Jerónimo não está “a prazo” e avisa que alternativa política “não será possível sem o PCP”

Num discurso de 13 minutos, Jerónimo de Sousa deitou por terra a ideia de que foi reeleito secretário-geral dos comunistas apenas para cumprir parte do mandato.

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Jerónimo de Sousa a discursar no encerramento do congresso LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

“Não estamos aqui a prazo datado nem em período experimental, mas sim disponíveis para fazer o que temos de fazer, o que o congresso decidiu.” Foi com esta frase lapidar e improvisada no meio do discurso que trazia escrito que Jerónimo de Sousa pôs de lado as teorias que o colocam como secretário-geral comunista a prazo, que assumiria a liderança neste congresso para ser substituído dentro de um ou dois anos por uma figura mais nova. Um trocadilho com o Código do Trabalho revisto pelo Governo PS — e que o PCP tanto contesta  que prevê que o período experimental para cargos de direcção seja de 240 dias.

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“Não estamos aqui a prazo datado nem em período experimental, mas sim disponíveis para fazer o que temos de fazer, o que o congresso decidiu.” Foi com esta frase lapidar e improvisada no meio do discurso que trazia escrito que Jerónimo de Sousa pôs de lado as teorias que o colocam como secretário-geral comunista a prazo, que assumiria a liderança neste congresso para ser substituído dentro de um ou dois anos por uma figura mais nova. Um trocadilho com o Código do Trabalho revisto pelo Governo PS — e que o PCP tanto contesta  que prevê que o período experimental para cargos de direcção seja de 240 dias.

No curto discurso de 13 minutos com que encerrou o XXI congresso, o novo (de novo) secretário-geral do PCP passou tanto tempo a justificar a realização da reunião magna comunista como a olhar para a situação política nacional. Porém, no que disse sobre o futuro político nacional, foi directo ao assunto: “A alternativa política não é possível só com o PCP, mas também não será possível sem o PCP.” Um recado dirigido ao PS, que precisou dos comunistas para o orçamento de 2021, e que, se o Bloco se mantiver afastado, há-de voltar a precisar no próximo ano.

Para se concretizar, essa política “alternativa, patriótica e de esquerda” precisa da “convergência dos democratas e patriotas, da luta dos trabalhadores e do povo, e do reforço do partido”. Jerónimo insistiu que o PCP é um partido “necessário e indispensável para construir um futuro de progresso e desenvolvimento”. Porque “a vida já o mostrou e continua a mostrar que com o PCP a vida avança”. No pensamento de Jerónimo estão os avanços de que não se cansou de falar durante os quatro anos da legislatura anterior, no contexto da “geringonça”, entre reposição de rendimentos e direitos. Mas também (e sobretudo) os que conseguiu no orçamento para o próximo ano depois da desistência do Bloco, ponto essencial para que os comunistas ocupassem um lugar central no processo.

Isso mesmo vincara Jerónimo pouco antes. Primeiro fez o diagnóstico: apontou a “deteriorada situação social” resultado dos baixos salários, precariedade e alterações da “pior legislação laboral” agravada agora pela pandemia e defendeu que esta realidade “não se combate com estados de emergência excessivos e inconsequentes”.

Depois a receita: “Combate-se com medidas de emergência social” que assegurem que ninguém fica para trás. E com medidas estruturais que impeçam a destruição de sectores económicos, assegurem o emprego e a manutenção de micro, pequenas e médias empresas, relancem a economia e melhorem as condições de vida dos portugueses.

E apontou a sua concretização, salientando que se deveu ao PCP, como aconteceu “no quadro da discussão do Orçamento do Estado”, ainda que, mesmo assim, o caminho tenha ficado “curto” porque o PS “não se liberta das suas escolhas e opções”. “Mas, enquanto alguns desistiam [um recado para o Bloco], se há avanços em medidas dirigidas aos trabalhadores, reformados, pequenas empresas, cultura, SNS e seus profissionais, todas têm a marca, a contribuição, a proposta do PCP.”

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O Bloco não será essa alternativa patriótica e de esquerda porque, como os comunistas afirmam na resolução política aprovada por unanimidade no congresso, é um partido com “inconsistências ideológicas”, um carácter “social-democratizante” com uma postura federalista, submissa ao ambiente ideológico dominante e alinhado “com objectivos do imperialismo e do revisionismo histórico em curso”.

O líder comunista reiterou a defesa do congresso vincando que o partido tem como “tese irrefutável que os direitos defendem-se exercendo-se” – sobretudo depois de os direitos democráticos terem sido proibidos durante os 48 anos da ditadura fascista. Culpou as “forças reaccionárias” e alguns sectores da comunicação social que, recorrendo ao “medo”, quiseram impedir as celebrações do 25 de Abril e 1 de Maio, a Festa do Avante! e o congresso. Este último, porém, confirmou que “não existe nenhuma dificuldade intransponível para garantir a segurança sanitária e o exercício de direitos e liberdades”.

O congresso elegeu novos órgãos, reafirmou a “natureza e identidade de um Partido Comunista marxista-leninista portador de um ideal e projecto comunistas”, a sua “opção de partido de classe” – dos operários que convergem com os intelectuais, os pequenos agricultores e produtores, os micro, pequenos e médios empresários, especificou – e que não desiste. “Fustigam-nos no rosto, não conseguem fustigar-nos pelas costas.”

O próximo combate, salientou Jerónimo, é o das presidenciais. “Vamos precisar de muita força, de muita confiança”, admitiu.