais reacções (positivas ou negativas) obtém nas redes sociais precisamos de olhar um pouco mais para a direita no hemiciclo. Apesar de ter apenas um deputado eleito, é a Iniciativa Liberal (IL) o partido que mais engagement soma. Ou seja, apesar de terem um universo de seguidores que fica (por enquanto) aquém dos 216 mil seguidores do PSD, os liberais são os que mais geram interacções com o eleitorado nas três redes sociais. Embora a IL tenha menos seguidores do que o PSD, PAN (203 mil), BE (172 mil) e Chega (158 mil), os seus 152 mil seguidores são mais activos, e partilham, comentam e gostam mais do que vêem nas páginas do partido.

E é justamente entre os partidos com apenas um deputado eleito que encontramos maior engagement, em particular durante a pandemia. Apesar de nem a IL nem o Chega terem sido os partidos com mais conteúdo produzido para as redes (esse foi de forma mais ou menos consistente o Bloco de Esquerda), no início da pandemia em Portugal (e da declaração do primeiro estado de emergência) foram a IL e o Chega que dispararam para o primeiro lugar das interacções e que mais aumentaram o seu número de seguidores. Desde Março, a IL e o Chega disputam a liderança do engagement nas redes: cada vez que a IL sobe no seu engagement o Chega desce (e vice-versa).

O facto de os partidos mais pequenos obterem os melhores resultados pode reflectir o conteúdo das suas mensagens, por vezes “mais radicais e simplistas”, interpreta o especialista, o que acaba por se reflectir na sua eficácia e afastar os restantes partidos que “têm mais a perder” caso arrisquem.

De Maio até Agosto, com o “desconfinamento da política”, também o Bloco se aproximou da IL e do Chega no nível de interacção nas redes, recolhendo frutos da sua aposta na produção de conteúdo. A segmentação de publicações, nota João Andrade Costa, também “reflecte o público-alvo e eleitorado dos partidos”, consoante a sua idade e até o seu nível académico. O Chega, por exemplo, fez mais publicações no Facebook, enquanto a IL apostou no Twitter.

Foi também nos primeiros meses da pandemia que o PS cresceu para o seu recorde máximo de interacções com os utilizadores nas redes sociais, tendo atingido o pico em Abril, com valores semelhantes aos que tinha tido à data da campanha para as eleições legislativas de 2019, o que pode estar relacionado com as medidas que foram sendo anunciadas pelo Governo.

Com o início do desconfinamento, em Maio, as interacções dos socialistas começaram a cair para perto das dos restantes partidos (recuperariam em Setembro) e apenas a IL, o Chega e o Bloco de Esquerda mantiveram as suas acima dos restantes partidos. O único partido que se aproximou destes valores foi o PAN, em Julho, um fenómeno que João Andrade Costa relaciona não com a pandemia, mas “com o incêndio florestal que consumiu um canil em Santo Tirso”.

O co-fundador da Foxp2 destaca também o crescimento do PCP nos últimos meses e da sua recente aposta nas redes sociais, tendo sido o segundo partido que mais conteúdo produziu no último mês, ficando apenas atrás do Bloco e à frente do PS, do PSD e da IL.

Apesar de os números mostrarem que a popularidade online não se traduz necessariamente nas escolhas eleitorais, vale a pena assinalar que são os partidos mais jovens e mais pequenos que mais dominam as redes e que mais potenciaram as suas contas online durante a pandemia.