“A gestão está a falhar a todos os níveis na floresta”, diz João Ferreira do Amaral
“Houve décadas de desleixo muito grande” em relação à floresta em Portugal, acusa João Ferreira do Amaral. O economista e professor universitário diz que “o principal problema é a falta de gestão”, quer ao nível da “política económica”, mas também do ponto de vista da “gestão individual” e da “gestão agrupada” das explorações.
O sector florestal representa 1,5% do PIB nacional e 10% das exportações de mercadorias. Está “cheio de potencialidades”. Falta-lhe, porém, “uma componente imprescindível: a gestão”, aponta João Ferreira do Amaral. Seja a nível macro, político, e face às actividades florestais, seja ao nível individual, da gestão dos terrenos, e da gestão agrupada, para que se possam ultrapassar as dificuldades que resultam da exploração.
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O sector florestal representa 1,5% do PIB nacional e 10% das exportações de mercadorias. Está “cheio de potencialidades”. Falta-lhe, porém, “uma componente imprescindível: a gestão”, aponta João Ferreira do Amaral. Seja a nível macro, político, e face às actividades florestais, seja ao nível individual, da gestão dos terrenos, e da gestão agrupada, para que se possam ultrapassar as dificuldades que resultam da exploração.
O economista interveio num webinar que o Centro Pinus (associação que reúne os principais agentes da fileira do pinho) organizou no dia 23 de Novembro, Dia da Floresta Autóctone, dedicado ao tema “O Papel da Floresta na Recuperação Económica Nacional”, com o objectivo abordar o papel da floresta como eixo estratégico e potencial na economia nacional. E não teve dúvidas em afirmar que “é necessário incentivar a gestão florestal e torná-la atractiva”, através do “investimento e de incentivos”.
“Há, felizmente, explorações florestais muito bem geridas” em Portugal, mas “há falta de gestão”, quer “ao nível da política económica, quer do ponto de vista de gestão individual” e da “gestão agrupada, que é importante para ultrapassar a reduzida dimensão das explorações”.
O professor universitário sublinhou que grande parte das exportações, “cerca de 70%, é valor acrescentado que fica no país”. Mas também disse que, além da vertente económica, este é um sector “fundamental para o ambiente, com importância para a economia circular e ainda é um sector cujos rendimentos na sua maior parte são ligados a actividades no interior”. Ou seja, “contribui para resolver o desequilíbrio entre as chamadas áreas metropolitanas e o interior do país”.
Defende, pois, “muitas mudanças, que melhorem o sector florestal” de forma a potenciá-lo “ao máximo na nossa economia”. É que, diz, “se a economia se tornar circular, o sector florestal no futuro terá um impacto cada vez maior”.
“Falha grave: floresta de monocultura”, diz a Zero
O webinar “O Papel da Floresta na Recuperação Económica Nacional” contou ainda com Francisco Ferreira, docente universitário e presidente da associação ambientalista Zero. Abordou a vertente ambiental e a gestão sustentável dos recursos florestais.
Destacando o facto de a floresta representar um terço do território nacional, Francisco Ferreira apontou aquela que considera ser “uma falha grave na gestão florestal: a existência de uma floresta de monocultura em várias extensões”.
E avisou que “o modelo da floresta está a distanciar-se cada vez mais daquele que deveria ser”, mostrando “preocupação” quanto à “utilização de biomassa florestal na produção de energia sem que seja salvaguardada a sustentabilidade do recurso ou a neutralidade carbónica da actividade”.
O presidente da Zero aproveitou a participação no seminário dedicado à floresta autóctone para defender “uma floresta diversificada, privilegiando as espécies autóctones, como o pinheiro-bravo, em consonância com outras espécies”. E chamou a atenção para o valor dos serviços prestados pelos ecossistemas, referindo “a necessidade de uma economia verde e circular, que não limita a associação do valor económico à extracção da madeira, mas que incorpora outros elementos”.
Tocou ainda na questão do minifúndio e no “desafio” que a pequena propriedade representa para uma gestão sustentável e integrada. Daí a “necessidade de encontrar modelos que permitam ultrapassar os problemas, através de uma gestão colaborativa”.
Floresta: “Um escape à pandemia”
José Pamplona, escoteiro chefe nacional adjunto da Associação dos Escoteiros de Portugal, abordou o papel da floresta na recuperação social e emocional.
“Para conseguirmos, todos juntos, ajudar a recuperar a economia, é preciso trabalhar a nossa mente”, sublinha. Com a pandemia, diz, “acaba por ser desafiante sair de casa, pois tem existido receio, ansiedade, stress em todos os momentos do nosso dia-a-dia, ao longo dos últimos meses”. E a floresta acaba por constituir “um escape muito importante, pois proporciona momentos familiares e individuais mais tranquilos, comparativamente com os centros urbanos”.
Esse “escape” é necessário em “todas a idades”, mas José Pamplona focou-se nos mais jovens. E destacou a importância da floresta como forma de os “jovens, que passam as semanas inteiras ligados ao computador”, ali encontrarem uma forma de “espairecer e realizar actividades de lazer com amigos e familiares”.
José Pamplona está convicto de que, “na floresta, podemos estar de uma forma mais holística, sendo um local com muita harmonia, preocupação ambiental e que permite a criação de laços sociais”. Considera, pois, “imprescindível aproveitar a floresta como um espaço de fortalecimento das famílias e do estado emocional das pessoas enquanto indivíduos”, desde logo porque, “para a construção de uma economia forte, é imprescindível os indivíduos estarem bem emocionalmente”.